O
ÚLTIMO VIGIA DA NOITE
(UM CONTO DE
ASSOMBRAÇÃO)
Clerisvaldo B.
Chagas, 27 de fevereiro de 2018
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica/conto
1.851
Eu
nem sei o que estava fazendo àquelas horas da noite. Tudo difuso e eu
caminhando pela rua muito comprida e sem calçamento. Caminhando, caminhando,
caminhando, percebi que estava indo para um lugar do asfalto chamado Barragem.
Dali poderia seguir para o centro da urbe. Finalmente cheguei ao final da via
onde um rego seco e uma rampa de aterro me dariam acesso ao asfalto
transversal. O leito seco seria a foz de riacho conhecido que despejava no rio Ipanema. Passei pelo rego
e deparei-me com uma vereda ladeada por alto capinzal. Temi algum bandido por
ali escondido, mas comecei a subir a rampa por ela. De repente fiquei
paralisado sem poder me mover em nenhum sentido, guiado apenas pelo pensamento.
Surgiu uma luz branca e em seguida uma voz ordenando que seguisse. A mesma voz
falava que no início do asfalto havia um bar com muitos bêbados e prostitutas; e
que eu passasse direto em direção ao centro.
Subi
longo ao asfalto, passei pelo bar, percorri longo aclive até chegar à chã. Ali
havia um homem com uma lanterna acesa, grande e antiga – tipo usado pelos
inspetores de trem – pendurada pela alça.
-
E daí? – indagou.
-
Daí o quê?
-
Ora daí o quê!
-
Não me aborreça que eu quero passar.
-
Ah! E é? É o Lampião? Tá pensando o quê? Você viu uma luzinha piscando quando
você passou pelo cemitério? Era eu. Fui eu quem mandou você seguir – rodou algumas
vezes com a lanterna à mão e afirmou: sou o último vigia da noite.
Pensei
até em gratificá-lo por me ter guiado, mas nem houve tempo. Surgiu um homem à
margem da estrada que me disse mansamente: “ele morreu em 1920. Estar querendo
brigar. Nem entendo disso, nem sei o porquê, mas se você disser a ele que vai
botar um garrote em suas costas, ele sairá correndo”.
O
galego deixou a lanterna de lado e armou-se para lutar, à semelhança de um
boxeador. Rodeei-o de punhos armados, quando me lembrei das frases do homem da
margem. Gritei que iria colocar um garrote em suas costas. O vigia sentiu um
abalo. Fui repetindo a frase, complementando-a com força e citando o que
aconteceria a ele com um garrote às costas, dizendo safadeza, até que o último
vigia da noite, partiu ladeira abaixo espavorido.
Não
digo que não vou mais andar à noite por lugares esquisitos. Como dizer, se a
vontade não é minha? Que coisa! Ave.
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