ALGODÃO-DOCE E O PESTE
Clerisvaldo B.
Chagas, 11 de junho de 2016
Crônica Nº 1.530
Foto:(gideonimaran). |
Saindo de casa fui surpreendido por uma presepada.
Presepada era o termo que usávamos para algo inédito. Um ruído constante e
repetitivo incomodava. Foi quando avistei vindo ao meu encontro, uma coisa que lembrava
os tempos de criança. Um vendedor de algodão-doce. Não era naquele carrinho em
que o produto é feito à vista do cliente, rodando uma manivela e surgindo o
emaranhado do algodão, o céu da criançada. Esse vendedor vinha com uma vara às
costas, onde pedaços de algodão-doce estavam pendurados, como os vendedores
faziam transportando galinhas. O rapaz, no sol quente, usava chapéu de palha e
mantinha uma cara sem sorrisos. Foi aí que descobri uma espécie de megafone
automático, de pilha, com repetição constante e curta: olhe o algodão-doce! Olhe
o algodão-doce! Olhe o algodão-doce!... Aquele barulho chato, cabuloso,
irritante, poupava a voz do indivíduo, sem dúvida. Mas freguês nenhum tinha
prazer em ouvir a geringonça pendurada no pescoço do vendedor. Imaginemos o
produto descoberto, sujeito às moscas, à poeira e o sol o dia inteiro, para
terminar no bucho das crianças!
Hoje, até cegos e aleijados usam as novas tecnologias
para pedir esmola. O barulho incomoda terrivelmente e, ainda mais quando se
mistura a outros sons sem controles, no Comércio.
Até que o vendedor poderia ser muito útil, se usasse
aquela porcaria para rodear por meia hora o golpista, traidor e safado que em
breve pagará o que fez.
FORA FIO DA PESTE! Ainda gritaria o vendedor de
algodão-doce no seu pé de ouvido!
* a foto não é a do meu vendedor.
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