OXENTE,
MALANDRO!
Clerisvaldo B.
Chagas, 21 de novembro de 2013.
Crônica Nº 1090
A dança dos olhos
prossegue por toda a viagem. Quem respira a Geo vinte e quatro horas por dia,
cola a vista na paisagem voadora. A flora nativa parece com os últimos soldados
da batalha machadeira. Os mangues são divididos na área litorânea; canaviais
recobrem a ex-mata atlântica; plantas anãs enraízam em terras vermelhas
agrestinas; campos artificiais surgem nos lugares das caatingas e os animais
silvestres não mais convivem com o homem. A Geografia corre trechos com o
fush-fush continuado dos pneus. Somente as silhuetas dos montes mostram-se
eternizadas. Nas costas do asfalto cinza, desenhos amarelos empurram os
veículos para à direita. Para-choques carregam nas tintas a filosofia da estrada,
os avisos educados, as advertências sutis, desabafos, gritos de guerra... Propagandas.
As serras longínquas estão azuladas como indivíduos que nos enganam. A carreta
tombada põe marco na curva perigosa, rangem as molas, gritam as borrachas.
“Vai com Deus”. “Olá
companheiro”. “Mantenha distância”. “Só Jesus salva”... Vão ensinando os
guerreiros das pistas nos seus escritos formais, tortos, capengas ou borrados.
Uma brincadeira, uma piada, um riso dentuço, cobrem por vezes a fumaça do motor
vencido. Atenção na curva, atenção na luta, atenção na vida. E na universidade
móvel dos perigos, chama atenção à frase triunfal do espertinho, do gozador que
se apega a existência montado no humor diário do que nada é sério. O motorista
traseiro abre os dentes na frase daquelas tábuas móveis diante de si e leva o
caso para os passageiros. Os dentes de todos acompanham a arcada do motorista
na rigidez do indicador. Só uma senhora muito séria parece não gostar do
fraseado que lembra atitudes filiais. Rendo-me à brincadeira do asfalto, pois
nem só do trabalho vive o homem, mas também das frases de muitos vagabundos.
Estava escrito com letras brancas na carroceria suja: “Mãe me mandou criar
juízo... Mas eu não sei o que ele come”. OXENTE, MALANDRO!
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