segunda-feira, 12 de julho de 2010

PETRÓLEO

PETRÓLEO
(Clerisvaldo B. Chagas. 13.7.2010)
O gerente vai mostrando tantas e tantas peças de plástico úteis para o lar. Impressiona a variedade e texturas do material. Na verdade, há uma infinidade de coisas feitas à base de petróleo. E vamos transportando os pensamentos há tempos outros, quando esses objetos eram raridades. As mulheres sertanejas andavam quilômetros com o pote de barro à cabeça. Uma luta desesperadora pela sobrevivência. Potes de barro, sim senhor, para transporte e depósito do líquido insubstituível. Lá no canto da cozinha, tampa de pano ou de madeira, a água esfriava e adquiria sabor. Assim era a jarra, do mesmo material, e que pegava vários potes d’água. Ainda havia o purrão, maior do que a jarra, fazendo parte do trio de depósito. Outro vasilhame utilizado, era a lata de querosene, uma das primeiras que surgiram no Sertão. Depois veio a lata de tinta, de margarina, que substituíam aos poucos a de querosene. Lata d’água na cabeça, até motivo de samba nos morros cariocas. Vasilhame de ferro e estanho. O complemento da lata e do pote, era a rodilha de trapo. Lá se vão às mulheres sertanejas, brancas, mulatas, caboclas, subindo as veredas, ganhando os caminhos. Pescoços rígidos, saias curtas, molejos sensuais nas nádegas volumosas. Havia também outros objetos de copa e cozinha, antes do tal plástico, feitos de louça, ágate, estanho e cobre.
O petróleo foi ganhando espaço através das refinarias. Apesar da poluição de origem petrolífera e de novas fontes energéticas, ainda são construídas essas refinarias em todos os lugares. Do petróleo temos a gasolina, óleo, graxa, piche, naftalina, querosene, gás, asfalto, coque, alcatrão, parafina, breu e ceras. O plástico foi produzido pelo inglês Alexandre Parker, em 1862. Os objetos de plástico são leves, eficazes e baratos. Logos atingiram a população de baixa renda. São vendidos tanto em lojas sofisticadas quanto no meio das feiras livres de qualquer interior. Até a tradicional cuia sertaneja, feita da cabaça, virou lata de queijo-do-reino, depois objeto de material plástico.
O Brasil é um país, cujo progresso acontece sobre pneus. Foi essa a opção do transporte interestadual básico. As ferrovias ficaram em segundo plano ou excluídas das prioridades urgentes do País. Agora estão voltando devido aos problemas crônicos de escoamento da produção para os portos, notadamente no Meio-Norte. Causou tristeza quando uma autoridade falou há alguns dias sobre o caos nas rodovias brasileiras. O homem afirmou que somente daqui a cinco anos, essas estradas estariam mais ou menos. Onde está o petróleo do asfalto? Desperdício e prejuízo marcham juntos enquanto não são solucionados os gargalos das péssimas estradas. Não dá para ser competitivo no comércio exterior, assim. E no País, como baratear os produtos comestíveis básicos se os problemas são as rodovias? Quanto mais falamos dos males desse coringa chamado petróleo, mais dele precisamos. Somos da geração plástico, petróleo, gasolina... Achamos que esse pretinho malcheiroso vindo do ventre da terra, não se vai esgotar cedo como está previsto. E se nós somos mesmo dessa geração, por muitos anos ainda, vamos continuar cheirando PETRÓLEO.


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domingo, 11 de julho de 2010

MONOTONIA

MONOTONIA
(Clerisvaldo B. Chagas. 12.7.2010)
O domingo amanheceu preguiçoso em Maceió. De repente cai uma chuva com aspecto de inverno que vai embora assim como chegou. Surge um sol fraco, tímido, mortiço. Os automóveis passam devagar, vão descendo, subindo, serpenteando a Via – Expressa em dolência domingueira. Com as praias poluídas, a capital alagoana vai virando interior sem opções de lazer. Comércio fechado, ruas completamente desertas. As tardes metem medo naquelas vias sem um guarda, um policial, sem ninguém. Os que pretendem gastar dinheiro e vê outros semelhantes vão aos shoppings, ao barzinho costumeiro, à caminhada na orla. E as cabeças nos apartamentos vão riscando o céu que não se decide. Sobe o cheiro de churrasco que se expande pelo ar. Cruzando a rua aquele homem tão forte, meu Deus, puxando a coleira de um cachorrito tipo totó. Que contraste risível! Lembro imediatamente de Severino Pinto, o rei dos repentistas nordestinos. O paraibano cantava com um parceiro no antigo estado da Guanabara a convite do governador. O companheiro atacava o estado do adversário e defendia a Guanabara. Em uma das estrofes, após arrasar com a Paraíba de Pinto, encerra o verso dizendo:

“E de bom na Paraíba
Só a Rádio Tabajara”

O grande mestre Severino Pinto pegou a deixa e acabou com o parceiro numa sextilha criativa e de rimas difíceis, primeiro time das mais belas:

“O que eu vi na Guanabara
Foi negro morando em morro
Carro atropelando gente
Enchendo o pronto socorro
Ladrão batendo carteira
Mulher puxando cachorro”

Depois do Globo Rural, mais nada. Qual o interesse que o brasileiro tem mais nas corridas bestas da Fórmula 1? Massa, até logo. Barrichello, na insistência perene de bobo da corte. Está certo ele. Se não tem censo de ridículo, continue motivo de piadas. Resta o último jogo da Copa encerrar o dia. Mas não é a mesma coisa. Esperemos, então, pela noite. Quem tem muita paciência pode praticá-la ainda mais com o Faustão. E o Fantástico vem em seguida, para repetir por duas horas tudo que já foi dito no decorrer da semana, sobre o caso Bruno. O restante fica para o comentário da África do Sul. Vai continuar ligado? Sabe de uma coisa, irmão! É colocar o carro na estrada, almoçar um bagre no Pilar, engatar um retorno a Maceió e estender-se numa rede cearense. Dormir meu amigo, imitar os inventores índios desse formidável balanço. O domingo não foi feito para descansar mesmo! O pior é que até no descanso ronda o tédio. Mesmo assim ainda está faltando alguma coisa. Aí eu me lembro de Santana do Ipanema, das músicas do “Juca Alfaiate”, do “Barbosinha”, do violão de “Sebastião Sapateiro”. Tenho certeza de que eles acabariam com esse domingo de MONOTONIA.




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