domingo, 28 de maio de 2023

 

DEGLUTINDO AS ZONAS

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.893


 

Estive no local dos antigos sítios rurais Cipó e Curral do Meio (I). E este sítio é classificado como Curral do Meio (I), porque existe outro Curral do Meio mais afastado da cidade, o que naturalmente ficaria com o título de Curral do Meio (II). O antigo sítio Cipó, era paralelo a AL-130, saída da cidade para Olho d’Água das Flores. Início da estrada que leva até o sítio Sementeira, propriedade do governo transformada em reserva. O sítio Curral do Meio (I), era imediatamente ligado ao anterior. Acontece que a cidade se expandiu também para o leste e engoliu as terras do lugar erguendo residências e casas comerciais. Cipó passou a fazer parte do perímetro urbano. Perdeu o nome que desaparece na mente das pessoas.

Brevemente o seu vizinho Curral do Meio (I), também seguirá o mesmo destino do Cipó e, aquelas árvores nativas e frondosas que ali existem desaparecerão com ele. Digo mais, após o englobamento do Curral do Meio (I), as imediações da Reserva Sementeira, também será zona urbana; inclusive já está muito habitada e com casas bem modernas.  Nesse momento não nos cabe avaliar vantagens e desvantagens do fenômeno urbano. Apenas estamos registrando coisas da história e da geografia da cidade que ninguém registra. Perdem-se as origens de sítios e de bairros. No outro lado da cidade, ainda não aconteceu o avanço na tomada do sítio Tocaias, por causa da Reserva Tocaia e sua vizinha fazenda Coqueiros, mas não sabemos até quando durará a resistência rural em um bairro (Floresta) que não para de se expandir.

Vizinho ao antigo Cipó, por um lado, formou-se com rapidez o Bairro Santo Antônio, nas faldas do serrote do Gonçalinho, do outro, o bairro do antigo Loteamento Colorado. Antes e colado ao Cipó: posto de gasolina, restaurante, bares, churrascaria, curso superior...  Estabelecimentos estes que atestam a expansão da cidade ali na saída para Olho d’Água das Flores, com as benesses da AL-130. Isso também prova que basta haver um loteamento em qualquer tipo de terreno que o estiramento é certo. Porém, empreendimentos isolados como posto de gasolina, churrascaria, pousada, posto de saúde, escola... Atraem residências e negócios multiplicadores que ajudam a povoar áreas, antes impensáveis e desvalorizadas.

TELHADOS DO BAIRRO SANTO ANTÔNIO, VISTO DA AL-130. NOTE SUA LOCALIZAÇÃO NAS FALDAS DO SERROTE (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES, ARQUIVO B.CHAGAS)..

 

 


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quinta-feira, 25 de maio de 2023

 

ARRANCA-RABO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de maio de 2023

Escritor Símbolo do sertão Alagoano

Crônica: 2. 892



 

O “sobrado do meio da rua”, em Santana do Ipanema, tinha um salão grande e livre no 10 andar. Ali funcionou teatro, cinema, Fórum, escola e muito mais. O sobrado foi demolido juntamente com a grande construção vizinha “prédio do meio da rua”, na gestão do prefeito Ulisses Silva que os substituiu por duas praças modernas. Era um tempo em que havia apenas as diversões tradicionais da terra, nada ainda de televisão, rádio era coisa rara. Ficando o lazer nos periódicos bailes do Tênis Club, dos banhos no rio Ipanema, nos jogos de futebol, etc. Então, era garantido também os embates no Fórum que funcionou no “sobrado do meio da rua”.  Quando o caso tinha grande repercussão, o prédio ficava lotado, com pessoas até na escadaria de acesso.

Os maiores debates eram entre o Dr.  Aderval Tenório – considerado um dos dois melhores advogados do Nordeste – e o promotor Dr. Fernandes. Dr. Aderval, sertanejo, alto, vozeirão, intelectual e serpente no Direito. Dr. Fernandes, de fora, bigodinho, educado, morava na avenida principal da cidade vizinho ao cine-Glória. Quando os dois se engalfiavam num debate no Fórum, era de estremecer a base do prédio, pois o dr. Fernandes, era o único promotor à altura do dr. Aderval, daí o duelo de gigantes. E aquela diversão forçada para á época, também buscava justiça em cada caso que arranhava a sociedade. Muitos casos escabrosos levavam multidões para o “sobrado do meio da rua”, principalmente, se fosse um duelo entre os famosos Fernandes e Aderval.

Quando o prefeito Ulisses Silva, por vontade própria, resolveu demolir os dois prédios mais centralizados da cidade, não demorou muito entre a ideia e as ações. Demoliu primeiro o “prédio do meio da rua”, enorme, quadrangular e repleto de casas comerciais e   prestadoras de serviços nas suas quatro faces. Em seu lugar construiu uma praça. Chegou a vez do sobrado que seguiu o mesmo destino do primeiro. Houve aprovação e muita comoção na cidade.  O argumento era que precisava mudar o aspecto central da urbe. Apenas isso. O surgimento de muitas novidades que foram preenchendo o núcleo, foi aos poucos lambendo as feridas do ato brutal que demoliu a alma de vila. O Fórum foi parar onde hoje é a Câmara de Vereadores, para a frente do cine-Gloria, até ser erguido na BR-316. Houve muito embates, mas nunca um duelo igual ao do dr. Aderval e o dr. Fernandes. Um verdadeiro arranca-rabo.

“SOBRADO DO MEIO DA RUA”, SENDO DEMOLIDO. PRAÇA NO LUGAR DO “PRÉDIO DO MEIO DA RUA” (FOTO: RARÍSSIMA E DE DOMÍNIO PÚBLICO/ Livro 230).

 


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