quarta-feira, 2 de outubro de 2024

 

MOENDO TRONCHO

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.120

 



Ainda alcancei um tempo em que a polícia, quando pegava um ladrão, pelava sua cabeça, colocava um cartaz no peito do infeliz “Eu sou ladrão”. Amarrava-o com uma corda na cintura e saía de rua em rua desfilando com ele que era obrigado a gritar os mesmos dizeres do cartaz. Era década de 60 e ainda não havia esse negócio de direitos humanos, somente a lei da brutalidade e dos mais fortes. Ora, o que acontecia na Cadeia Velha da Rua Antônio Tavares, só Nosso Senhor Jesus Cristo sabia. E quando a Cadeia Velha foi demolida e a delegacia passou a ser no lugar Aterro, trecho urbano da BR-316, os absurdos persistiam. As torturas eram ouvidas pela vizinhança que não deixava de repassar para as demais pessoas. Quanto ao loca de trabalho para a polícia, significava uma evolução enorme, diante da insalubre e finada Cadeia Velha.

O auge da fama da nova Delegacia de Polícia foi a prisão por uns tempos dos famosos homens do gatilho, Valderedo e Floro Novais, visitados por uma multidão dos seus apreciadores.   Foi destaque quando certa feita prendeu enorme quantidade de maconha e, o povo santanense foi convidado a ver dentro e no pátio externos da delegacia, montes de maconha verde e inúmeros sacos abertos de maconha em ponto de uso.  Além da estúpida quantidade da erva, estavam presas algumas pessoas que faziam parte de plantio e de negócio proibido. Pessoas essas, muito conhecidas e queridas da região. Algumas delas foram levadas à capital e se falava, em tortura braba. Inclusive, alguns desistiram do ramo, desmoralizados após a soltura.

A Cadeia Velha, fundada em 1860, após a sua demolição, o terreno foi transformado em casas comerciais e nenhum marco foi deixado da sua existência. Foi Joalheria de luxo, Banco do Brasil e, atualmente continua sendo casa comercial. Só os mais velhos sabem. Era delegacia, cadeia, necrotério e ponto de venda de escravos. Quanto a delegacia do Aterro, foi recebendo vários títulos e, nós que não entendemos dessas coisas de burocracia de polícia e justiça, vamos apenas registrando os fatos principais e históricos da cidade. Seu prédio imponente, passou a ser um dos principais do trecho urbano da BR 316, e atraiu muitos outros empreendimentos na Pancrácio Rocha e suas imediações.

DLEGACIA DE POLÍCIA COM MAIS DE 50 ANOS DE FUNDAÇÃO. (FOTO; B. CHAGAS/ LIVRO 230).


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segunda-feira, 30 de setembro de 2024

 

CONTANDO PARA OS NOVOS

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.119

 



O “sobrado do meio da rua” ficava a cerca de 50 metros do “prédio do meio da rua”. Espécies de shopping da época, construídos ainda nos tempos de vila. Nos 50 metros que os separava, era realizada parte da feira-livre e onde se realizava as matinês carnavalescas. O primeiro andar era um salão que congregava toda a extensão do prédio. Um vão livre para aluguel. No térreo, no meu tempo, três pontos comerciais. Cada ponto ia de um lado ao outro do prédio. O edifício era retangular. No primeiro andar já havia funcionado muitas coisas, como o primeiro cinema, o primeiro teatro, escolas e fórum. A última atividade ali, antes da demolição, foi o fórum, ainda na época dos advogados Aderval Tenório e João Yoyô Filho. Estamos falando dos anos 60, primeira metade.

No térreo funcionava na primeira cabeça (voltada para o Norte): o ponto comercial “Casa Atrativa”, Armarinhos do senhor Abílio Pereira. No ponto vizinho, a casa “Arquimedes Autopeças”; e na cabeça de baixo (Sul) A “Casa Triunfante”, armarinho de José Constantino e depois, do irmão Manoel Constantino. Essas casas tinham os fundos fechados para o Leste, lado da Praça Manoel Rodrigues da Rocha,

Durante às noites de festejos da padroeira Senhora Santana, os balões eram erguidos na parte dos fundos da casa “A Triunfante”, bem como os divertimentos “onda” e “curre” na extensão dos fundos do sobrado. Entre a cornija e o telhado do primeiro andar, havia um autofalante de comunicação da prefeitura “A Voz do Município”, acima da “Casa Atrativa”.

O “sobrado do meio da rua”, era o mais belo edifício de Santana do Ipanema. Foi demolido logo após a demolição do “prédio do meio da rua. Enquanto o prefeito demolia o primeiro, fazia uma pracinha no lugar do segundo, já demolido. Alegava o homem, que iria modernizar Santana. Após a demolição de ambos os prédios, o prefeito iniciou a troca do calçamento de pedras grandes por paralelepípedos da Avenida Coronel Lucena e todo o Comércio. Em seguida proibiu que carros de boi, circulasse pelo calçamento novo. Foi aí que os carreiros, usaram a criatividade: substituíram a roda de aro de ferro do carro de boi, por rodas de pneu. Esse tipo de transporte passou, então, a fazer parte da paisagem urbana de Santana do Ipanema.

O “SOBRADO DO MEIO DA RUA” COM SUA FACE SUL, VISTO DE LONGE, (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO/LIVRO 230/ACERVO DO AUTOR).


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