RIOS CHEIOS, BARRIGAS CHEIAS
Clerisvaldo B.
Chagas, 10 de junho de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Até agora no
Sertão de Alagoas continua o formidável inverno. Não estamos ainda nem na
metade da época das chuvas e nunca se viu por aqui, tanta água como no mês de
junho. Mesmo pertencente ao período invernoso, o mês de São João sempre foi
moderado, deixando quase toda pluviosidade das duas estações para o mês pesado
de julho. Após os seis anos de seca, junho de 2017 chegou disposto a apagar
toda má impressão do flagelo. Nunca tínhamos visto junho tão bravo como agora. Chuvas
ou muitas ou poucas foi uma tirada só dia e noite sem direito a descanso. No
caso das chuvas, o sertão virou Amazônia, no caso do frio, virou Paraná.
Somente agora à noite o tempo resolveu dar uma trégua depois um mês e nove
dias.
Enquanto a
época traz bastantes transtornos para a capital o velha Sertão de guerra
agradece a Deus todos os dias por tamanha bondade. Tem pasto para o boi, o
cavalo, o carneiro e os bodes que bodejam alegres escolhendo a cabrinha de
preferência. Barreiros, barragens, pilões de pedra, açudes, sangram esbanjando
crédito. Rios e riachos ficaram robustos em suas cheias barrentas avisando a
fartura regional. Corre o Ipanema, o Traipu, Capiá, Dois Riachos, Riacho
Grande, Jacaré, Farias, Desumano, Camoxinga e outros menores, levando para os
nascidos ontem como era no passado. E você quer saber? Daí surge o
feijão-de-corda, de arranca, fava, andu e o milho tão festejado em todos os
lugares. O vento assovia nas telhas e os cobertores pesados não encontram sol
para tirar o cheiro.
Ninguém pode
ser inimigo de inverno e nem verão. O que falta são as ações efetivas e
permanentes para o resguardo de vidas. Na zona da Mata, em muitas cidades as
casas foram construídas muito perto de rios perigosos. Os extensos canaviais
dos grandolas não permitiam ceder um palmo da terra para a pobreza que se foi
acumulando na área de risco. As tragédias são repetidas na capital,
principalmente, pela cegueira das autoridades. Quinze mil famílias vivem dentro
das grotas, clamando por melhoria que quando chegam vêm à moda de conta-gotas. São
Pedro nada tem a vê com isso, pois ele não desvia verbas públicas, nem está
envolvido na Lava-Jato.
Lembra-se da
trégua citada no primeiro parágrafo? Acabou agora mesmo antes de chegarmos ao
último.
No Sertão, rios
cheios, barrigas cheias. Viva a chuva, comadre!
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