segunda-feira, 22 de março de 2010

DE ONDE VEM A FOME

DE ONDE VEM A FOME
(Clerisvaldo B. Chagas. 23.3.2010)

Podemos dizer que a fome no Brasil teve início com o sistema colonial português. Havia antes disso, a prática de uma agricultura chamada de subsistência praticada pelos nativos. Esse tipo de agricultura é voltado exclusivamente para as necessidades básicas alimentares da população. Mesmo vivendo da caça e da pesca, os indígenas brasileiros praticavam uma agricultura como ainda hoje acontece, à base do milho e da mandioca. A colonização portuguesa ─ com agricultura praticamente obrigatória ─ levou mão-de-obra disponível para as grandes plantações que interessavam apenas a Lisboa. Assim, o tipo de agricultura de roça deu lugar às imensas plantações de cana-de-açúcar, café, cacau, amendoim, fumo e algodão. Com essas atividades diferentes, as práticas mais antigas na colônia ficaram esquecidas pouco a pouco em relação à subsistência. Como se pode observar, o alimento básico ia sumindo, principalmente da mesa de núcleos urbanos como vilas, cidades e maiores povoados. A alimentação básica não faltava, porém, para a elite colonial dominante de alto poder aquisitivo. No campo, fora dos domínios das grandes plantações, ainda se praticava a agricultura familiar. Mesmo perto da plantation da cana-de-açúcar, em Alagoas, o domínio de Zumbi na serra da Barriga, era uma república negra de barriga cheia; graças à agricultura de origem africana do sistema roça. Nos lugares mais povoados, entretanto, a fome apertava a população pela escassez dos produtos substituídos.
No quadro da época colonial, quando se falava em luxo e riqueza no Brasil, era somente na ala exportadora das classes dominantes, como a dos senhores de engenho no Nordeste ou a dos barões do café do Sudeste. Na outra ala, miséria e fome castigando grande parcela da população. Em nosso estado, herdamos a triste realidade de Alagoas açucareira rica, mesmo assim com frase falsificada. Não Alagoas açucareira rica, mas sim, a classe dos Senhores ricos, SÓ. O Sertão continua esquecido. A renovação econômica industrial, como alternativa proposta pelo governo estadual, não consegue sair da praia. São os mesmos vícios coloniais que persistem nas Alagoas com a discriminação do chapéu de couro.
Se não fossem os programas federais para distribuição de renda, o Sertão estaria fadado aos destinos das secas anteriores. Se a origem da fome foi o sistema mercantilista colonial, a falta de desenvolvimento sertanejo forma raízes nas sucessivas e cegas administrações estaduais, principalmente. Santana do Ipanema, como a mais importante cidade do médio e alto Sertão, precisa urgentemente de um centro tecnológico semelhante à Campina Grande para fomentar o desenvolvimento sertanejo como um todo. Fora o canal do Sertão que vem aí, o resto são migalhas que esporadicamente caem das mesas dos poderosos. Estamos vivendo um novo colonialismo em que a tônica é a ignorância, má vontade, desprezo e falta de compromisso com o povo; é daí agora DE ONDE VEM A FOME.




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domingo, 21 de março de 2010

O DRAGÃO DE SÃO JORGE

O DRAGÃO DE SÃO JORGE
(Clerisvaldo B. Chagas. 22.3.2010)

Os homens desse planeta continuam com o hábito inarredável de mando. Mandar é fazer dos outros escravos. O pior de querer mandar é mandar em tudo. E o pior de querer mandar em tudo é quando o mandante possui todos os defeitos contrários às virtudes. Podemos citar como exemplo, para não irmos longe, a área de atuação de qualquer prefeito do interior. Primeiro afasta a ideia de que é um gerente do povo e age como proprietário da prefeitura. Coloca na cabeça que é dono da vontade dos munícipes. Fora tantos e tantos absurdos que põe em prática, ainda acha pouco. Parte, então, para comprar o delegado, o juiz, os presidentes estaduais de partidos e assim por diante.
Lembro de certa vez quando apresentamos uma exposição cultural na AABB e fomos deixar um grupo de pagode no sítio Alto do Tamanduá. Ali pedi um tema: “É o dragão de São Jorge/ querendo comer o mundo”. Foi uma só animação com os casais dançando no barro batido e três mestres tirando versos com o mote solicitado. Difícil era encontrar rima para Jorge, mas eles remendavam e criavam, mérito maior do cantador.
Quando a ONU foi criada, os grandes se apoderaram da sua sombra como forma mais fácil de dominar os países do mundo. É uma espécie de associação que só quem manda é a turma do prefeito, digo, o Conselho formado pelos criadores. A ONU prega a democracia, mas ela própria pratica a ditadura que manda e desmanda com o famigerado Conselho Permanente. “Só nós e para nós”, devem pensar àqueles membros. Seria até bom que os países emergentes fundassem uma ONU paralela, juntamente com os pobres.
Quando o jornal britânico The Time diz que Lula pretende ser o secretário da ONU, mostra as virtudes do político brasileiro, mas vai logo advertindo sobre o desagrado aos Estados Unidos por o Brasil ter recebido Mohmoud Ahmadinejad em casa. Mostra também a intolerância da Inglaterra por causa da simpatia do Brasil pela Argentina no caso das Malvinas. Lula, não querendo canga no pescoço do Brasil, até falou na Jordânia sobre a tradição do Oriente em aceitar donos, isto é, incentivou um grito do Ipiranga naquela região. Daí vem à ameaça de que o presidente brasileiro seria barrado nas suas pretensões, por não rezar na cartilha dos ianques. O presidente Lula que se cuide. Não se atinge o palco peitando na multidão e sim com uma relação infindável de “dá licença, dá licença...” Como agem os prefeitos do interior do Nordeste, agem os membros do Conselho da ONU. Ou os de lá aprenderam com os daqui, ou os daqui aprenderam com os de lá. Mas assim como se construiu uma novíssima ordem mundial, pode-se construir uma nova ONU, muito embora a China e a Rússia já estejam confortavelmente em seus assentos perpétuos.
Não podemos esquecer ainda a parceria estratégica Brasil-França, ambos querendo se firmar como novas lideranças mundiais sem a tutela dos Estados Unidos. Tem muitas coisas no Globo que somente aguardando pacientemente os resultados. Algum acontecimento grande está para acontecer. Embora não acreditemos, esperamos que seja para o bem da humanidade. Mas do jeito que a coisa vai não parece distante a vinda gloriosa do DRAGÃO DE SÃO JORGE.


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