quinta-feira, 13 de maio de 2010

SOLDADINHOS

SOLDADINHOS
(Clerisvaldo B. Chagas. 14.5.2010)
E vou contemplando velhas e novas ruas da capital. Lembro de uma pesquisa feita aqui mesmo no Instituto Histórico e Geográfico. Igaçabas, flechas, cocares, lanças... A mulher que dizia estudante só pagar a metade. No pátio, o canhão antigo e conservado que defendia a terra contra invasores navais. Chapéu, armas e roupa de Lampião. Lembro do escritor Ernani Mero em relação ao Instituto. “Venha para Maceió, meu amigo, também gosto muito de Penedo, mas aqui eu sirvo melhor a minha terra”. Deixo a ladeira do Brito, revejo o Parque Gonçalves Ledo, tão bonito, sendo rondado por estupradores (ver jornais passados). E esses arredores altos que me chamavam atenção, hoje apresentam mansões abandonadas e o medo dos marginais que perambulam. Muitas outras mansões fechadas, decadentes, cujos donos morreram ou resolveram migrar para apartamentos e condomínios fechados. O Maceió antigo vai virando manchas, substituindo residências por casas comerciais e, os brancos paralelepípedos pelo preto-cinza do asfalto. Quero entrevistar os sem-terras da Praça Sinimbu, mas o motorista teme como outros motoristas temem. O sinal vermelho não impede o avanço do veículo. Ninguém para, nessa tarde de domingo. As lonas pretas contrastam com o verde das árvores no palácio dos homens do campo. Falam-me que uma pracinha sem bancos, sem nada, é chamada de Praça da Macaxeira. O povo que vende o produto no chão vai batizando os logradouros. Muitas novidades no distrito industrial, no aeroporto, nos bairros de cima que se modernizam com o vertical do concreto.
É na praia da Jatiúca onde estão muitos benefícios que melhoram a qualidade de vida. Ali percorro trechos em coletivo mirando terras e águas. Uma senhora, ao meu lado vê garotos uniformizados e não resiste: “Hem, hem! Parece um rebanho de soldadinhos! O senhor conhece soldadinho?” Vejo que a senhora é do interior. Chega uma vontade medonha de conversar com ela. Estar sentindo-se como eu, repleta de saudades. Mas não me sinto propenso a conversas, naquele momento. Apenas balanço afirmativamente a cabeça. Claro que conheço soldadinho. Pássaro que carrega uma crista vermelha na cabeça. Antigamente ele nos encantava mesmo no meu interior, mas já não existe no lugar onde moro. O interior da senhora do coletivo ainda pode se deslumbrar com esses bandos de soldadinhos, para ela, aqui, felizmente transformados em meninos.
Não sei por que tantas lembranças perseguem a gente na caminhada da vida. De vez em quando encontramos um parceiro saudoso que divide os passos da jornada. Pouco a pouco outros cenários vão surgindo no plano físico e no espiritual, moldando a alma de quem caminha. Muitos castelos vão ruindo, mas novos jardins vão inebriando o viajor. Quando a “dama bonita e tristonha” aparece, é hora de meditação. É o momento de vermos uma tela que se apresenta repleta de SOLDADINHOS.


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TEMPO DO ADEUS

TEMPO DO ADEUS
(Clerisvaldo B. Chagas. 13.5.2010)
Não sou torcedor fanático de time nenhum. Quando joga a seleção brasileira, contudo, aumenta sim o meu espírito de brasilidade. E mesmo não sendo daqueles que acompanham cotidianamente o futebol, não tenho como fugir das notícias da bola que alentam milhões de seguidores. Não lembro há quantos anos ouvi um comentarista famoso da televisão falando sobre as promessas do esporte. Entre outros comentários, dizia ele que estava despontando um menino pobre, muito bom no drible e na personalidade. Dizia ainda o profissional, que o garoto chutava com os dois pés, o que era uma raridade em nossos estádios. Encerrou esse assunto advertindo que todos ficassem de olho que esse menino iria longe. Estava referindo-se a Ronaldo. Dessa vez não mostrou a sua imagem e eu ainda não o conhecia. Depois o Ronaldo foi subindo e se tornou o xodó do Brasil. No auge da sua fama em terras brasileiras, foi embora para o estrangeiro chegando à posição de melhor jogador do mundo. O apresentador da televisão estava certíssimo. Fora quase um profeta com seus olhos e conhecimentos abalizados. Ganhando o apelido de “Fenômeno”, Ronaldo passou a ser querido também pela sua personalidade dentro e fora de campo. Como um garoto pobre e morador de favela podia possuir um comportamento, maduro, sincero e equilibrado? O “Fenômeno” deixa de ser somente o xodó do Brasil e passa a ser o xodó do Planeta.
Rico, poderoso, seguindo a natureza humana, o jogador vai aqui, acolá, ao encontro de escândalos. Enfrenta oito cirurgias, engorda, tomba na fama e vai enfrentando os reveses muita vezes sem sucesso. Dos estádios europeus, palco de lutas desfavoráveis, foge para o seu refúgio brasileiro. Mas a mídia está em todos os lugares. Ao invés de dá um basta na sua carreira, prefere a vontade de jogar e o engano bondoso da melhora. O peso não mais lhe abandona. E o “Fenômeno”, o santo brasileiro dos estádios, sai de campo vaiado por milhares de torcedores cariocas. Respeito mais nenhum. Com grande dificuldade Ronaldo vai à Imprensa. Cabeça erguida, mas com uma aura de tristeza infinita que deixa o torcedor com pena. É o seu martírio pela via - Dolorosa. Mesmo assim ainda lhe resta um pouco de esperança, quem sabe, milagres acontecem. Mas a convocação para a copa acaba de erguer uma coroa de espinhos e colocar sobre a sua cabeça.
O Rei Pelé, vez em quando fala suas asneiras, mas tem razão quando aconselha a alguns deixarem os campos futebolísticos no momento certo. Eles, todavia, ignoram os conselhos e preferem continuar a guerra sem munição. Ao contrário de um pensamento pessimista, estamos, infelizmente, falando do mundo real. Como brasileiro, fiquei morto de vergonha com as vaias para aquele que nos deu tantas e tantas alegrias. Como pessoa, senti toda tristeza e frustração do “Fenômeno” em suas melancólicas entrevistas. O destino também joga como time de futebol. Como enfrentou inúmeras e duríssimas batalhas, Ronaldo precisa entender também o TEMPO DO ADEUS.


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