LAMPIÃO NÃO ENTROU EM SANTANA
Clerisvaldo B.
Chagas, 22 de maio de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.674
Enfurecido feito demônio, o bandido Lampião
desceu do Juazeiro do Norte enganado com a suposta patente de capitão. Uns tirinhos
bestas aqui outros acolá, penetrou e deixou Pernambuco para se aventurar em
Alagoas.
Até hoje as perguntas de curiosos ainda são
as mesmas de 1926. Indagam pelo motivo de Lampião não ter entrado na cidade de
Santana do Ipanema. Embora o marginal não tenha invadido à cidade, saiu fazendo
arrastão pelo extenso município em sítios e fazendas até desaguar na vila de
Olho d’Água das Flores pertencente a Santana na época.
Escritores presentes na cidade como Oscar
Silva e Valdemar Cavalcanti registraram a agitação formada na urbe com a
notícia de aproximação de Virgolino com mais de cem homens. Ambos são irônicos
e fazem referências às promessas feitas por pessoas exóticas, possivelmente não
sadias do juízo, Carneiro e Maria Cabeça Amarrada. Maria era uma beata que só
vivia na igreja. Outros comentaram que a padroeira do município era uma santa e
que Lampião prometera a ele mesmo não invadir lugares que tivesse santa como
padroeira. Outra hipótese fala em negociação secreta do chefe do bando com
algum mandachuva da política. Não deixando de aparecer opiniões, o próprio
cangaceiro santanense Gato Bravo diria mais tarde em entrevista para jornal que
Lampião não entrara em Santana, graças a ele, Gato Bravo.
A realidade é que depois de muita gente se
esconder no mato e a saída de dois automóveis rumo a Palmeira dos Índios. Haveria
resistência.
Santana procurou se defender de improviso
movida pela resolução de civis. Foi apresentado 25 atiradores do Tiro de Guerra
33, unidade do exército que funcionava no chamado “sobrado do meio da rua”. Estes
eram comandados pelo instrutor Brigada Antônio Ribeiro Cavalcante. Do quartel
que funcionava na antiga Rua do Sebo, na Cadeia Velha, saíram 15 homens
dispostos à luta. A resistência foi organizada pelo prefeito Benedito Melo, padre
Bulhões e o juiz Manoel Xavier Accioly. Não foi registrado o número de civis,
mas dizem que nunca tinha sido vistos tantos rifles pelas ruas de Santana. Com
os quarenta militares e um bom grupo de homens resolutos, barricadas foram
feitas em pontos estratégicos, mas o bando passou ao largo de Santana do
Ipanema.
E de todas as hipóteses apresentadas, a mais lógica
era o receio de Virgolino ser perseguido pelo exército após um possível ataque.
Ele queria ver o cão, mas tinha um receio da peste da farda verdinha do
Exército Brasileiro.
O certo mesmo é que a cidade de Santana do
Ipanema ficou livre de um longo trauma naquele mês de junho de 1926.
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