Os PASTORES MILENARES
Clerisvaldo B.
Chagas, 16 de maio de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.672
Mais uma vez o Globo Rural assegura a
qualidade das suas edições. Muito instrutiva, para quem não conhece de perto, a
reportagem sobre o pastoreio milenar. Uma comparação entre a forma de vigiar o
gado nos Andes bolivianos e no sertão nordestino.
O Nordeste desenvolveu muito no criatório
caprino e ovino, não se pode fugir a essa realidade. Entretanto, a prática
milenar do pastoreio pela sobrevivência continua em lugares difíceis. Acontece
o pastoreio de bovinos, ovinos e caprinos juntos ou separados. No caso dos
caprinos quase sempre são encontradas umas poucas cabeças de ovelhas misturadas
aos bodes. Do pastoreio caprino em Alagoas se diz: “pastorar as cabras” ou “tocaiar
as cabras” que vem ser a mesma coisa.
A distância da casa de morada para o lugar do
pasto agreste varia entre 100 e 1.000 metros de distância, podendo chegar aos
três quilômetros. Tanto o homem quanto a mulher estão naturalmente aptos para
esse papel que também envolve adolescentes e até crianças. Tange-se o rebanho
caprino para o lugar desejado ou seguindo à frente como guia pronunciando
palavras de chamamento ou seguindo atrás do rebanho, sempre a pé, soltando
pequenos assovios e palavras de ordem costumeiras.
No local escolhido o pastor ou a pastora
deixa o rebanho à vontade, procura um ponto estratégico que lhe dê um bom
domínio da paisagem e tenha proteção de sombra.
A arma usada invariavelmente é uma vara a
guisa de cajado, peteca e pedra. Os cuidados maiores estão com as cobras,
carcarás e cachorros estranhos viciados em “pegar ovelhas”. As cobras estão nos
pedregulhos ou passeando em caçadas. Os carcarás atacam os animais mais novos
quando estão famintos. Os cachorros viciados em matar criações não param o
vício senão com a morte.
Com sua marmita improvisada o vigia do
rebanho é um solitário com tempo de sobra para pensar na vida. Sempre à
tardinha conduz os animais de volta colocando-os em cercado de varas com a linguagem:
“enchiqueirar as cabras”.
Em todos os estados nordestinos nos lugares
vistos acima o procedimento é este. Pode, todavia, haver o regionalismo estado
a estado onde palavras diferentes possuem o mesmo sentido.
E como mostrou a reportagem, é sim ainda a
perpetuação do pastoreio dos templos bíblicos, nada mudou nesse mundo encantado
e rude da Mãe de Deus.
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