segunda-feira, 25 de setembro de 2023

 

VENDE-SE UMA CASA

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de setembro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.968



 

Ouvindo agora o que foi o maior cantor do mundo, em minha opinião, Altemar Dutra, bateu-me um sentimento grande de saudade e comoção ao lembrar um episódio do passado. Junto a um companheiro, não lembro quem, fomos tomar uma cervejinha gelada no chamado serrote do Pelado, modernamente denominado Alto da Fé. Nesse monte, já urbanizado, havia uma casa suspeita com um bar defronte. Podia-se curtir a paisagem da parte norte de Santana do Ipanema enquanto se bebericava. Foi, então que vi chegar um carro com um casal – ainda hoje a subida de carro não é fácil – pediram uma cerveja e sentaram-se à mesa vizinha. Ele, já um senhor de meia idade, ela, uma senhora não tão bonita, mas com certo charme, em torno de 30 a 40 anos. Ela fumava, ele não.

Eu observava, disfarçadamente, aquele casal, cuja alegria da mulher com o foco no seu acompanhante era bem visível. Ele muito tranquilo, apenas mexia com as chaves do veículo. Descobrimos forçando uma aproximação, que o casal era de Arapiraca e estava fazendo um tour pelo Sertão. A mulher era divorciada e aquele cidadão era o seu novo amor. Ah! Só poderia ser. A senhora não cabia na saia de tanto contentamento. Só havia olhos para o companheiro que procurava disfarçar. Nesse momento ela pediu a música “Vende-se Uma Casa”, do compositor e cantor Jota Ribeiro, uma página brega de grande sucesso da época. O homem continuava tranquilo, falando pouco, mas a mulher ficou vermelha, emocionada, olhos injetados, mesmo assim não demonstrava nenhuma tristeza, só emoção com novo o idílio.

Eles disseram que ainda iriam percorrer várias cidades até voltar para a “Terra do Fumo”. Nunca tinha visto tanto felicidade brotando numa senhora. Deixamos o lugar quando o casal pediu uma saideira. Na cabeça ficou a impressão daquele encontro durante muito tempo. Pensei como poderia tirar proveito da ocasião para mim inusitada. E, lá adiante, eu escrevia um romance do ciclo do cangaço, quando precisei de cena semelhante. Fui mentalmente ao serrote Alto da Fé, dei novos nomes ao casal apaixonado, conduzi a dupla, para a época cangaceira e os transformei em personagens de um dos meus romances. O tempo nos revela cada coisa!

Vende-se uma casa!

 

 

 


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