NO
TEMPO DOS LAMBE-LAMBES
Clerisvaldo B.
Chagas, 7 de fevereiro de 2018
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.840
LAMBE-LAMBES. FOTO: (JORNAL LANCE). |
Como os mais antigos
fotógrafos profissionais alcançados por nós, estavam Seu Antônio e Seu Zezinho.
Seu Antônio atuava na calçada alta – logo no início da Ponte do Padre. Depois
se mudou para a Rua Coronel Lucena, entre os dois becos de acesso à Rua
Ministro José Américo. Era magro, barba por fazer, calado e fumante. Seu
estabelecimento tinha o nome de “Foto Santo Antônio”. Seu Zezinho trabalhava na
Rua Coronel Lucena (defronte a antiga Praça Emílio de Maia) depois migrou para
a Rua Benedito Melo (Rua Nova) parte de cima, perto do declive de acesso ao
Bairro São Pedro. Morava no próprio lugar de trabalho, era gordinho, branco e
ansioso. Ali funcionava o “Foto Fiel”.
A produção de ambos
era mais voltada para o social, principalmente para documentos 3x4 e fotos
maiores para lembrança. Afora isso, quando convidados registravam eventos como
inaugurações, batizados, casórios, formaturas. Dizem que Seu Zezinho tirou
várias fotos das cabeças dos cangaceiros mortos em Angicos e apresentadas em
praça pública de Santana do Ipanema.
Não havia a percepção
de fotografar inúmeras ruas e prédios públicos para engajá-las à História. Não
havia percepção nem interesse, além do material fotográfico raro e caro.
Já os fotógrafos
denominados lambe-lambes, atuavam na frente da Matriz de Senhora Santa Ana.
Como os outros dois, limitavam-se aos 3x4 dos matutos da feira, das suas poses
nos altares, de casamentos e batizados. Nada de registrarem em geral para a
História, pois eles representavam a própria história presente.
No dia em que chegou
um ditador abusado, meteu grades defronte a Matriz, expulsando os tradicionais
fotógrafos do povo. Daí em diante, os lambe-lambes ficaram desarvorados. Nem na
frente da Igreja e nem mais em lugar algum. A prepotência havia dado o golpe de misericórdia numa
riqueza cultural brilhante, prestativa e indefesa.
Enquanto o Papa anda
com flores nas mãos, outros andam com relhos de couro cru. Droga de tanto ódio!
Dizem os espíritas
que esses são os que reencarnam na marra.
Os fotógrafos ou
retratistas hoje são raros e estão em cidades como Recife e Juazeiro do Norte,
misturados aos romeiros e sobrevivendo como podem.
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