quarta-feira, 31 de março de 2010

NA VOLTA DO BACALHAU

NA VOLTA DO BACALHAU
(Clerisvaldo B. Chagas. 1.4.2010)
Pela tradição católica, vem à procura do bacalhau durante a Semana Santa, principalmente na sexta-feira, dia da morte de Jesus. É interessante como se forma uma opinião que leva a pessoa para uma prática automaticamente. Durante essa época fala-se tanto em bacalhau como se o peixe galídeo do Atlântico Norte fosse o único não proibido na refeição da sexta. Está certo que tanto o COD GADUS MORHUS (DO ATLÂNTICO NORTE) ou o COD GADUS MACROCEPHALUS (do Pacífico Norte) são deliciosos, mas nem somente vive a sexta-feira santa de bacalhau. Pode-se definir o bacalhau como peixe salgado, seco, nutritivo, saboroso, rico em sais minerais e vitaminas, quase sem colesterol e de fácil digestão. Dizem até que esse valor nutritivo, comparando em um quilo do produto, equivale a 3,2 quilos de que o peixe comum. Comer uma excelente bacalhoada está na moda, em casa, nas residências dos familiares ou mesmo em restaurantes simples ou caros no Brasil inteiro; mas nem sempre foi assim.
Nas décadas de 50 a 70, bacalhau era comida de trabalhador braçal alugado nas roças do Nordeste. Não somente o bacalhau, mas também o charque ou jabá, chamado em outras regiões de carne seca. O fazendeiro organizava grandes tarefas em batalhões (hoje mutirão) de até uma centena de pessoas, homens e mulheres, tentando apressar o trabalho. Colher algodão, limpar o mato e outros empreendimentos agrícolas, quase sempre eram realizados sob cânticos compassados como rituais solenes. A parada para o almoço (chamado boia) acontecia quase sempre sob árvore frondosa onde o bacalhau ou o charque não faltavam nos caldeirões pretos de fumaça. Entretanto, o patrão mesmo não se alimentava regularmente desses dois produtos, pois diziam ser comida de negro, “cassaco de rodagem” ou trabalhador (de roça).
Existem outros significados para a palavra bacalhau: mulher extremamente magra, comida muito salgada ou mesmo azorrague com que se castigava o escravo.
Na Santana do Ipanema da década de 50, lembramos de bacalhau à venda somente no armazém de secos e molhados do senhor Marinho Radrigues, situado no “prédio do meio da rua”, defronte à sapataria do comerciante Marinheiro, proprietário da “Casa Ideal”. O produto, juntamente com o jabá, ficava exposto no balcão aguçando o desejo do freguês, pela aparência de qualidade. Muitas unhas rasgavam as amostras que iam imediatamente às bocas ávidas no vai-e-vem de Seu Marinho. Somente no final do século XX e início do século XXI, foi que essas duas mercadorias, pelo menos no interior nordestino, começaram a fazer parte da classe média e, depois, de qualquer uma. As antigas comidas de escravos e cassacos estão presentes agora em todos os lugares. Enquanto o charque é o principal sabor da feijoada, o bacalhau é destaque somente durante a Semana Santa, quando é procurado e consumido em larga escala. Contudo, seu preço proibitivo, vai tangendo o consumidor para fora da tradição com diversas alternativas. De qualquer forma é melhor atender aos apelos das vísceras pelo produto de que viver gemendo fustigado NA VOLTA DO BACALHAU.



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terça-feira, 30 de março de 2010

A BARBA DE ARÃO

A BARBA DE ARÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 31.3.2010)
Quase passa despercebida no Brasil, a presença do novo presidente do Uruguai José Mujica. Trazendo inventivos planos para a economia daquele país, Mujica veio pedir apoio ao dirigente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
Mesmo tendo pouca extensão territorial, o Uruguai é o nosso único vizinho pelo sul e merece absoluto respeito. Sendo um dos membros fundadores do MERCOSUL, possui indicadores sociais elevados e uma pequena concentração de renda entre os seus platinos habitantes. A mortalidade infantil é menor de que a média da região e a taxa de analfabetismo é quase zero. Até a década de 60, o Uruguai teve significativo desenvolvimento que diminuiu com a queda de preços dos seus produtos exportáveis. A partir dos meados do século XIX ─ com a chamada Revolução Industrial ─ o Uruguai passou a fornecer produtos agropecuários, principalmente carne, couro e trigo. O seu crescimento econômico ficou atrativo para imigrantes da Europa, notadamente espanhois e italianos, até mesmo pela facilidade da linguagem.
O nosso vizinho e parceiro do sul tem seu espaço basicamente dividido em três partes. A primeira são áreas de criação de gado bovino e ovino. O seu relevo permite que 90% do seu território sejam dedicados ao criatório. A segunda parte é ocupada pelas cidades distribuídas por todo o país com funções administrativas e prestações de serviços. E finalmente vem a área de agricultura e pecuária intensiva (cereais, hortifrutigranjeiros e leite). Esses produtos do campo vão para a indústria têxtil e as relativas aos frigoríficos. A maioria dos produtos de exportação desse país do Prata, é da agropecuária. Mesmo assim a participação maior no PIB uruguaio vem da prestação de serviços e do comércio. Sua população se concentra nas áreas urbanas, distribuídas em cidades pequenas e médias. Aliás, não existem grandes cidades no país. Se formos olhar o passado, vamos encontrar o Uruguai como província Cisplatina anexada ao Brasil e também aliado ao Império em guerras envolvendo Argentina e Paraguai
O presidente eleito pretende construir um porto de exportação para servir a todos os países da América do Sul. Isso parece o sonho central de Mujica para o seu dinâmico território. Com certeza um empreendimento desse porte seria oxigenar tanto a economia uruguaia quanto a dos países do próprio MERCOSUL. O porto seria para o Uruguai uma via de exportação do ferro e futuramente do aço. Caso os formadores do Mercado do Sul queiram de fato uma região integrada, nada melhor de que aproveitar a ideia de boa convivência. Os exemplos atuais de israelenses e palestinos não fazem às delícias da paz. Muita diferença tem da América do Sul para o Oriente Médio. “Ó quão bom e suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso que desceu sobre a barba, A BARBA DE ARÃO (...).





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