segunda-feira, 22 de julho de 2013

AMBOS MERECEM



AMBOS MERECEM
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de julho de 2013.
Crônica Nº 1053

Recebo telefonema de João Neto “de Dirce”, avisando do falecimento do primo legítimo José Chagas. Zé Chagas, brincalhão, humorista por natureza, várias vezes citado em nossos trabalhos, residia no Bairro Monumento. Era uma espécie de boêmio, mas boêmio a seu modo, com características próprias e humor diferenciado. Gostava da noite. Tanto é que apreciava o jogo de cartas que furava a madrugada. Lembro que certa vez, a casa que faz esquina no Beco São Sebastião, Rua do Comércio, funcionava como jogatina. Em uma das noites de festa da Padroeira, houve uma arenga no início do beco e, eu como adolescente, ouvia a discussão da rapaziada. Da janela lateral da casa de jogo, protegida pela metade com tapume, veio um balde d’água para esfriar o ânimo dos de fora e melhorar a concentração dos de dentro. Fui atingido de leve, mas fui. Apenas procurei saber se aquilo era água mesmo e, era o menor mal. A arenga cessou ou foi transferida e ninguém se vingou jogando tijolos e pedras por dentro da janela. Quando me encontrava com o Primo Véi, já depois de adulto, esquecia-me de comentar esse feito, pois a água havia sido jogada por ele. Zé Chagas gostava de piadas ligeiras e respostas desconcertantes, improvisadas e feitas para o riso.  
Certa feita, Chagas resolveu instalar um bar como pretexto da malandragem, à Rua Tertuliano Nepomuceno e deu-lhe o nome de “Bafo da Onça”. Ali o carteado reinava pela noite. No final, o primo sempre de bom humor, encerrou suas atividades como funcionário público (contratado ou não) militando no Mercado de Carne, com idade avançada e veia humorística viçosa. Inúmeras passagens do seu tirocínio foram registradas por nós, entre elas o caso dos caixões. Defronte ao “Bafo da Onça” havia uma funerária. O dono, ao ausentar-se por alguns minutos, pediu ao seu vizinho Zé Chagas que tomasse conta até que ele chegasse. Chagas pediu o preço dos caixões e o dono da casa saiu. Pouco depois chegaram dois homens da roça, pai e filho, entraram e ficaram olhando para os caixões expostos. Ao se agradar de um deles, o cidadão indagou o preço, respondido imediatamente por Chagas. O camponês perguntou se não deixava por menos. Zé Chagas respondeu que fazia menos se ele levasse dois caixões. E dessa feita, o Primo Véi, não apanhou dos dois homens enfurecidos, porque teve muita sorte.
Ao mesmo tempo em que João Neto nos comunicava o falecimento de Zé Chagas, chegava à notícia da morte de dona Arlinda (tia da minha esposa), em São Vicente, São Paulo. Dona Arlinda, senhora que me recebera com muito carinho na época em que, jovem, me aventurei por àquelas bandas, deixou uma família grande toda formada por pessoas da mais alta qualidade moral. Com um corte no pé, sem poder calçar sapato, arriado de gripe (mesmo após ter sido vacinado), perdi o enterro do Primo Véi e, da dona Arlinda, impossível viajar agora. Que Deus acolha com abraço dona Arlinda e com risos o "Primo Véi" Zé Chagas. AMBOS MERECEM.

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sexta-feira, 19 de julho de 2013

GENTE VIRAR MACACO



GENTE VIRAR MACACO
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de julho de 2013
Crônica Nº 1052

Vândalos. Foto: (acritica.uol).
Todos dizem que o Brasil é grande, tanto em extensão territorial quanto na alma do seu povo. E é verdade. Com muito esforço chegamos a país desenvolvido, mas nos faltam alguns itens que impedem o reconhecimento como tal. A sangria que se esvai pela corrupção política ainda é o maior mal desse país, um câncer enraizado e difícil que se instalou há muito e dá trabalha para sair. A corrupção brasileira virou tradição pela conivência e a lei do “dá cá, toma lá”, desde os tempos dos coronéis. Isso não quer dizer, entretanto, que esse câncer horrível não possa ser combatido sistematicamente. O ex-presidente Lula até que tentou combater o mal, mas também se viu envolvido na teia inflexível dos sabidos. Estão aí os hospitais sem médicos e equipamentos, centenas de pessoas em macas improvisadas pelos corredores; postos de saúde fechados; escolas sem merenda, sem o mínimo de segurança, enquanto os salários dos corruptos não param de subir. Além da imoralidade amparada, salários exorbitantes, uma série de verbas extras para deputados, senadores e iguais, acrescentadas das transações fora de cena. Uma eterna caixa preta que não tem quem a consiga abrir. Até mesmo porque os que tentam fazê-lo escorregam no mesmo lamaçal de podridão.
É uma vergonha se ouvir que o governo federal enche as mãos dos políticos com bilhões e bilhões para obras prioritárias no País, mas o povo não consegue ver o dinheiro aplicado em benefício geral. Não há dinheiro no mundo que encha o saco dos corruptos. É por isso que o povo brasileiro vai às ruas, todavia, eles, os políticos, ainda fazem manobras lá dentro e parecem zombar da multidão sedenta. Falam dos vândalos que se misturam às multidões. Longe de nós defendermos vândalo algum, porém, o pior vândalo é aquele que leva todo o dinheiro do povo deixando educação, saúde, transporte, estradas em situação de guerra. Estão esperando o quê? Uma Revolução Francesa que faça rolar o pescoço de muitos?! Uma ditadura militar pior do que a que sofremos por vinte anos seguidos? Afinal, o que quer o político corrupto, câncer do Brasil? Somente lembrando o seriado da televisão, acho que é hora de macaco virar gente e GENTE VIRAR MACACO.



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