ODE AO
RIO IPANEMA
extra
Clerisvaldo
B. Chagas, 6/7 de dezembro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
POESIA
NA PROSA EM 2.10.2007
Era um imenso e formidável lastro. Um paizão de 220 Km, coleante entre Pernambuco e Alagoas
Os
desbravadores logo perceberam que o rio Ipanema – mesmo temporário –
representava palpitações de vida. Uma veia grossa que irrigava todo o corpo
sertanejo. E o pai amigo, generoso e bom, logo presenteou o semiárido com uma
cidade morena, dourada, plena de Sol e ornada de colinas, chamada Santana.
As
águas vivas sobre as areias, as águas serenas sobre as areias, as agitações
supremas de cima, as quietudes divinais de baixo, o tempero salobro da ribeira,
mataram a sede da “Rainha do Sertão”. E o rio gritou bem alto: Façam as casas,
eu dou a areia; fabriquem os tijolos, eu cedo o barro verde; definam seus
tetos, eu contribuo com argila; lembrem dos alicerces, eu tenho pedras
milenares; tragam os animais, usem meus pastos; provem dos meus deliciosos
peixes, e... Quando estiverem cansados do trabalho dignificante, durmam sobre
colchões e descansem com travesseiros dos meus juncais.
E as
espumas desciam das roupas sob lindos cânticos das lavadeiras caboclas; dorsos
robustecidos submergiam nas águas turvas; e o sopro da leve brisa amenizava o
suor negros dos corpos noturnos e nus.
Grita
Santana, teu nascimento! Berra Santana, tua expansão! Enfeita teus aromáticos
cabelos com a flor da craibeira. Embala teu berço com o sussurro do Cruzeiro,
com a lenda da caipora, com o doce murmúrio dos regatos do mês de julho.
Silêncio,
que esvoaça o gavião, câmera natural que filma e comanda os céus de borboletas
e bem-te-vis. Olhos mágicos que perscrutam o Panema e a flora, e a fauna, e o
relevo privilegiado do lugar. Sentinela altivo das paixões, dos amores... Dos
queixumes do povo santanense.
Deus
fez o Ipanema, o Ipanema fez Santana, Santana observa seu criador pelas frestas
das portas, pelos rachões das janelas, pelas varandas de aroeiras... Pelo
mormaço das tardes preguiçosas ou pela íris da mulata da ribeira.
Erga-se
meu herói sertanejo, que o astro-rei traz a luz no Oriente; que os matizes do
azul marcham no firmamento. Já soaram as trombetas dos pardais.
Breve,
breve, minha cidade estará de pé; bênção meu Panema. Deus no ilumine neste novo
dia.
RIO IPANEMA,
SERENO, VISTO DA TRAVESSA PROF. ENÉAS. (FOTO: JEANE CHAGAS)
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