segunda-feira, 1 de agosto de 2022

 


CAFÉ PEQUENO

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de agosto de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.744

 

Nesse momento de muita frieza no Sertão e tempo serenando, nada melhor de que um cafezinho com o delicioso bolo de macaxeira. Mas a mente vai buscar os anos 60 em Santana do Ipanema, quando o destaque desta bebida arábica, estava no Café, estabelecimento comercial do saudoso Maneca, que ficava bem perto do Museu e vizinho à nossa loja de tecidos. Não vem à lembrança o nome exato na fachada, mas parece ter havido apenas o nome “Café” e o povo complementava como “Café de Maneca”, o mais gostoso da cidade. Ali era servido pequenos lanches tal pão com manteiga, café com queijo, bolo, pão doce; refrigerantes, e, para os viciados, Cigarro Continental e cervejas. Quanto à geladeira, um desses raros utilitários de Santana, mostrava qualidade insuperável: gelava que era uma beleza!

O café de Maneca era classificado no modo de pedir: “Maneca, um café pequeno”, vinha, então um café numa xícara de chá que também era chamado simplesmente de pequeno: “Dê-me um pequeno”, O proprietário já sabia. “Maneca, um café grande”, vinha uma xícara normal, cheia. Mas ainda havia o pedido: “Maneca, meio café”. Saía o café com apenas a metade de uma xícara normal. E perguntado sobre como conseguia fazer café tão saboroso que nem em casa se fazia, o homem respondia na hora: “É simples, misturo o café de segunda com o café de primeira”. E para quem conheceu a marca “Café Afa”, cujo complemento dizia, “o café que abafa”, vinha da torrefação Antunes de Maceió, embalado em pacote de café de primeira e café de segunda. Ambos excelentes!

Entre a nossa loja e o Café de Maneca, havia vez em quando, rodas de boiadeiros botando a conversa em dia. Em nossa terra boiadeiro é o homem que compra e revende boiadas. Em umas dessas rodadas, falavam dos prejuízos que tiveram e como transportavam dinheiro driblando possíveis ladrões. Ali estavam Arnóbio Chagas, Pompeu, Lucas, Enéas e outros mais. Foi quando o Lucas falou: “Eu tive um prejuízo tão grande que passei mais de quinze dias só tomando cafezinho”. Naturalmente, entre esses cafés estavam os de Maneca.

Hoje, meditando nesse inverno que nos encolhe em casa, vou lembrando dos anos 60, levando à vida entre café grande, café pequeno e meio café.

CAFÉ PRETO (FOTO: iSTOCK)

 


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quinta-feira, 28 de julho de 2022

 

JULHO/JULHO

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de agosto de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.742


Acabando o prazo de validade, o mês de julho cumpriu o seu papel em solo sertanejo alagoano. Chuva, frio e festas por todos os lugares, apesar de tantas mortes nos últimos tempos. O frio ainda estar sendo de “torar os ossos” e alguns agricultores estão perdendo lavoura com a frieza. Agosto vem aí encangado para terminar o nosso inverno e quem sabe! Poderá ser ou não que resolva manter a escrita dos quinze dias mais frios do ano em sua primeira quinzena. Com a poderosa festa de Senhora Santana pedindo pelo sertão inteiro, poderemos almejar um agosto suave, amenizando assim a sua fama de mês das grandes tragédias. Água armazenada em açudes, barreiros... Tem muita por aí à fora, esperamos que seja o suficiente para chegar até as trovoadas, esperanças a partir do mês de novembro.

Ontem, 28, faz lembrar o dia 28 de julho de 1938, quando foi anunciado o fim do cangaceirismo no Nordeste. O fim de Lampião e seu bando, representou a vitória da sociedade e do bom senso sobre a barbárie. Batalhão alagoano formado e deslocado para Santana do Ipanema, chegou à cidade em 1936, para combater e extirpar o cangaço que deixava em polvorosa sete dos nove estados nordestinos. O comando do Batalhão pertenceu ao, então, tenente Lucena, pela sua bravura e experiência de combates ao banditismo no alto Sertão. Dois anos após a chegada do Batalhão em Santana – ele, que fora dividido em várias forças-volantes – usando três dessas forças, conseguiu acabar o chamado “Rei do Cangaço”.

 Faleceu o padre Cícero Romão Batista, no dia vinte também de julho. Lampião, célebre pela perversidade, Padre Cícero, famigerado pelas suas virtudes. Aliás, o chefe cangaceiro fora para a grota da fazenda Angicos, em Sergipe, para descansar, rezar e meditar durante a semana de morte do santo padre do Juazeiro do qual fora devoto à distância. Ali encontrou a morte na madrugada friorenta, tradição de julho. “Frio de matar sapo”.

Lucena foi promovido a coronel, chegou a ser prefeito eleito por Santana do Ipanema – sede do 70 Batalhão – foi   deputado e prefeito de Maceió e ganhou nome de avenida na “Rainha e Capital do Sertão”.

Julho era e é assim.

CAPA DO LIVRO LAMPIÃO EM ALAGOAS (FOTO B. CHAGAS)


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