quarta-feira, 24 de maio de 2023

 

CARREIROS, CARROS E PROCISSÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de maio de 2023

Escritor Símbolo do sertão Alagoano

Crônica: 2891

 


Era ainda o auge dos carros de boi.  Na margem direita do rio Ipanema, só havia cercados de criação e de roças, casas pobres e longe uma das outras entre caminhos e estradas poeirentas e carroçáveis. Muitas vezes fui comprar o leite à casa do senhor Antônio Alcântara, compadre de meu pai e que morava onde hoje é o supermercado Nobre, vizinho a Ponte do Padre. Seu Antônio todos os dias atravessava o Ipanema para pegar o leite de venda no seu criatório da margem direita.  Perto da sua propriedade ou nela mesma, nas proximidades do Poço dos Homens, morava um carreiro gente boa, chamado Cícero. E meu pai mandou fazer um carro de boi muito bem feito, tamanho máximo e, com quatro bois enormes, vermelhos e bem nutridos, entregando-os ao Seu Cícero para carrear.

Santana ainda tinha um título de “Terra dos Carros de Boi”, carros esses que lotavam o poço do Juá, no rio Ipanema, aguardando mercadorias da feira do sábado para o destino da zona rural.  Mais progresso chegou e o carro de boi ficou obsoleto. Nos últimos tempos desapareceu da cidade, mas continua firme e forte na área rural que tanto precisa dos seus serviços no dia a dia. Mas, como o destino tece à sua maneira, a Paróquia de Senhora Santana incorporou uma procissão de carreiros e seus carros de madeira na abertura das festas do mês de julho.

A procissão aludida já chegou a desfilar com 1.800 carros de boi, contados pelos participantes. Logo cedo no dia anterior à procissão, os carreiros vão chegando e acampam no “Parque de Exposição Izaías Vieira Rego”, a 2 km da cidade, onde se preparam para o grande dia. Os carros desfilam rumo a Santana, pela AL-130, indo a imagem de Senhora Santana no carro de boi da frente, onde também vai o pároco da Matriz. Após a procissão é realizada a bênção que geralmente acontece no Largo Cônego Bulhões.   E no início dessa friezinha que está acontecendo no mês de maio, já se ouve carreiros providenciando coisas para a grande felicidade de escoltar a santa até a casa sagrada Matriz de Senhora Santana.

PADRE JACIEL, PARÓQUIA D SENHORA SANTANA (FOTO: B.CHAGAS/ARQUIVO)

 

 


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terça-feira, 23 de maio de 2023

 

O CACHIMBO DA SERRA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2890



 

Terça-feira (23), mais um dia nublado frio e chuvoso. A chuva fina, insistente e molhadeira, como se diz por aqui no sertão de Santana do Ipanema. E a temperatura de 24 graus é bastante para o escritor buscar agasalho e abrigo. Sou filho da caatinga e bicho de 26 a 27 graus. Mesmo com essa particularidade, vejo a rua completamente deserta e seres semelhantes devem estar na preferência da cama, do sofá, sob a égide do cafezinho quente ou da pipoca estaladeira. E apesar do cinza esbranquiçado que cobre a cidade, posso assegurar que é um belo dia para um passeio de carro e apreciação do tempo. Vai continuar chovendo? Vai parar? Uma foto do serrote Gonçalinho, que circunda a cidade, mostra o monte cachimbando. E a serra cachimbando, por aqui é estar parcialmente coberta de neblina quando o tempo estia; ou no pé ou no pico do monte. Se a neblina é na base o tempo vai para o estio, se a neblina é no pico, mais chuvas chegará.

Como já disse antes, o nosso tempo chuvoso é de outono/inverno. E como ainda estamos no outono, as chuvadas vão iniciando suas jornadas anuais. Como não temos sites especializados, nem sabemos ainda se o homem do campo já iniciou o seu plantio. Mas o certo é que todos sonham com milho assado, pamonha e canjica do período junino. Ainda não se fala em São João por essas bandas... Nem forró, nem fogueira, nem quadrilhas, mas é a própria Natureza que vai pintando o cenário de festa e fartura para o próximo mês. Milho assado, milho cozinhado, bolo de milho, povoam mentes que antecipam o São João.

E o verde da periferia, das margens do rio, da estrada, da colina e dos elevados procura enquadra-se no verde da bandeira nacional. O perfume do mato molhado é uma saudação aos riachinhos que alegram o cenário e oferecem beijos carinhosos aos pés dos caminhantes. O orvalho nas folhas molha os braços de quem logo cedo ama ao tempo e rompe a trilha. E se tudo na vida tem a sua hora, por que pensar em seca, em acauã, em sacrifícios se os céus estão derramando bênçãos sobre a terra e sobre as esperanças do seu coração?

Ainda existe o arco-íris.

O Sol chegou tímido. Abra seu coração e deixe-o entrar.

PERIFERIA OESTE DA CIDADE (FOTO: B. CHAGAS).

 


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