domingo, 26 de novembro de 2017

AS CAGADAS DE SANTANA

AS CAGADAS DE SANTANA
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de novembro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.788

JABUTI OU CÁGADO
Na segunda metade do século XX, surgiu em Santana do Ipanema – Médio Sertão alagoano – o modismo de degustar carne de Jabuti, também chamado cágado, nessa região. Com certeza havia por aqui, as duas espécies brasileiras, o jabuti-piranga e o jabuti-tinga. O primeiro é encontrado nas cinco regiões brasileiras, o segundo, no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Não sabemos quem foram os primeiros trucidadores dos quelônios, mas havia um comércio restrito aos apreciadores da iguaria. Eles eram capturados na caatinga do Alto Sertão e comprados por alguns mercadores santanenses, geralmente transportados em caçuás. Não havia ainda a proibição de hoje. Pessoas compravam para criar nos quintais por prazer ou para vendas aos apreciadores. Geralmente, os que compravam cágados, gostavam de beber.
Poucas pessoas se aventuravam a matar o bicho. Destacavam-se nessa nauseabunda e horrível empreitada, o Cassiano, morador da Rua Prof. Enéas, perto do Poço dos Homens, e Filemon que residia perto do Aterro. Os convidados para a farra denominada “cagada”, eram os filhos de Santana ausentes que visitavam a terra em tempo de Semana Santa ou forasteiros ilustres. De fato, uma delícia a “cagada” de Santana do Ipanema. Os cágados eram criados comendo a mesma comida de porcos, palma e banana. Com o tempo, a tradição foi se firmando até que as leis começaram a inibir toda a cadeia produtiva até o consumidor. Antes mesmo do término do século XX santanense já não procurava cágados no comércio que se tornara perigoso.
Voltamos ao prato típico comum nos sertões nordestinos: a buchada de bode ou de carneiro. É permitido criar animal selvagem com autorização, mas quem vai criar jabuti que leva 200 anos para crescer? Devido ao rigor da lei, ficou proibida a escandalosa “cagada” de Santana do Ipanema. Nos tempos mais modernos o ato foi parar em setor tão perverso e desgastado que é melhor nem apontá-lo com o dedo.
Bons ou maus tempos em que o último vendedor de cágados, o Bebé, andava oferecendo o bicho vivo nas esquinas da “Rainha do Sertão”.
Até logo, comadre. É vapt-vupt!


 






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