domingo, 7 de junho de 2020

VAMOS CHAMAR OS BIUS?


VAMOS CHAMAR OS BIUS?
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de junho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.319

CASA DA CULTURA DE SANTANA DO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS).
Foi na gestão do Senhor Henaldo Bulhões que a cidade de Santana do Ipanema teve início com suas placas indicativas. Apesar da seca dolorosa de 1970, o prefeito procurou embelezar a cidade com jardins, logradouros públicos, caiação de meio-fio e troncos de árvores da arborização das ruas e a novidade de placas indicativas espalhadas pela urbe. Museu, biblioteca, Câmara de Vereadores, saídas da cidade e destino, fizeram Santana tomar ares de lugar muito civilizado, além do embelezamento. Lembramos muito bem o pintor Biu, da Cohab Velha, caprichando no trabalho de pintura das placas indicativas e a pilha de material ao seu lado. Naquele momento, a cor verde era a que mais nos atraia na superfície da madeira. Talvez tenha sido nessa época em que foram distribuídas também pela cidade, coletores de lixo com dizeres sobre a coleta. As lixeiras eram modernas e os dizeres coloridos. Mas também isso ocorreu na administração Paulo Ferreira.
Muito bem, daí para cá não encontramos em nenhuma gestão o mesmo benefício das placas indicativas para os mais de 130 sítios rurais. Pesquisadores, viajantes, turistas e outros percorrem a zona rural cortadas de estradas, caminhos e veredas sem nenhum auxílio visual que possa guia-los até o destino. Muitas vezes é preciso andar a pé quilômetros, sem encontrar uma só pessoa para informação. Nada de placa indicativa. Quanto custa dois pedaços de madeira: um barrote e uma seta de pau com um pouco de tinta, para valorizar a autoestima do homem do campo, embelezar e informar ao viajante. Ou se anda com um guia ou se informando ´`a moda antiga com “Seu Zé”. As placas indicativas tão baratas, ainda poderiam ser patrocinadas pelo comércio com as respectivas propagandas.
Como exemplo, só na BR-316, de Santana ao povoado Areias Brancas, tem uma porção de sítios em ambas as margens e entradas para muitos outros, ou se sabe ou se advinha: Serrote, Barragem do Gravatá, Puxinanã, Lagoa dos Morais, Sacão e entradas para a Jaqueira, Serra da Lagoa, Poço da Pedra, Cajueiro, Mangaba, Jurema, Martins e tantos e tantos. Já pensou, placas indicativas para todos, a visualização e a civilidade? Não se regride no tempo nem se toma decisão por último. Tem muita gente importante que nasceu no sítio, morreu e nem sequer tem um letreiro de lembrança. Conhecemos três escritores santanenses que vieram da roça, também gente ilustre da política, do comércio e da indústria, além de muitas outras áreas.  A sugestão está lançada: apenas dois pedaços de pau e um pouco de tinta.
Vamos chamar outros Bius para o serviço?
Tudo por Santana do Ipanema.



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quinta-feira, 4 de junho de 2020

NA JANELA DO TEMPO


NA JANELA DO TEMPO
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de junho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.318
FEIRA EM SANTANA, PARCIAL (FOTO B. CHAGAS).
Quem passa em Massagueira percebe uma sequência de barracas à margem da rodovia. É ali o lugar certo de agradar às crianças. Doces, sonhos, broas e muitas outras coisas à base de goma. Parece até que o lugar levou tudo isso das feiras antigas de Santana do Ipanema. Mas não, é das mulheres ancestrais lacustres conservadoras.  O povoado Pé Leve, município de Arapiraca, também é lacustre e, por coincidência, tem um local em que vária barracas e casas de alvenaria oferecem ao viajante inúmeros daqueles produtos da Massagueira e mais outros dos costumes agrestinos e sertanejos: Bolos, pé-de-moleque na palha da bananeira e tantos outros que até esquecemos os seus nomes. Em Santana do Ipanema, o tempo foi modificando a feira livre e essas coisas citadas mais quebra-queixo com amendoim ou castanha, tijolo (doce de raiz de imbuzeiro), broa e tantas outras guloseimas foram rareando e, hoje, são quase inexistentes. Esses produtos perseveraram no Pé-Leve, em toda Arapiraca e em Massagueira de Marechal Deodoro.
Também desapareceram das nossas feiras, os emboladores que animavam a multidão com seus repentes maravilhosos. Limparam o interior, sumiram... Atualmente os emboladores estão nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e em outras capitais, nas ruas, mas também nos metrôs, nos ônibus e bradando alto nas redes sociais, alguns têm até canal organizado. São os    homens do pandeiro e do improviso rápido, seguidores dos mais famosos, Caju e Castanha que por sua vez vêm das tradições dos versejadores de feira. Objetos, artistas, vão desaparecendo das feiras sertanejas, sendo substituídos ou não por produtos industrializados, feirantes e nada mais. É certo que” cada coisa no seu tempo”, porém, nem todos observam as mudanças sociais em torno de si. É no dia a dia que as coisas acontecem formando novos cenários no mundo, percebidos pelos cronistas, curiosos, pesquisadores...
Você acredita que feira livre pode ser deletada no interior? O supermercado vende muitas mercadorias da feira, mas não conseguiu extirpá-la. Nem o shopping, nem os mercadinhos. As feiras não acabam enquanto houver pobreza e analfabetismo; todavia, acompanham as manobras do cameleão; bicho que muda de cor conforme o ambiente. Concorde, discorde.
Lembremos os emboladores: “Levanto cedo/boto a sela no porco/vou à feira do Caboclo/ antes do galo cantar...” (Povoado Caboclo). Resposta: “você não dá/pra dançar no gabinete/nem cabra velha dá leite/nem bode dá de mamar...






                                                                                                                         


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