quinta-feira, 22 de julho de 2010

MELANCOLIA

MELANCOLIA
(Clerisvaldo B. Chagas. 23.7.2010)
Literatura

O mês de julho é matador. Mês de julho é quem maltrata. Mês de julho não perdoa poetas, amantes, apaixonados. O mês mete medo. Ele traz a frieza insistente dos dias nevoentos. E eu vou espiando o lá fora pelas vidraças translúcidas de minha vida. O céu leitoso espelha a preguiça juliana. Pardais pelos muros, telhados, rede elétrica, lembram os dorsos negros das andorinhas ─ aves de caudas bífidas da torre da igreja, do poço dos Homens, ornamentos do destino. Meu hálito quente embaça o vidro companheiro. Decido-me pelo suicídio lento e deixo flutuar a voz do cantor:

(...) “Tarde fria,
Sinto frio na alma.
Só você, que não vem,
Me acalma...”

Os olhos se umedecem. Suspiro prolongado. Continua a música:

(...) “Vem o vento
E a tarde é fria,
Estou só
E minha alma vazia.”

Quero um cigarro. Um peste de um cigarro! Onde coloquei o maço? Ah, sim, não fumo. Não tem importância. Talvez um café pequeno resolva. Tanto o cigarro mata quanto o intérprete:

“Se o amor
É uma pérola clara
Se tem
O ardor de um rubi...”

(...) “Se o amor
Tem fulgor de brilhantes
Fiel como ouro de lei...”

Bate no velho peito uma tristeza profunda. O cafezinho nada resolve. Assalta-me novamente a vontade de ser fumante. O chefe dos pardais parece zombar de mim. Ficam vermelhos os olhos, a boca resseca, despertam-se as paixões. Rói o cérebro um dilúvio nelsiano:

“Outra noite que passei em claro
Só Deus sabe por quê
Outra noite de insônia e de cansaço
Outro pedaço da vida sem você...”

(...) ”Entre as paredes frias do meu quarto
Que outrora o seu amor vinha aquecer
A insônia conversa a noite toda
E não me deixa lembrar de te esquecer...”

Mês de julho é quem maltrata. Mês de julho é matador...
ME-LAN-CO-LI-A…

 Trechos de letras musicais apresentados: “Tarde Fria” e “A Pérola e o Rubi” (Cauby Peixoto); “Noite de Insônia” (Nelson Gonçalves).
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quarta-feira, 21 de julho de 2010

DESENROLANDO O CARRETEL

DESENROLANDO O CARRETEL
(Clerisvaldo B. Chagas. 22.7.2010)
Atrasaram muito o Brasil, duas coisas de peso: a dívida externa de juros absurdos e a corrupção que tomou conta do País. Durante décadas, o dinheiro de toda a arrecadação brasileira, dava somente para pagar juros externos e acumular riquezas aos corruptos. Há dez anos, mais ou menos, afirmávamos que a seriedade do Brasil levaria uns cinquenta para ser atingida em toda plenitude. De uns oito anos para frente, teve início à mudança com a coragem de atacar à corrupção, primordialmente a política. Dez anos desde que falamos já se passaram. Faltam quarenta. O que ninguém tinha visto ainda começou a acontecer: presos, desmascarados, desmoralizados os colarinhos brancos. Juízes, deputados, governadores, prefeitos, vereadores, vão sendo apresentados às multidões sedentas de justiça. A corrupção continua, mas não tão fácil como antes. Essa água de latrina, fétida, podre, imunda, há de passar. Quando um deputado estadual ganha oficialmente 12 mil e leva 250, é porque a água continua estagnada. Pelas cédulas úmidas do suor do povo, compreendem-se as brigas, assassinatos e a agitação indecorosa pelo Poder. Juízes safados, atolados até o pescoço na sujeira, ainda existem no País. Vão enlameando esposa, filhos e netos que se acostumam e fazem vista grossa ao ilícito que entra no lar pela porta da frente. “Ah, esses já receberam suas recompensas”. Mas os tempos passarão. Pais, avôs e bisavôs comprometidos não perdem por esperar.
Em se tratando direto de Economia, foi com imenso prazer que recebemos notícias da compra de aviões brasileiros pela Inglaterra. Não foi a África nem a América Central ─ que encomendaram centenas de ônibus do Brasil ─ foi mesmo a poderosa Inglaterra, através da companhia aérea britânica FLYBE. São 35 jatos E75, capacidade para 88 passageiros. Além disso, a companhia alinhavou mais 105 aeronaves. A transação envolve US$ bilhões. Para se fazer uma transação desse porte com uma nação emergente, é preciso bastante confiança. Vejamos como é importante a seriedade de um povo: antes comprávamos aviões aos ricos, hoje os desenvolvidos são nossos clientes. Esse é apenas um exemplo dos que diziam a inverdade nos anos de chumbo: “Ninguém segura esse Brasil”. Ao que os humoristas perseguidos retrucavam: “Como segurar se ele está todo melado de b...?” Mesmo assim, tem candidato à presidência que está demonstrando suas fraquezas, quando ataca instituições e países amigos, vizinhos, irmãos na mesma luta pelo fim da pobreza. Será que teremos um retrocesso em tudo que foi conquistado à duras penas?
Como sempre andamos pelos rastros alheios, chegou à hora de imprimirmos as nossas próprias pegadas. É assim que apesar dos maus brasileiros vamos impondo nosso ritmo ao mundo. E quem sabe se esses quarenta anos assinalados podem chegar logo após as Olimpíadas? Lembramos do humor da televisão: “Desenrola, carrité!” Com esse governo, sem puxa-saquismo nenhum, apesar de tantos problemas existentes, incredulidade apenas para os que não querem ver que estamos DESENROLANDO O CARRETEL.




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