terça-feira, 30 de maio de 2023

 

COMO REGISTRAR?

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.895


 

Não havia negócio de celular. As máquinas de fotografias eram raras e marcas “Kodak”. E na década de 60 tínhamos somente na cidade os fotógrafos fixos profissionais, “Seu Antônio”, que atuava no início da calçada alta da Ponte do Padre e “Seu Zezinho”, que residia e trabalhava também em casa, na Rua Nova. Eram os “Fotos Sport” e o “Foto Fiel”.  Afora esses dois profissionais que depois se mudaram para a Avenida Coronel Lucena, a mais importante da urbe, só havia os lambe-lambes, que ficavam na porta da Matriz de Senhora Santana. A rotina de todos era praticamente a mesma, embora os lambe-lambes atuassem mais em dia de feira, aos sábados. A   rotina era: fotos de casamento, batizado e 3/4 para documentos. Era uma raridade convite para uma inauguração, uma praça, uma outra coisa de grande magnitude. Logo, material fotográfico era raro e caro.  E assim muitas cenas e coisas importantes deixaram de ser registradas através da fotografia.

Quando o padre Delorizano botou para correr os fotógrafos tipo lambe-lambe da porta da Igreja, eles (eram mais ou menos meia dúzia), não se adaptaram na feira em outro lugar: migraram, deixaram a profissão, desapareceram. Não havia mais ninguém para fotografar no interior da Matriz, casamentos, batizados, 10 Comunhão... O ato do padre, certo ou errado, representou a morte dessa etapa da fotografia em Santana do Ipanema. Dos dois fotógrafos fixos, um foi embora e outro morreu. E quantas e quantas coisas extraordinárias da evolução da terra deixaram de ser fotografadas para as futuras gerações! Também nunca vimos nenhum artista pintando a óleo cenas do cotidiano santanense. Escritor era coisa rara e se havia morava fora.

Falar nisso, recebi mensagem de pesquisador de uma cidade pernambucana perguntando se eu tinha foto do padre Francisco Correia, um dos fundadores de Santana do Ipanema e que foi homenageado na escola mais tradicional da cidade, antigo Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Nada de foto, nada de retrato a óleo o que era mais evidente no tempo do padre. Portanto, vamo-nos contentando com cerca de uma dúzia ou um pouco mais, de fotografia antigas da nossa terra e que são raras e domínio público. E quando falo antigas, são da época de 1920 a 1950, mais ou menos em torno disso.

FOTÓGRAFO LAMBE-LAMBE (FOTO: GUILHERME MARANHÃO)

 

 


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segunda-feira, 29 de maio de 2023

 

GEO DAS VEIAS E CAPILARES

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.894

 Para meu ex-professor de Geografia José Pinto de Araújo



 

Uma bacia hidrográfica é formada por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. Graças a esse sistema natural o nordestino resistiu durante séculos aos efeitos das estiagens e estiagens prolongadas, denominadas “secas”. Os caminhos desses cursos d’água, maiores, menores e minúsculos, mitigaram a sede do povo sertanejo com água corrente, água empoçada e suas reservas freáticas em processos de cacimbas, cacimbões e poços artesianos. Na mesma estrutura, bebia os diversos tipos de gado que alimentavam o homem. No período de estiagem formavam-se as várzeas, chamadas no sertão de vazantes ou baixios que são partes muito baixas do relevo local, banhadas imediatamente pelos riachos, rios e riachinhos.

Essas partes baixas, são fertilizadas por esses cursos d’água, que fazem nascer o pasto que permitem o sustento e a engorda de ovinos, caprinos, bovinos e aves que procuram bichinhos, além de ser lugar de refrigério. E se formos particularizar os sertões nordestinos, focaremos o município de Santana do Ipanema. A bacia do rio Ipanema recebe diretamente seus afluentes em todas as regiões do município e indiretamente acolhem todos seus subafluentes e todos os outros filhotes de riachos. A título de ilustrações vejam nomes populares dos que mais aparecem. Do Oeste para Leste: Mocambo, Salobinho, Tigre, Camoxinga Salgadinho, João Gomes, Bode e Gravatá. 

O Mocambo é interestadual e escorre no sítio do mesmo nome, vindo do Poço das Trincheiras. O Salobinho vem das imediações do sítio Baixa do Tamanduá, banha o sítio Salobinho e tem sua foz no bairro Barragem. O riacho Tigre, é montanhoso do Maciço de Santana do Ipanema, despeja no riacho Camoxinga e este cruza a cidade, divide o bairro topônimo, do Comércio e despeja sobre a Ponte do Padre, no Poço do Juá O riacho Salgadinho nasce na Reserva Tocaia, divide os bairros Domingos Acácio e o antigo Floresta e tem sua foz também no poço do Juá. O João Gomes vem do município santanense e do município de Carneiros contorna a cidade e tem sua foz no sítio Barra do João Gomes. O bode vem das imediações da serra da Camonga (que faz parte do maciço de Santana) e deságua no Bairro Bebedouro. E por fim, o riacho Gravatá vem de Pernambuco e banha vários sítios entre a serra do Gugi e a serra da Lagoa, tendo a foz no Ipanema. Cada um tem sua geografia própria e um histórico de bravura e ocupação humana.

São veias, artérias e capilares da bacia do Ipanema.

TRECHO DO RIACHO TIGRE (FOTO: BIANCA CHAGAS).


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