terça-feira, 29 de novembro de 2022

 

 

ANGICO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de novembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.806

 

O angico é uma árvore da caatinga sertaneja tão famosa quanto o juazeiro. O seu tronco mostra espinhos de forma grande, arredondada, em forma de nódulos. Suas cascas guardam o tanino, substância muito utilizado no curtimento do couro. Podemos dizer que é uma árvore exuberante, bela e de fácil identificação. Produz uma resina que é medicinal e muito utilizada pelos macacos e soins se habitarem na área. Suas folhas são pequenas e enfileiradas de um lado e de outro, parecendo uma pena. O angico gosta muito de terreno pedregoso e mais elevado como os serrotes. Sua forte raiz racha a pedra onde quer se fixar e após, fica gozando o pouco de frieza nela encontrada, em terras quentes do semiárido.

Utiliza-se o angico sem a casca para se fazer estacas. A madeira nua é muito mais resistente. E, no caso das cascas, elas são vendidas para os curtumes, por causa do tanino, transformando o couro em sola, na última fase da curtição. Os antigos compradores de cascas de angico, procuravam nas fazendas, o produto. Quando o fazendeiro ia pelar o angico para fazer estacas, não cobrava pelas cascas e ainda agradecia. Mas quando não ia fazer estaca, cobrava a mercadoria que custava numa carrada de carro de boi, dez tostões (destões), por uma arroba. O jegue e o burro eram os meios de transportes mais utilizados pelos donos de curtumes na compra das cascas dessa madeira. Ainda no mato, os compradores de cascas, faziam feixes e usavam a embira ou mesmo as próprias tiras das cascas para amarrarem os feixes e colocarem nos dois lados da cangalha. Muitas vezes esses compradores passavam mais de um dia na caatinga para realizar esse serviço.

Esses dados detalhistas estão no livro recém terminado: Santana: Reino do Couro e da sola. Calculado antes em apenas três páginas de papel A4, encerramos com cerca de trinta e cinco, o que na gráfica, em formado de livro, poderá alcançar até mais de 100 páginas. Temos a certeza de que tantos detalhes vão impressionar o povo santanense, pois fala da estrada de Delmiro, da Matança, do padre Capitulino, dos artesãos, das fases da curtição de couro, das fabricas de calçados, dos sapateiros, do futebol do Panema e muito mais, inclusive preços de mercadorias e fotos de cédulas antigas.

O que fazer para publicar?

ÁRVORE ANGICO (AUTOR NÃO IDENTIFICADO).

 

 


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domingo, 27 de novembro de 2022

 

O SORRISO DO JULINHO

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de novembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2805


Sem perder um só jogo da copa, o eco das coisas também mexe com a cabeça. Mistura o futebol de hoje com as “peladas” do passado. E por falar nisso, o termo “futebol de várzea”, chegou por aqui vindo dos centros maiores, mas antes, em Santana do Ipanema, era “futebol do meio da rua”, “futebol do Panema”, “futebol de campinho”. E no futebol do Panema, tínhamos nosso herói, muito embora com presença de craque que jogara no Santos de Pelé, mas não era esse o nosso ídolo da bola. Veja como era o procedimento desses jogos não oficiais: Em um desses lugares, começava a chegar gente para jogar, inclusive o dono da bola. Os dois reconhecidos melhores jogadores, encabeçavam a lista e, um caminhava em direção ao outro por cerca de dez metros, colocando um pé na frente do outro e colado a ele. Quando esses dois cabeças chegavam pertinho um dos outro, aquele que cobrisse o pé do amigo, primeiro, seria aquele que daria início a chamada para o seu time.

O primeiro chamava um jogador, o outro chamava outro e assim sucessivamente. No geral, eram chamados dez jogadores de cada lado. Primeiro os melhores e depois os fracos até o refugo para completar os dois times. Depois vinha a escolha do lado e um juiz qualquer que entendesse alguma coisa de futebol, mas quando não aparecia juiz, todos os jogadores eram juízes. Entre esses jogadores, havia o nosso ídolo do futebol no Panema. Era o Julinho, filho do conhecido Pedro Porqueiro. Nunca vimos um rapaz jogar tanta bola. Jogava rindo e driblando. Conseguia driblar no espaço tão mínimo que mal cabia duas pessoas juntas. Dribles curtos, ágeis, sem perder a bola nem o sorriso permanente. Pessoa humilde, filho de matador de porcos, mas que ali no futebol do Panema, parecia em êxtase, como se fosse um verdadeiro imperador do mundo.

Infelizmente os filhos do Senhor Pedro, começaram a criar alguns tipos de problemas na sociedade. Honesto e direito o pai deve ter sofrido muito, com vergonha. A família desapareceu da cidade e as notícias foram rareando até o desparecimento total. Alguém do nosso tempo sabe por anda o Julinho? É vivo, é morto?

Com defeito, sem defeito, era o nosso Pelé que até agora não deixou substituto.

CAMPINHO (CRÉDITO: ALAMY).

 


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