RÁDIO CIDADE Clerisvaldo B. Chagas, 9 de novembro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.994 Muita alegria tive em...

 

RÁDIO CIDADE

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de novembro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.994




Muita alegria tive em visitar a Rádio onde eu tinha um programa chamado “Santana, Terra da Gente”. Era um programa informativo com base musical de Luiz Gonzaga. Fui encontra ali o apresentador Ginaldo, ex-colega da rádio que continua como profissional, respeitadíssimo.  Íamos falar sobre o livro que continuo escrevendo “100 Milagres Nordestinos”, atribuídos ao padre Cícero Romão Batista, inéditos. A gentileza do apresentador Ginaldo, fez com que o diálogo ficasse mais fácil entre nós, saindo uma gama de informações para o público ouvinte. A Rádio Cidade progrediu, comprou sede própria e hoje funciona na Rua Joaquim Ferreira, onde fala para Alagoas e para o mundo como diz seu apresentador.

Difícil é sustentar um único tema, em uma entrevista em que o entrevistador quer perguntar e o entrevistado quer responder. Assim, fomos variando do núcleo do tema para a periferia, enriquecendo os nossos conhecimentos e espalhando o aprendizado pelas mais diferentes regiões de boa parte das Alagoas. Ficou acertado no ar, a divulgação das minhas crônicas diárias, na própria “Rádio Cidade”. Crônicas essas que estão próximas ao número simbólico 3.000, distribuídas nos sites “Santana Oxente” e no “Blog do mendesemendes”, Face e em nosso blog. Crônica oral somente há muito na “Rádio Correio do Sertão” quando o apresentador Edilson Costa lia a nossa crônica diariamente com o título “Crônica do Meio-dia”.

Vou ver se vai dar certo, gravar as minhas crônicas diárias com a minha voz e enviá-las para a Rádio Cidade, todos os dias úteis a partir da próxima segunda.        Avisar também que hoje, quinta-feira, termos podcast, no site AlagoasNanet, com o Lucas Campos, iniciando às 20 horas. Esteja esperto. Virei menino, ao ser convidado para sempre aparecer na citada Rádio e falarmos sobre os mais diversos temas, sempre visando tudo que envolve a nossa cidade. Portanto, fica aqui os nossos agradecimentos, meus e de minha esposa, professora Irene Ferreira das Chagas que esteve presente me dando força, como sempre. Outra satisfação foi saber e constatar que a Rádio Cidade, continua no Bairro Camoxinga, aumentou o seu alcance hoje sua sede própria é bem agradável, como pude constatar. Quero sim, voltar mais vezes ao lugar onde me sinto em casa. Era aviso de 10 minutos, passou a ser entrevista de 2 horas e nem sentimos o tempo passar.

PRÉDIO ONDE FUNCIONOU A RÁDIO CIDADE (FOTO B. CHAGAS/LIVRO 230).

  ALÍPIO, JUSTINO E O IPANEMA Clerisvaldo B. Chagas,8 de novembro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2. 993   Na...

 

ALÍPIO, JUSTINO E O IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas,8 de novembro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2. 993



 

Na década de 60, conheci de perto as figuras populares de Alípio e Justino. Acabávamos de sair do auge do Ipanema Atlético Clube, finais dos anos 50. O personagem Alípio, branco, forte, bigode cheio e cabelo escorrido, era nessa época, apenas um bêbado que perambulava pelas ruas, arrastando a perna e procurando lugares para ganhar mais um copo de cachaça. Casado com dona Zefinha engomadeira, possuía dois filhos, Arnaldo e Abelardo. Morava na rua mais pobre de Santana, perto do tão afamado prédio da época chamado prédio da Perfuratriz. Certa feita, no Bar do Maneca, o pobre coitado pediu uma pinga a um cidadão que respondeu só pagaria se ele bebesse o copo cheio. Alípio aceitou e bebeu o copo cheio de cachaça de uma só vez, caiu e se esparramou no chão. E eu, como adolescente, testemunhei a cena de dois loucos.

Justino era um doido barbudo, alto e atlético. Morava defronte onde hoje é a UNEAL, em um caminho que rumava para o açude do Bode. Perambulava pelas ruas de Santana falando só e baixinho. Aperreavam-no e ele ficava possesso. Como estivera internado na capital, os que gostavam de mexer com doidos gritavam para ele o nome Maceió. E eu, nos meus doze anos, tinha muito medo de Justino, podendo me encontrar com ele a qualquer momento, nos corredores solitários da Maniçoba, onde ia sozinho todos os dias buscar o gado a pé, para levá-lo à bebida no rio Ipanema. Ali era passagem diária do maluco.

Ouvia os mais velhos dizerem que Justino e Alípio foram atletas do Ipanema Futebol Clube.  Mas, se foram, não eram da época do auge, pode ter sido de muito antes. Justino enlouquecera e Alípio começara a beber depois de quebrar a perna. Porém, eu nunca entendi porque os dois atletas não tiveram assistência municipal e todos os cuidados com eles para uma vida decente. Por que deixaram ambos os atletas chegarem ao cúmulo da degradação e do escárnio? Eram dois dramas lentos no palco diário das ruas de Santana. Essas páginas fazem parte do livro das amarguras que muitas vezes se tornam invisíveis à chamada sociedade. Justino e Alípio. Heróis santanenses das hurras, das palmas, das homenagens... Na página seguinte, párias, escórias, personagens do submundo.

Dois heróis injustiçados!