domingo, 4 de abril de 2010

ACOCHANDO TUDO

ACOCHANDO TUDO
(Clerisvaldo B. Chagas. 5.4.2010)
As Contínuas transformações nos climas da Terra vão cada vez mais robustecendo as palavras de renomados cientistas. Ninguém pode ignorar, sob hipótese nenhuma, as mudanças registradas em todos os lugares do mundo. Mesmo o homem sem instrução, acusa no lugar em que habita algumas diferenças na pluviosidade, no aumento da temperatura, na escassez ou no exagero de enchentes que não aconteciam antes. Até mesmos os fabricantes de tecidos são contrariados pelas variedades não esperadas durante as estações do ano. Em todos os lugares do Planeta as coisas estão acontecendo. Degelo mais rápido, desaparecimento de ilhas, erupções vulcânicas surpreendentes e contínuos terremotos em diversas regiões ao mesmo tempo. Há os que dizem que isso tudo é causado pelo aquecimento global. Claro, é mais do que provável essa afirmação. Agora o duelo é mais sobre a raiz do problema. O tal aquecimento é forçado pelo homem ou é apenas um ciclo natural que se fecha provocando um novo que se abre?
Há dezenas de anos circulava reservadamente, a notícia de que o mar de Aral estava secando. Existiu e ainda existe certa mania asiática, principalmente na China e Rússia (antiga União Soviética) em esconder tragédias. Nem sabemos quais os benefícios impostos por essas atitudes mesquinhas e ridículas que trazem as tristes lembranças da “cortina de ferro”. Existem outras atitudes asiáticas na Tailândia, na Indonésia, nas Filipinas que a nós ocidentais parecem arcaicas e exóticas.
É de se estranhar mesmo assim, que só agora o secretário-geral da ONU, senhor Ban Ki-moon, tenha procurado tomar conhecimento do sumiço de um mar inteiro. O mar de Aral, localizado entre dois países independentes que faziam parte da antiga União Soviética, era considerado o 4º do mundo. Com um projeto de irrigação dos soviéticos para a lavoura do algodão, o mar encolheu e hoje representa apenas 10% do original. Também chamado lago, o Aral, entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, no momento representa apenas um imenso deserto de areia salgada, cemitério de navio e passarela de camelos. Suas tempestades de areia prejudicam a saúde de populações desde o extremo da Ásia (Japão) ao extremo da Europa, na Escandinávia. Agora, com a pesca reduzida, também surgem outros problemas sociais. É dramática a luta pela água nessa região, gerando mal-estar entre nações. Mas o que nos chama atenção mesmo, na parte social e política, é a denúncia tardia do secretário da ONU ao sobrevoar a região do problema. Sua declaração de que aquele é o maior desastre ecológico mundial, parece uma surpresa de total desinformação. Por que só agora, senhor Ban Ki-moon?
Se a explicação dos nuances asiáticos fosse repassada para o saudoso poeta-repentista Zezinho da Divisão, teria sido até bom para o senhor Ki-moon. O “Galego” teria escutado com a cara larga mais inocente de todas, balançado a barriga avantajada e dito como tema “empaiolado”: “SÓ VAI ACOCHANDO TUDO”.
• Empaiolado = Tema costumeiro; tema de estrofes viciadas.





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quinta-feira, 1 de abril de 2010

ZÉ 38

ZÉ 38

(Clerisvaldo B. Chagas. 2.4.2010)
Do CD “Sertão Brabo I”

Morava no sítio Palmas
Matador de profissão
O cruel Zé 38
Magrelo do bigodão
Tinha os zoi da cor de fogo
Matava sem ter arrogo
Mulher, menino, ancião.

Foi assim que Zé matou
Do pobre ao remediado
Pra matar padre e juiz
Ele pedia dobrado
E antes que me esqueça
Sempre cobrou por cabeça
Aumentando o apurado.

Meu avô era roceiro
O chapéu era o capuz
Mas tinha sabedoria
Falava: deus me conduz!
Não temia o horroroso
Um devoto fervoroso
Do coração de Jesus

Meu avô um dia viu
Zé matando João Sindô
Quando passava no sítio
Chamado Bela Fulô.
Sexta-feira da Paixão
Chegou o fio do cão
No rancho do meu avô

38 foi dizendo:
─ Ô velho vim te matar
Ninguém me pagou pra isso
Mas pra você não falar
Pois não confio em vovô
E o crime de João Sindô
Não se pode boatar.

─ Zé você tá esquecido
Hoje é Sexta-feira Santa
(meu avô lhe respondeu)
Até mesmo a salamanta
Se esconde no sopé
Hoje não morde no pé
Sua ousadia me espanta.

O bandido enfarruscado
Respondeu: ─ é caduqueira
Quando o cabra fica velho
Só sabe dizer besteira
Que todo dia é comum
Eu nunca fui matar um
Pra não vê a bagaceira...

Sexta-feira que eu conheço
É bala, meu camarada,
Tu que só véve rezando
Perde tempo nas estrada,
Seu Deus é feito de pó
Vou lhe dar um tiro só
Nunca mais tu reza nada...

Eu vejo quando tu passa
Todo domingo pra igreja
Em vez de perder seu tempo
Devia estar na peleja
Vou acender um cigarro
Peça a seu Jesus de barro
Que agora venha e proteja.

Meu avô ajoelhou-se
Apontou o coração
Abriu os braços e lhe disse:
─ Pode atirar, valentão.
E do pistoleiro rouco
O revólver quebrou coco
Cinco vez na sua mão.

Na sexta vez o revólver
Daquele monstro sem luz
Jorrou o sangue divino
Com o meu avô em cruz
Juro com toda firmeza
Absoluta certeza
Que o sangue foi de Jesus.

deu um grito medonho
Com esse fato colosso
Afastou-se apavorado
Revólver cabo de osso
O cruel ia levando
O sangue fino pingando
Caindo e ficando grosso.

o bandido carrasco
Que a ninguém considera
Tinha matado setenta
Com o coração de pantera
Bem naquela sexta-feira
Logo depois da porteira
Já não sabia quem era.

enlouqueceu na sexta
Na segunda se enforcou
Porque Sexta-Feira Santa
A fera não respeitou
Hoje quem passa nas Palmas
Ouve os lamentos das almas
Dos homens que Zé matou.

FIM
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