terça-feira, 19 de setembro de 2023

 

NAS BARREIRAS DO PANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de setembro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.966

 





Pela tradição secular e de nossos avós, chamamos o nosso rio Ipanema, simplesmente de Panema. A supressão do “I`”, aumenta ainda mais o nosso amor a esse curso d’água de denominação indígena – água ruim para beber – mas que assegurou a existência dessa civilização das caatingas alagoanas. Mais de dois séculos matando a sede do santanense, o rio Ipanema é a grande relíquia geográfica do Sertão. E todas as vezes que se anda pelo seu leito de período seco, se descobre curiosidades que interessam de perto a pesquisadores, infelizmente cada vez mais sumidos. E como de vez em quando bate a saudade da paz que reina no seu leito, fomos percorrer novamente o trecho Barragem – imediações da Rua Delmiro Gouveia.

Nem parece que aquele caminho de areia grossa está exatamente no meio da cidade, tal a imensa solidão e a paz reinante por ali.  Se por um lado tem fundos de residência, por outro, predominam as barreiras imensas e inclinadas cujo topo, lá longe, permite ruas e prédios importantes como UFAL e Hospital. É aí, em determinado ponto das barreiras onde se aninham as garças pantaneiras em épocas de migração. Na busca por alimentos, as aves caçam peixes nos poços do Panema. Alguns daqueles poços que sobraram das cheias, cobrem-se de um tapete verde de plantas aquáticas, muito bonito, por sinal, mas motivadas pela poluição da qual se alimentam. As garças pousam sobre o tapete verde e agem nas águas com seus bicos longos.

O espetáculo é deslumbrante e raro, numa região sertaneja e tão longe do Pantanal mato-grossense. Lembramos de nossos arquivos onde registramos o fato numa incursão da AGRIPA pela área. Dessa vez as pantaneiras ainda não haviam chegado e continuamos a apreciação da Natureza. As barreiras do Panema estavam de mato verde, o que equivale a uma pequena floresta. Isso impedia a visão do ninhal mais acima e visto outrora. Quando o tempo está assim, pode aparecer cobra nas trilhas e nos pedregulhos doa areal, mas nada de serpentes, nem de roedores, nem de outros bichos selvagens, quando muito, um “tsiu” longínquo de algum bem-te-vi mais atento. Você quer paz, mas não almeja solidão. Para que continuar?

Meditação e retorno sob as bênçãos das barreiras do Panema.

GARÇAS PANTANEIRA NO LEITO DO RIO IPANEMA E NINHAL DA MARGEM AO ENTARDECER (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).


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