VENDE-SE
UMA CASA
Clerisvaldo
B. Chagas, 26 de setembro de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.968
Ouvindo
agora o que foi o maior cantor do mundo, em minha opinião, Altemar Dutra,
bateu-me um sentimento grande de saudade e comoção ao lembrar um episódio do
passado. Junto a um companheiro, não lembro quem, fomos tomar uma cervejinha
gelada no chamado serrote do Pelado, modernamente denominado Alto da Fé. Nesse
monte, já urbanizado, havia uma casa suspeita com um bar defronte. Podia-se
curtir a paisagem da parte norte de Santana do Ipanema enquanto se bebericava.
Foi, então que vi chegar um carro com um casal – ainda hoje a subida de carro
não é fácil – pediram uma cerveja e sentaram-se à mesa vizinha. Ele, já um
senhor de meia idade, ela, uma senhora não tão bonita, mas com certo charme, em
torno de 30 a 40 anos. Ela fumava, ele não.
Eu
observava, disfarçadamente, aquele casal, cuja alegria da mulher com o foco no
seu acompanhante era bem visível. Ele muito tranquilo, apenas mexia com as
chaves do veículo. Descobrimos forçando uma aproximação, que o casal era de
Arapiraca e estava fazendo um tour pelo Sertão. A mulher era divorciada e
aquele cidadão era o seu novo amor. Ah! Só poderia ser. A senhora não cabia na
saia de tanto contentamento. Só havia olhos para o companheiro que procurava
disfarçar. Nesse momento ela pediu a música “Vende-se Uma Casa”, do compositor
e cantor Jota Ribeiro, uma página brega de grande sucesso da época. O homem
continuava tranquilo, falando pouco, mas a mulher ficou vermelha, emocionada, olhos
injetados, mesmo assim não demonstrava nenhuma tristeza, só emoção com novo o
idílio.
Eles
disseram que ainda iriam percorrer várias cidades até voltar para a “Terra do
Fumo”. Nunca tinha visto tanto felicidade brotando numa senhora. Deixamos o
lugar quando o casal pediu uma saideira. Na cabeça ficou a impressão daquele
encontro durante muito tempo. Pensei como poderia tirar proveito da ocasião
para mim inusitada. E, lá adiante, eu escrevia um romance do ciclo do cangaço,
quando precisei de cena semelhante. Fui mentalmente ao serrote Alto da Fé, dei
novos nomes ao casal apaixonado, conduzi a dupla, para a época cangaceira e os
transformei em personagens de um dos meus romances. O tempo nos revela cada
coisa!
Vende-se
uma casa!
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