quinta-feira, 8 de junho de 2023

 

OLHA O MOCÓ, OLHA O MOCÓ!

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de junho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.902

 



Com a inflação em queda, faz lembrar o tempo de seca no Sertão alagoano no final do século XX.  A fome estava uma coisa série no campo e nas periferias das cidades. Mas dizem que “quando Deus tira os dentes, aumenta a goela”, chegou da providência Divina, uma grande praga de preás nos campos que invadiam as grandes plantações de palma forrageira. Muitas famílias, passaram a viver do consumo de preá e a renda da sua venda. Nos mercados das cidades sertanejas surgiram montes desses roedores fazendo com que a pobreza se fartasse dessa proteína. Em Pernambuco os agricultores colocavam veneno para acabar a praga, em Alagoas, o preá matava a fome do povo. Entretanto queremos falar de bicho parecido chamado mocó.

O mocó (Kerodon rupestris) é um roedor que mede até 40 centímetros e que pode chegar a um quilo. Gosta de viver em comunidade, mora e passeia em pedregulhos de porte, aceiros e túneis de macambiras. Na Natureza pode viver entre 6 e 8 anos, sujeito a todos os predadores, inclusive, ao homem. É encontrado em todo o Nordeste, principalmente na caatinga até o norte de Minas Gerais. O mocó é um herbívoro e aprecia alimentar-se de casca de árvores mofumbo, faveleira e parreira brava, que se estiverem faltando faz o mocó procurar gramíneas. Gosta de malocas e rachaduras rochosas, onde se sentem mais seguros, mas estão sujeitos à onça, ao gato maracajá, ao gavião, ao carcará e à cobra. Sua pelagem varia de um amarelo-acinzentado ao alaranjado com a parte inferior branca.

Devido ao seu tamanho, é muito caçado pelo homem e alguns acham a sua carne mais saborosa do que a do preá. Este se encontra com frequência, porém o mocó é mais restrito. Podemos dizer que é um animal em extinção. Alguns pequenos proprietários rurais, procuram protegê-lo apenas evitando à caça nos seus imóveis, feito essas comunidades proliferam. Mas, nem todos os fazendeiros possuem essa consciência e os mocós ficam à mercê de caçadores profissionais ou amadores. Abater um bichinho desses, enche de satisfação o dono da espingarda, como se tivesse feito uma ação digna de ganhar troféu. Afinal, o homem é um exterminador voraz da flora e da fauna.

Brevemente mocó só em fotografias.

FOTO: MOCÓ

 

 


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quarta-feira, 7 de junho de 2023

 

PARA QUE MATAR?

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de junho d 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2901

Para o escritor contista Fábio Campos e

Ao amigo Mendes (Blog do Mendes)

 



Na fazenda, levantei-me logo cedo e contemplei a bagaceira no terreiro por trás da casa. Pela terceira vez a onça havia atacado as criações, matado e carregado um carneiro. Várias galinhas morreram no ataque, apavoradas e sem saída. Enchi-me de raiva e resolvi caçar o felino até abatê-lo. Bem armado e ainda em jejum, segui o seu rastro, caatinga adentro. Já fazia mais de três horas em que perdia e redescobria suas pegadas. Pensava tratar-se de uma onça suçuarana, também chamada onça-parda. Depois de muito andar senti que o bicho estava por perto e tentei surpreendê-lo. O plano era chegar pela retaguarda e, sem ser visto atirar no predador. Porém o surpreendido foi eu. Deparei-me com a fera parada, em pé e me observando, a cerca de cinquenta metros de distância.

O animal não era uma suçuarana como eu havia pensado, mas sim uma pintada, inúmeras vezes mais perigosa. Imediatamente apontei a arma para a sua cabeça, sem que onça deixasse de me encarar. Imediatamente senti algo, como se o animal estivesse se comunicando comigo. “comi suas criações porque estava com fome”, não vai me perdoar? A raiva bruta sofreu uma queda imediata. Pensei que talvez fizesse o mesmo na circunstância da fome. Foi tudo muito rápido, a onça não se movia e eu não conseguia atirar. Juntando o pouco de raiva restante e a reflexão relâmpago, atirei para cima. A onça correu e eu resolvia retornar à casa. Antes, porém, da curva da trilha, olhei para trás. A fera me olhava fixamente num tronco baixo de forquilha.

Em casa cheguei com muita fome, tomei o café da manhã. Ainda traumatizado fui modificar o sistema de defesa das minhas criações para que, se o felino retornasse, pegasse apenas o necessário, evitando estragos inúteis. Não, não disse toda verdade à mulher e filhos, eles não entenderiam. Para a vizinhança que tanto me pressionara, falei apenas que havia perdido o rastro da pintada.

Dias depois, ingressei numa ONG de preservação dos animais da caatinga. Aprendi muito e naturalmente galguei à condição de chefe da organização. O episódio me fez também repensar na solidariedade humana, principalmente nas adversidades.

Aprendi com a onça que fome não tem educação, ética e paciência chinesa.

ONÇA PINTADA (FOTO SIOCK)

 


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