quarta-feira, 31 de maio de 2023

 

OS SE DO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de junho de 2023

Escritor símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.896


 

Se o galo cantar fora de hora, é moça fugindo de casa. Se a sombra do sol estiver abaixo da barriga do cavalo, é meio-dia. Se o jumento ornejar, é hora redonda. Se a acauã cantar, vem tempo seco. Se o Vem-Vem cantar perto de casa, vai chegar à pessoa do seu pensamento. Se a ema gemer e a seriema cantar, coisa ruim vai acontecer. Se a coruja rasga-mortalha passar rasgando, vai morrer pessoa conhecida. Se a rãzinha rapa-rapa cantar rapando, vai chover em 24 horas. Se o João-de-barro fizer a porta da casa contrária ao vento, vai chegar muita chuva. Se a garrincha fizer ninho na sua biqueira, é sinal de casa abençoada.  Se a neblina estiver nas baixadas, o tempo será seco. Se o boi estiver cavando o chão, a chuva está próxima. Se formigas se arrancham nas baixadas, vem tempo seco.

Ora, muita gente fala em superstição. Mas se um fato é sempre repetido, como pode ser superstição? Poderiam argumentar: “Quando a ciência comprova o fato não é mais superstição. Beleza! Nesse caso pode se afirmar com mais segurança ainda o acontecimento. Aí se diz: “O povo estava certo”. Mas quando a ciência não estuda o caso e se estuda não sabe dar explicações... Continua o fato sendo superstição, invenção do povo? E onde fica a experimentação popular, a experiencia? Então um milagre acontecido e que a ciência não consegue explicar, é superstição? Os mistérios da Natureza somente são mistérios para os que não conseguem compreender nem estudar esses tais mistérios. Será que Deus só proporcionou sabedoria aos homens da ciência e a mais nenhuma outra pessoa?

E ainda tem os ditados populares que se perdem em quantidade. Muitos trazem uma sentença antecipada. E vários deles tanto foram aproveitados no romance “Curral Novo”, de Adalberon Cavalcanti Lins quanto nos meus: “Ribeira do Panema”, “Defunto Perfumado”. “Deuses de Mandacaru”, “Fazenda Lajeado” e “Papo-Amarelo”, todos do ciclo do cangaço. Vejamos alguns: Parente é carne nos dentes; filhos criados, cuidados dobrados; quando Deus tira os dentes enlarguece a goela; quem dá valor a “cachorro” fica com o rabo na mão; homem que jura, mulher que não jura e cavalo pedrês, desconfiar dos três; Boa romaria faz quem em casa jaz. Formiga quando quer se perder cria asa.

Ainda é pouco para se meditar muito.

SERTÃO, TERRA DA FILOSOFIA POPULAR (FOTO: B. CHAGAS).

 


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terça-feira, 30 de maio de 2023

 

COMO REGISTRAR?

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.895


 

Não havia negócio de celular. As máquinas de fotografias eram raras e marcas “Kodak”. E na década de 60 tínhamos somente na cidade os fotógrafos fixos profissionais, “Seu Antônio”, que atuava no início da calçada alta da Ponte do Padre e “Seu Zezinho”, que residia e trabalhava também em casa, na Rua Nova. Eram os “Fotos Sport” e o “Foto Fiel”.  Afora esses dois profissionais que depois se mudaram para a Avenida Coronel Lucena, a mais importante da urbe, só havia os lambe-lambes, que ficavam na porta da Matriz de Senhora Santana. A rotina de todos era praticamente a mesma, embora os lambe-lambes atuassem mais em dia de feira, aos sábados. A   rotina era: fotos de casamento, batizado e 3/4 para documentos. Era uma raridade convite para uma inauguração, uma praça, uma outra coisa de grande magnitude. Logo, material fotográfico era raro e caro.  E assim muitas cenas e coisas importantes deixaram de ser registradas através da fotografia.

Quando o padre Delorizano botou para correr os fotógrafos tipo lambe-lambe da porta da Igreja, eles (eram mais ou menos meia dúzia), não se adaptaram na feira em outro lugar: migraram, deixaram a profissão, desapareceram. Não havia mais ninguém para fotografar no interior da Matriz, casamentos, batizados, 10 Comunhão... O ato do padre, certo ou errado, representou a morte dessa etapa da fotografia em Santana do Ipanema. Dos dois fotógrafos fixos, um foi embora e outro morreu. E quantas e quantas coisas extraordinárias da evolução da terra deixaram de ser fotografadas para as futuras gerações! Também nunca vimos nenhum artista pintando a óleo cenas do cotidiano santanense. Escritor era coisa rara e se havia morava fora.

Falar nisso, recebi mensagem de pesquisador de uma cidade pernambucana perguntando se eu tinha foto do padre Francisco Correia, um dos fundadores de Santana do Ipanema e que foi homenageado na escola mais tradicional da cidade, antigo Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Nada de foto, nada de retrato a óleo o que era mais evidente no tempo do padre. Portanto, vamo-nos contentando com cerca de uma dúzia ou um pouco mais, de fotografia antigas da nossa terra e que são raras e domínio público. E quando falo antigas, são da época de 1920 a 1950, mais ou menos em torno disso.

FOTÓGRAFO LAMBE-LAMBE (FOTO: GUILHERME MARANHÃO)

 

 


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