A CULTURA RUÇA DO INTERIOR
Clerisvaldo B.
Chagas, 23 de maio de 2017
Escritor Símbolo de Santana do Ipanema
Crônica 1.675
Já falei aqui sobre a esperteza de certo
coronel do interior. Foi nos tempos em que as viagens eram feitas a pé, carro
de boi ou em lombo de jumento, burro ou cavalo.
O latifundiário possuía um cavalo muito bom e
admirado por todos. E um cavalo bom, na época, era coisa rara e cobiçada. Tanto
no presente quanto no passado arraigou-se o sistema “do pedir emprestado”,
coisa que caracterizava o chamado cara de pau. Mas o coronel era político, maneiroso,
sabia lidar com essas coisas. Não gostava de dizer como outros coronéis diante
da ousadia dos pequenos: “Se enxergue, homem!”. Foi pensando nos pedidos de
empréstimo que o fazendeiro criou uma potranca ruça dentro do ambiente selvagem
da sua manga. A bestinha ruça ou pardacenta, mesmo na manga ajudava bastante o
coronel. Aqui, acolá chegava um desavisado para pedir o favor de empréstimo visando
o cavalão macio e baixeiro do proprietário. E o homem respondia com a maior
educação possível para não perder voto nem amizade com os caboclos da região: “Rapaz,
que coisa! Sinto muito não poder emprestar o cavalo porque tenho uma viagem
marcada; mas se o amigo estiver muito precisado, pode pegar a rucinha lá na
manga”.
Não havia vaqueiro bom no mundo que
conseguisse a façanha.
Nas cidades do interior do Nordeste, os
prefeitos se enclausuram no seu mundo imperioso e, quando muito, o básico é
feito sob forte torniquete. Com os constantes apertos, melhora e vigilância na
Educação, foi transferido o saco de pancadas para a área da Cultura,
completamente sem proteção alguma. A produção artística, sendo leve e popular,
ainda passa no crivo de algumas prefeituras como forma de mostrar serviço. No
grosso, porém, surgem as várias formas do NÃO: “Não tem verba”; “aguarde”; “vamos
fazer” (e nunca é feito); “agora mesmo não podemos, mas quem sabe para o mês...”.
Enquanto isso pousam nesses campos férteis as
naves das bandas caríssimas (???) que levam de um só vez todo o orçamento
municipal.
Como não trazer o passado com a cara do
moderno!
A cantilena em peregrinação pelos gabinetes
municipais dos coronéis ressuscitam a história acanalhada da RUCINHA.
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