sexta-feira, 20 de setembro de 2019

JUAZEIRO



JUAZEIRO
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de setembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.184

MUSEU DO HORTO
Em Juazeiro do Norte, existe um monumento construído em homenagem ao padre Cícero Romão Batista. A estátua está locali zada na Colina do Horto onde há uma pequena igreja e um museu. Foi esculpida por Armando Lacerda em 1969. O engenheiro responsável pelos cálculos de engenharia da base da estátua foi Rômulo Ayres Montenegro. Antes, projetada com sete metros, foi redimensionada para 27 metros de altura. Padre Cícero nasceu no dia 24 de março de 1844 (no Crato), e faleceu em 20 de julho de 1934, com 90 anos de idade. Foi escolhido o “Cearense do Século”, em março de 2001. Em julho de 2012 foi eleito um dos 100 maiores brasileiros de todos os tempos. Juazeiro ganha milhões de visitantes durante o ano todo com o movimento da religiosidade.
A paisagem vista do Horto para os arredores, não deixa de ser bonita, embora os pontos procurados fiquem muito distantes. Muita gente, apesar de ser dia comum, comércio ambulante de pequi e do seu óleo, chamava atenção. Dificilmente o romeiro não trás óleo de pequi do Juazeiro. Comprovadamente bom contra pancada e torcicolo. O movimento é continuado entre a estátua, à igreja e o museu. Várias pessoas circulando de joelhos o sopé da imagem, pagando promessas difíceis alcançadas. Ao deixarmos o Horto, chuva forte começa e arrasta uma das pontes da região.
Na cidade, uma das ruas estreitas do comércio parece um formigueiro de tanta gente. Defronte a Igreja de Nossa Senhora das Dores, amontoado de roupa vendido a preço ínfimo e inacreditável. Vários ourives no pátio vendendo ouro à moda antiga. Missa de hora em hora e padres galegos empurrando livretos de cordéis na venta dos presentes. Comércio de santo quase de graça, sem sentimento religioso nenhum. Cada quintal uma pequena indústria e o território inteiro cheio de histórias e misticismo.
Chega uma chuva forte de repente e a praça central se esvazia.  Ninguém sabe onde entraram os ourives. A chuva prolonga-se pela noite adentro. Notícia de morte em enxurrada. Juntam-se os panos, micro-ônibus lotado de mercadorias deixando o Juazeiro.
A chuva vem terminar em Poço das Trincheiras, Alagoas.































Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/09/juazeiro.html

terça-feira, 17 de setembro de 2019

LAMPIÃO E CHUMBO NA SERRA DOS CAVALOS


LAMPIÃO E CHUMBO NA SERRA DOS CAVALOS
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de setembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.183
SERRA DOS CAVALOS (FOTO: PINTESTER).

O homem, com bermuda jeans e boné parecia elétrico. Mal terminava o diálogo com um, virava-se para outro. Ali naquele aglomerado, indagou se a senhora era de Águas Bela. Ela respondeu que não era, falou em Águas Belas por acaso. Ele puxou conversa e disse que era de Minador do Negrão. “Minador, lá pra dentro tem uma serra bem alta e que logo após a serra, encontra-se Águas Belas”. Notei que ele estava procurando um conhecido para puxar conversa. Fiquei aguardando a sua agitação e veio à lembrança o monte que ele falara. Muitas vezes o sujeito fala demais, porém, não deixa de ser excelente fonte de pesquisa que às vezes coincide com sua procura. Procurei aguardar uma surpresa para o cidadão.
Lembrei-me da “Repensando a Geografia de Alagoas” (uma cinco estrelas engaveta). Também veio à mente, pesquisa exaustiva para o livro “Lampião em Alagoas”; serras de divisas do estado, fugas e combates de Lampião. Virgulino gostava de entrar em Pernambuco por Minador. Imaginamos a perseguição e tiroteios esporádicos do sargento Porfirio e sua aguerrida volante por ali, no início de 1938. Mesmo assim, com Alagoas caçando o bandido por todos os lugares, o chefe do bando desapareceu no vizinho estado do norte. Mas era importante para nós pontuarmos a sequência de serras e riachos da região, desde que acidentes sempre surgissem nas narrativas. Foi na hora em que o homem falou sobre Minador do Negrão que surgiu na mente a serra destaque.
Pensei comigo mesmo dá um susto no camarada rodeado por desconhecidos. Aproximei-me sorrateiramente e fiquei atrás da sua nuca. Vez em quando ele parava e falava, parava e falava, então, que eu disse forte no seu ouvido: “Quer dizer que o senhor é o homem das serra dos Cavalos!”. O indivíduo levou um susto desgraçado, virou-se rapidamente como macaco de mola. Olhou para mim de boca escancarada e indagou: “Como o senhor conhece a serra dos Cavalos?” Gargalhei por dentro com o susto alheio.
Nada eu disse.
Distanciei-me e parti dando adeus.
Também... Nem tava muito querendo conversa na parada.

Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/09/lampiao-e-chumbo-na-serra-dos-cavalos.html