terça-feira, 2 de maio de 2023

 

NO CORO DA IGREJA

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de maio de 2003

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.877


 

Como ainda não era da nossa total atenção particular, não soubemos responder a algumas perguntas sobre piano, órgão e mais indagações sobre o tema. Mas que era bonito, era. O coro da Igreja Matriz de Senhora Santana, funcionava no primeiro pavimento acima da porta principal de entrada, cujo acesso era uma escadaria de degraus de cimento. Coro é a própria arquitetura, local físico de realizações humanas. Coro também é a mesma coisa de coral, grupo de pessoas que cantam sobre a regência de um maestro. No coro da Igreja Matriz de Senhora Santana, cantava homens e mulheres durante a missa ou nos ensaios. Eram vários participantes, mas, lembramos apenas de dona Maroquita Bulhões, irmã do padre Bulhões, Marinalva Cirilo, irmão do padre Cirilo, o sacristão Jaime e o deficiente visual Liô ou Leô que, se não estamos enganados era chamado para consertar (afinar) o instrumento sempre que precisava.

Mas a questão é se o instrumento rodeado pelo coral era um piano ou um órgão. Para nós os leigos era um piano, mas para os entendidos, era um órgão. A diferença é que o órgão não tem cordas, funciona à base de ar comprimido. Também não sabemos de onde veio o órgão do coral, se de Belo Monte, Penedo ou de outro lugar. Também não temos conhecimento do seu destino final e a quem realmente pertencia. Sabemos, entretanto, que dona Maroquita, apesar da idade, ainda se prontificava ao ensino, em casa, dos que queriam aprender a tocar. A impressão, entretanto, era de paz e êxtase, quando o coral funcionava durante as missas da Matriz.

Terras de músicos, cantores e cantoras, todas as cidades do Baixo São Francisco, influenciaram a música no rincão alagoano. De Penedo mesmo, já foi registrado a vinda de cantora famosa e coral para as solenidades religiosas santanenses do mês de julho, no tempo do padre Bulhões. E do coro da Igreja Matriz de Senhora Santana fica apenas a saudade dos que ainda estão vivos e participaram do coral magnífico de Jaiminho, de Marinalva, de rapazes e moças que animavam as missas em Latim e em Português, depois. Enquanto isso, o grande sineiro e zelador da igreja, quilombola “Major”, subia e descia por ali indo e vindo da torre dos sinos. Tão educado, tão bom, tão discreto e invisível. Deus abençoe e guarde aos que estão nas liturgias de outra dimensão.

INTERIOR RECENTE DA MATRIZ DE SENHORA SANTANA (FOTO: B. CHAGAS).

 


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segunda-feira, 1 de maio de 2023

 

DIA DA CAATINGA

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.876


 

Sim que é melhor lembrar do nosso bioma de que esquecê-lo totalmente. Para isso tem esse tal Dia da Caatinga, quando o nosso bioma está quase totalmente devastado. Viajar pela caatinga é contemplar quase totalmente paisagens abertas, pastagens, roças, terras degradadas e raramente pedaços de matas nativas, principalmente em regiões planas. Podemos dizer que essa devastação dos nossos vegetais primeiros, também fez desaparecer inúmeras espécies animais que hoje só se vê em fotografias. Vivemos sempre correndo atrás, característica do brasileiro, pois bem fala o ditado do povo: “brasileiro só se previne depois de roubado”. Portanto, dia da Caatinga é um reconhecimento tardio. (Estou mentindo Terta?Chico Anysio).

E se o despertar de particulares e autoridades pude alavancar a salvação do bioma, seja bem vindo esse despertar. Remediar sempre sai mais caro do que prevenir, mas fazer o quê? Não adianta “chorar o leite derramado”. Recuperar terras degradas, reflorestar com árvores nativas, conservar mananciais e muitas outras coisas que o homem já sabe fazer, poderá sim salvar os 50% de caatinga que ainda resta. Repovoar de vegetais é bem mais fácil do que se imagina, porém, fazer retornar espécies extintas ou desaparecidas, da área, é muito mais difícil para os mortais estudiosos. Quem vai no devolver a onça-pintada, a onça-de-bode, o veado galheiro, o lobo guará, a ema, o gato-do-mato, o tamanduá... Entre tantos outros animais vergonhosamente desaparecidos?

Além dos estados nordestinos, o norte de Minas Gerais também faz parte do semiárido. A região é muito grande e não se tem notícias do bioma sem as consequências de intenso desmatamento. Inclusive, houve época em que um banco do próprio governo financiava o desmatamento para plantio, o que nem sempre ocorria, pois o cidadão desviava o dinheiro para outras funções. Temos um exemplo claro do serrote do Cruzeiro em Santana do Ipanema. De uma vegetação nativa e com árvores de porte onde a cigarra cantava sempre, passou a um morro pelado que levou 35 anos para nascer nova vegetação e de capoeira, sem árvore nenhuma. Nunca viu um pé de eucalipto da proposta apresentada ao banco. O crime ambiental aconteceu na década de 60, seguido de outros semelhantes no bioma caatinga.

O que fazer? Dizem que enquanto há vida, há esperança, embora... Embora...

ASPECTO DE CAATINGA (FOTO: B. CHAGAS)

 


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