MUCUNÃ
Clerisvaldo B.
Chagas, 25 de maio de 2017
Escritor Símbolo do Sertão de Alagoano
Crônica 1.676
Quando menino, ouvi muito falar da mucunã.
Conheci inúmeros tipos de mato da caatinga, mas como não morava no Alto Sertão,
deixei de conhecer algumas espécies vegetais que não aparecem no chamado Sertão
Médio, onde fui nascido e criado. Sempre que precisávamos de mato medicinal que
não havia em nossa região, encomendávamos aos que sempre viajavam para o alto
onde havia a mucunã e a sacatinga, por exemplo. Mas estou me referindo a planta
em si, porque aqui, acolá apareciam em nossa cidade, às sementes de mucunã
também denominadas olho de boi.
Como brinquedo natural, nunca vi nada mais
bonito e forte igual à semente de mucunã. Na verdade, nem me lembro como
brincávamos com o olho de boi. Com a castanha, sim. Saímos pela rua poeirenta
jogando uma às outras. O pinhão de goiabeira ou industrializado a que chamávamos
de pinhão de praça, o ioiô e a ximbra também vindos da indústria nos causavam
grande alegria.
Quando deixei essa crônica em repouso para a
publicação, o amigo Daniel falou sobre a égua Mucunã do seu avô. Coincidência.
Puxei a crônica e estou editando.
O que ouvíamos falar muito naquela época, era
sobre as secas brabas de 1932 e 1915 em que o povo, diziam, comia até farinha
de mucunã. E como a semente era considerada venenosa, representava um risco de
vida mais evidente de que a seca.
Somente agora pela Internet vim a conhecer um
pé de mucunã: planta trepadeira de flores roxas, vargens peludas e urticantes
que produzem quatro ou cinco sementes de olho de boi.
Ah! Dizem alguns artigos curtos sobre a
mucunã que ela é afrodisíaca, cura isso, cura aquilo e aquilo outro e, eu fico
me perguntando se é o mesmo olho de boi que precisava lavar em sete águas para
usar como alimento!
De qualquer maneira “não quero corja” nem com
a mucunã braba do sertão, nem com a bestinha manhosa do avô de Daniel.
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