sábado, 24 de junho de 2017

SÃO JOÃO DIFERENTE



SÃO JOÃO DIFERENTE
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de junho de 2017
Escritor Símbolo de Santana do Ipanema
Crônica 1.688
 
(Folha Vitória).
Tantas vezes já escrevi sobre o São João que perdi a conta. Mas tenho impressão que o ápice se encontra no livro “O boi, a bota e a batina; história completa de Santana do Ipanema” onde descrevo com detalhes o São João da Rua Antônio Tavares onde quase nasci e fui criado. Ali tem uma rua de fogo em duas alas, desde a Cadeia Velha até chegar ao Bairro São Pedro, inclusive, com vários nomes de moradores da época e os costumes da citada rua ─ a primeira de Santana.
Mas hoje, depois de tantos e tantos anos com o clima modificado, morando em outro lugar, já não posso falar em São João com a qualidade de antes. Aconteceu muita chuva e frieza ontem à noite, não permitindo acender a madeira encharcada, em muitas residências. Na minha rua mesmo ninguém fez fogueira ficando a lenha na calçada com a chuva cortando a noite toda.
Não gosto de sair de casa em véspera de Natal e São João. Mas o não sair de casa ontem significava, agasalho, frio, confinamento. Nenhuma fogueira foi feita na minha pequenina rua e, como se diz por aqui, nem mesmo um pé de pessoa.
Algumas bombas e foguetes foram ouvidos na cidade, mas coisa sem força, assim como forró furando os ares sem lugar preciso.
O tal modernismo vai modificando tudo, mexendo até com o São João. O desmatamento proibido da caatinga reduziu enormemente o número de fogueiras que ficaram reduzidas a meia dúzia de paus. A carestia com a ambição dos que vendem fogueiras, também não permitiu acesso à compra de quem gostaria. Outro fator, sem dúvida, foi o asfaltamento em parte da cidade onde ninguém quis colocar fogo no chão.
E, finalmente, o próprio desestímulo oficial fez reduzir a festa que passou de pujante à sofrida.
Passada a véspera, o dia chegou, nublado e frio. Nem sei se vai dar para acender fogueira hoje ou se as bebidas irão continuar sem manuseio. Afinal, isso aqui não Caruaru e nem Campina Grande.
Garganta fraca não pode gritar: Viva São João!





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