NORDESTINO COM O PAU DENTRO
Clerisvaldo B. Chagas, 21de março
de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.648
A famosa cachaça sempre predominou no Basil desde os
tempos de D. João VI. Daí para cá uma vasta literatura preencheria qualquer tamanho
de coleção livresca. No País, já com o título Cachaça, registrado mundialmente,
ela possui dezenas e dezenas de apelidos que chegam facilmente a uma centena:
Moça Branca, Branquinha, Richona, Marvada, Pinga e tantos outros que até seria
difícil listá-los. A mesma coisa acontece ao modo de se referir à bebida na
hora de procurá-la: Tomar uma; tomar uma flechada; Espalhar o sangue; veneno e
assim por diante.
Os escravos gostavam bastante de cachaça, até porque
era a bebida a que eles tinham acesso. Samba e cachaça viraram paixões. E sem
preconceito nenhum, meu pai dizia: “quando vê um preto tristonho em qualquer
ajuntamento, chame-o e ofereça a ele um copo de cachaça. Ele vira de uma vez só
e, ao terminar, perfila-se, bate continência e diz: estou às suas ordens,
patrão”.
Bebe-se no Brasil pelos mais diferentes motivos. O
Nordestino é maluco por uma “água que pinto não bebe”. Uns só ingerem cachaça
pura. Outros somente com tira-gosto. Alguns lambem os beiços, fazem careta,
cospem no chão. Muitos emborcam o copo sereno, sem gestos ridículos, sem
mugangas.
Bodegueiros passaram a encomendar de mestres raizeiros
a cachaça com pedaços de ervas medicinais que se apresentam no recipiente com
folhas, galho, caule e raiz. Às vezes os raizeiros colocam dentro da cachaça
até vinte produtos diferentes. Entre esses produtos estão: cravo, canela, anil,
barbatimão, alecrim, ameixa, boldo, camomila, capim, catuaba, gengibre,
manjericão, e tantas outras, conforme a região, a disponibilidade e a perícia
do raizeiro. No Sertão nordestino, esse tipo de cachaça está no balcão de bodegas e botecos que se prezam. Para distinguir
da cachaça normal que se chama cachaça limpa, a denominação mais comum é “misturada”,
daí variando para os mais inimagináveis nomes entre os quais: “ninho de garrincha”.
Bebe-se a misturada com alegações as mais diversas: é
mais gostosa; é medicinal; é afrodisíaca. Muitos a chamam, maliciosamente de “Pau-dentro”.
Quem sabe se a corrupção no Brasil não se acabaria se
em cada ladrão de Brasília lhe fosse aplicado o “pau-dentro”!
Nordestino tem receita pra tudo.
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