terça-feira, 19 de outubro de 2010

MERECIMENTO

MERECIMENTO

(Clerisvaldo B. Chagas, 19 de outubro de 2010)

     Não dispomos de estatística sobre o andamento da solidariedade no Brasil. Até porque o tema é muito abrangente e vai do estritamente pessoal até o encaixe nas grandes manifestações. Mas é de se pensar nos transportes rodoviários o que acontece no tombamento de algum veículo pesado pelas estradas gerais ou nas densamente povoadas. Pela primeira vez vimos falar em saques de cargas de caminhões no Rio de Janeiro. Um cidadão que transportava frangos tombou no pé de um dos morros cariocas. Ao invés da ajuda que esperava dos moradores, o que ele viu foi coisa bem diferente. Uma verdadeira enxurrada humana descendo o morro e praticando o saque sem nenhum constrangimento. Parecia no ato inglório um enxame desesperado por comida. Os mais fortes conduziam gradeados completos e desapareciam a galope nas vias tortuosas de habitações populares. Quem não podia com o peso da grade, pelo menos levava uma galinha ou duas, mas não deixava de participar do vandalismo. O caminhão continuava de pneus para cima e o motorista ferido se virava como podia. Para quem nunca tinha visto até o momento aquele tipo de manifestação, não deixa de ter sido um choque de incredulidade, mostrada a cena de como a vida é dura. Daí vem à expressão criada e transferida para o cinema: mundo cão. Em outras ocasiões semelhantes, a polícia chega atrasada. Quando surge a tempo é apenas para socorrer vítimas e registrar a ocorrência. O povo ulula em derredor como se ali não tivesse chegado uniforme algum.
     Depois do Rio vamos notando o aprendizado no Brasil inteiro. Aqui mesmo em Alagoas, principalmente nas rodovias mais movimentadas, o saque a caminhões tombados virou rotina. Agora não são ataques somente às cargas de comida ou bebida, mas a tudo. Material de limpeza, de construção, cigarros... Nada escapa da população. Impressiona a chegada rápida de pessoas saídas de todos os lugares que praticam o ato criminoso em poucos minutos. Nessas ocasiões o condutor do veículo fica em situação periclitante ao escapar do acidente. Pode ser assassinado a qualquer momento, caso traga algum dinheiro nos bolsos, relógio, corrente de ouro ou outra coisa pessoal. Como no meio da multidão tem de tudo, matar e roubar as vítimas não seriam coisas tão difíceis de acontecer. Em veículos menores, chamados carros pequenos, acontecem coisas parecidas. Hoje não se pode facilitar confiando nos socorristas. Escapar dos vândalos das estradas, agora é questão de sorte. Vamos perguntando aonde anda a solidariedade. O que não presta tem facilidade de propagação rápida. A violência vai se multiplicando numa velocidade que impede cabresto, ganhando novos adeptos que vão engordando o segmento. Ante a surpresa dessa gente desmiolada, somente Deus para proteger. Digo, se ainda tiver MERECIMENTO.






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