quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

 

A FEIRA É DO POVO

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de janeiro de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.174

 



A feira livre de Santana do Ipanema, acontece, principalmente aos sábados. Foi sugestão de um dos seus fundadores e primeiro padre do município, Francisco Correia. No século passado, houve necessidade em ser acrescentado mais um dia de feira-livre e Santana do Ipanema passou a ter duas feiras semanais. A principal, aos sábados e, a complementar às quartas. Nos dias atuais, entretanto, não oficialmente, se encontra feira-livre em Santana todos os dias. E hoje, quarta-feira (22) fomos para uma vistoria informal por ali. O que mais nos chamou a atenção foram aqueles tipos de guloseimas encontradas nas bancas, no passado e que haviam desaparecido por décadas seguidas. E agora você já as encontra de volta, lembrando os diversos lugares de Arapiraca que nunca abandonaram a tradição.

Desde o governo municipal passado que já se falava em mudar a tradicional feira do sábado, do comércio para o Bairro Lagoa do Junco. Houve muito zum-zum-zum, dos comerciantes que prometiam resistir o que seria uma nova ordem. Entretanto, nesta gestão, ainda não se sabe como ficará a feira. Como em todas as coisas, existem as vantagens e as desvantagens de uma possível mudança geográfica. Mas, é bem possível que haja um diálogo mais profundo entre os interessados. Porém, interessante também se o povo em geral fosse ouvido. Enquanto isso, vamos passeando na feira da quarta com os olhos nas novidades, talvez, encontrando o que estávamos procurando encontrar em outras cidades.

Entretanto, vimos as condições deploráveis do Mercado de Cereais, construído ainda no governo Adeildo Nepomuceno. Estar precisando de uma ampla reforma e que não achamos fácil de fazê-la, pois ocupa uma faixa, estreita e cumprida, no Bairro Monumento – para onde a feira se estendeu – e não tem mais terreno pelas laterais para acontecer a reforma. O prédio é feio que só um urubu e, desgastado e imundo mais ainda. Não sabemos se existe algum projeto municipal ou particular para a construção de um novo Mercado de Cereais em outro local e que seja compatível com a arquitetura do bairro mais sofisticado da cidade, mais higiene, eficiência e conforto aos usuários. O prédio pode nada representar para quem é de fora, mas para nós que torcemos pela nossa urbe, hoje representa vergonha, assim com temos também da atual rodoviária em ruínas.

MERCADO DE CEREAIS (B. CHAGAS).


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terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 

O PÃO E FARINHA

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de janeiro de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.173



 

Posso, pessoalmente, dizer como foram importantes para o Sertão alagoano e para o interior de todo o Nordestes na década de 60, o pão e a farinha. É verdade que no Sertão alagoano os dez anos da década falada acima, foram de uma riqueza nunca vista. Todos os dez anos foram de bons invernos, a ponto de o próprio povo, satisfeitíssimo nas ruas, exclamasse espontaneamente: Bem que o padre Cícero falava que o Sertão iria virar mar e o mar virar Sertão. Isso não queria dizer, porém, que não tivesse pobreza. Tinha sim. Muita pobreza. A padaria, sempre a primeira indústria de lugar pequeno, foi importante ao extremo para a classe média, mas também o refrigério da pobreza. O remédio de urgência da fome era o pão nas mais variadas formas: francês, crioulo, doce, carteira, alagoas ou mesmo em outra forma de massa como o bolachão.

Por outro lado, a farinha de mandioca, então, o produto do almoço mais barato da época, foi o grande socorro do pobre fixo e dos inúmeros mendigos que pareciam fazer filas nas ruas sertanejas. E sendo o produto mais acessível, 90% das esmolas nas residências, era farinha de mandioca. Riquíssima em carboidratos, foi sempre usada pelo pedinte misturada com água para pequenos bolos puros para tapear a fome. E se o pão já era usado na Antiguidade como produto básico, continua sendo no Século XXI. E a farinha que vem desde os tempos de nossos avós e bisavós foi o destaque do uso da mandioca das casas de farinha de Sertão e Agreste. Fez parte do prato típico sertanejo: feijão, arroz e farinha.

Ao entrar o ano de 1970, acabou-se o MAR do Sertão. Uma seca feroz tomou conta do semiárido, a fome, apertou geral e novamente a farinha de mandioca e o pão voltaram como os primeiros socorros. É de notar que no final do Século XX, muitas regiões produtoras de mandioca, deixaram de plantar e as novas casas de farinha cerraram suas portas, no Sertão. Entretanto, houve como compensação, movimentos organizados nos Agrestes, por essa industrialização. Em Alagoas é famosa a chamada farinha de Sergipe, branca, torrada e fininha. Mas já existe uma farinha de Arapiraca, fininha, torrada, amarelada e altamente gostosa que vem fazendo um sucesso danado por onde chega.

Nordestino sem farinha! Oxente! Onde já se viu?


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