AS CAGADAS
DE SANTANA
Clerisvaldo B.
Chagas, 27 de novembro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.788
JABUTI OU CÁGADO |
Na segunda metade do século XX, surgiu em Santana do Ipanema –
Médio Sertão alagoano – o modismo de degustar carne de Jabuti, também chamado
cágado, nessa região. Com certeza havia por aqui, as duas espécies brasileiras,
o jabuti-piranga e o jabuti-tinga. O primeiro é encontrado nas cinco regiões
brasileiras, o segundo, no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Não sabemos quem
foram os primeiros trucidadores dos quelônios, mas havia um comércio restrito
aos apreciadores da iguaria. Eles eram capturados na caatinga do Alto Sertão e
comprados por alguns mercadores santanenses, geralmente transportados em
caçuás. Não havia ainda a proibição de hoje. Pessoas compravam para criar nos
quintais por prazer ou para vendas aos apreciadores. Geralmente, os que
compravam cágados, gostavam de beber.
Poucas pessoas se aventuravam a matar o bicho. Destacavam-se
nessa nauseabunda e horrível empreitada, o Cassiano, morador da Rua Prof.
Enéas, perto do Poço dos Homens, e Filemon que residia perto do Aterro. Os
convidados para a farra denominada “cagada”, eram os filhos de Santana ausentes
que visitavam a terra em tempo de Semana Santa ou forasteiros ilustres. De
fato, uma delícia a “cagada” de Santana do Ipanema. Os cágados eram criados
comendo a mesma comida de porcos, palma e banana. Com o tempo, a tradição foi
se firmando até que as leis começaram a inibir toda a cadeia produtiva até o
consumidor. Antes mesmo do término do século XX santanense já não procurava
cágados no comércio que se tornara perigoso.
Voltamos ao prato típico comum nos sertões nordestinos: a
buchada de bode ou de carneiro. É permitido criar animal selvagem com
autorização, mas quem vai criar jabuti que leva 200 anos para crescer? Devido
ao rigor da lei, ficou proibida a escandalosa “cagada” de Santana do Ipanema.
Nos tempos mais modernos o ato foi parar em setor tão perverso e desgastado que
é melhor nem apontá-lo com o dedo.
Bons ou maus tempos em que o último vendedor de cágados, o
Bebé, andava oferecendo o bicho vivo nas esquinas da “Rainha do Sertão”.
Até logo, comadre. É vapt-vupt!
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