terça-feira, 16 de maio de 2017

OS PASTORES MILENARES



Os PASTORES MILENARES
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de maio de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.672
 
Foto: (Sertanejo baiano).
Mais uma vez o Globo Rural assegura a qualidade das suas edições. Muito instrutiva, para quem não conhece de perto, a reportagem sobre o pastoreio milenar. Uma comparação entre a forma de vigiar o gado nos Andes bolivianos e no sertão nordestino.
O Nordeste desenvolveu muito no criatório caprino e ovino, não se pode fugir a essa realidade. Entretanto, a prática milenar do pastoreio pela sobrevivência continua em lugares difíceis. Acontece o pastoreio de bovinos, ovinos e caprinos juntos ou separados. No caso dos caprinos quase sempre são encontradas umas poucas cabeças de ovelhas misturadas aos bodes. Do pastoreio caprino em Alagoas se diz: “pastorar as cabras” ou “tocaiar as cabras” que vem ser a mesma coisa.
A distância da casa de morada para o lugar do pasto agreste varia entre 100 e 1.000 metros de distância, podendo chegar aos três quilômetros. Tanto o homem quanto a mulher estão naturalmente aptos para esse papel que também envolve adolescentes e até crianças. Tange-se o rebanho caprino para o lugar desejado ou seguindo à frente como guia pronunciando palavras de chamamento ou seguindo atrás do rebanho, sempre a pé, soltando pequenos assovios e palavras de ordem costumeiras.
No local escolhido o pastor ou a pastora deixa o rebanho à vontade, procura um ponto estratégico que lhe dê um bom domínio da paisagem e tenha proteção de sombra.
A arma usada invariavelmente é uma vara a guisa de cajado, peteca e pedra. Os cuidados maiores estão com as cobras, carcarás e cachorros estranhos viciados em “pegar ovelhas”. As cobras estão nos pedregulhos ou passeando em caçadas. Os carcarás atacam os animais mais novos quando estão famintos. Os cachorros viciados em matar criações não param o vício senão com a morte.
Com sua marmita improvisada o vigia do rebanho é um solitário com tempo de sobra para pensar na vida. Sempre à tardinha conduz os animais de volta colocando-os em cercado de varas com a linguagem: “enchiqueirar as cabras”.
Em todos os estados nordestinos nos lugares vistos acima o procedimento é este. Pode, todavia, haver o regionalismo estado a estado onde palavras diferentes possuem o mesmo sentido.
E como mostrou a reportagem, é sim ainda a perpetuação do pastoreio dos templos bíblicos, nada mudou nesse mundo encantado e rude da Mãe de Deus.


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