terça-feira, 1 de julho de 2008

PADRE CÍCERO
(Clerisvaldo b. Chagas-2.7.2008)
Nasceu Cícero Romão Batista em 1844, ordenou-se em 1870 e chegou ao Juazeiro no final da década de 1880. Foi eleito prefeito em 1911.
O Padre Cícero do Juazeiro começou em sua fama a partir do que foi chamado "milagre da hóstia". Nessa ocasião, a hóstia teria sido transformada em sangue na hora da comunhão, na boca de uma beata. Teve início aí às grandes levas de católicos em busca daquela cidade e do futuro líder espiritual. Envolvido depois na política e em episódios de embates, Cícero angariou ciúmes civis e religiosos pela sua condição de arrebanhar multidões em torno de si.
Mesmo afastado da Igreja e até por ela excomungado, aumentavam a cada dia as levas dos que o procuravam em busca de conselhos e curas das suas mazelas.
Os testemunhos a respeito dos seus milagres, pelos sertanejos nordestinos, não caberiam em inúmeros livros de mil páginas. Pela zona do Sertão alagoano não se conversa com os mais antigos que não tenham pelo menos um milagre a ser contado.
Não importa os que falam contra Cícero. As ondas de milhares e milhares de pessoas que ainda hoje procuram o Juazeiro agem como se o mito religioso ainda estivesse na Terra. Centenas de ônibus, caminhões paus-de-arara e automóveis lotam ruas e mais ruas do Juazeiro do Norte em busca de sua estátua, da casa onde viveu, das suas relíquias pessoais. Milhares sem conta de promessas são pagas nos dias de Nossa Senhora das Dores e nos festejos de morte do Padre Cícero.
Graças a sua fama, a cidade do Juazeiro progrediu e abriga, hoje, incontáveis pequenas indústrias de artigos religiosos. Juazeiro do Norte tornou-se, sem dúvida alguma, a Meca do Nordeste brasileiro.
Em Santana do Ipanema, estado de Alagoas, em poucas horas colhem-se inúmeros milagres a ele atribuídos em entrevistas com os mais velhos. Pessoalmente tenho alcançado milagres antigos e recentes, além de narrativas familiares com o mesmo direcionamento.
O Padre Cícero do Juazeiro continua forte na execução de milagres... Tão forte ou mais de que quando habitava o simpático vale do Cariri.
Finalmente a Igreja Católica rendeu-se às virtudes daquele já consagrado pelo povo. Não existe nada que possa barrar os sentimentos profundos de uma população que tem fé. E tem fé não somente pela fé. Mas pela fé comprovada na realidade dos benefícios longamente expostos por indivíduos em cada metro quadrado da terra nordestina.
Cremos que hoje, amanhã ou depois, o Brasil terá oficialmente o seu santo genuinamente brasileiro, nordestino e sertanejo, quebrando o elitismo de santos europeus.
A Igreja Católica somente ganhará, reparando a tremenda injustiça que fez com o santo do povo. Aliás, a Igreja apenas confirmará a vontade do Alto, pois a voz do povo é a voz de Deus.
Inveja existe em todas as instituições e lugares do mundo.

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O RABO DA MÃE


O RABO DA MÃE
(Clerisvaldo B. Chagas-1.7.2008)

Dizem que jogo de azar é coisa do demônio. É coisa do demônio porque vicia, porque defrauda, porque desagrega, porque desmoraliza, porque induz ao suicídio. Quem avalia os vícios da bebida, do fumo e do jogo, costuma colocar o último como o pior de todos por causa dos motivos expostos acima. Entre as várias modalidades do jogo, está o carteado. Neste sistema, o colorido das cartas, a tensão e o silêncio impregnam o ambiente como se os jogadores fossem almas do outro mundo, duendes, fantasmas, seres diáfanos num encontro de surdina enigmática. Os que não apreciam a jogatina, dizem que o inimigo está ali presente comandando a mesa.
No Nordeste brasileiro existem aqueles que gostam de coisas prazerosas como ouvir programas de repentistas. (Repentistas são encantadores de gente). A inteligência, a métrica perfeita, o pensamento ágil, a diversidade criativa, o rebate sensacional, cativam para sempre na cultura popular. Quando as cordas da viola iniciam o baião cadenciado, sonoroso, arrebatador, provocam um êxtase e uma perspectiva no ouvinte ávido por coisas novas, criadas na hora, saboreadas nas rimas magistrais dos violeiros.
Entre os apreciadores do jogo e do repente, estava o funcionário público federal, aposentado, José Maximiliano, em Santana do Ipanema, Alagoas. Baixinho e de gênio irascível, José também tinha veia poética, escrevia alguma coisa e recitava versos aprendidos para os camaradas.
Duas ocasiões de Maximiliano são contadas pelo charadista e enxadrista famoso Antonio Honorato, conhecido simplesmente por Tonho de Macelon. Também de veia poética, e dono de bar, Tonho mantinha o ponto de encontro da boêmia santanense e dos fanáticos por futebol na era de 50. Tonho de Macelon também freqüentava as mesas de jogo nos fundos do bar de sinuca de Manoel Barros no comércio santanense.
Como primeira observação do Tonho, José Maximiliano, ao perder bastante no baralho, deixou o antro pela madrugada, machucado e desesperado por dentro, parou na calçada, olhou o tempo e disse: “Eu só queria que um bicho me comesse antes de chegar em casa”.
Havia um programa radiofônico intitulado “Onde está o poeta?” Maximiliano era ouvinte assíduo do programa. Certa feita, mais uma vez perdendo no jogo e mal humorado, teve  a surpresa de ouvir bem pertinho da orelha palavras macias de Tonho Macelon que acabava de chegar: “onde está o poeta?” E José Maximiliano, doente com o jogo, fulo com a intervenção, descontou de vez o acumulado da madrugada. Aplicou dois murros bem criados na mesa velha de cedro, virou-se para o interveniente, lançou dois olhares de fogo e raiva, e como resposta quente, seca e rápida, atirou o rojão como resposta: “Está no rabo da mãe, seu filho de uma puta!”
Tonho correu para longe e descontou apenas com um riso catita, um riso amarelo, riso de mangação dos desenhos animados.
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