terça-feira, 5 de julho de 2011

BESOURO QUENTE

BESOURO QUENTE
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de julho de 2011.

 Acompanhando a evolução comercial do município de Santana do Ipanema, Alagoas, a bandidagem não podia ficar indiferente. Se os diversos atos marginais estão na mídia e dão moral ao mundo do crime, por que ficar paradão no tempo e no espaço? Com essa mentalidade anti-heroica, elementos da periferia santanense, começaram a aparecer como os destemidos para a própria comunidade. Esses movimentos isolados em forma de ilhas tiveram como antecedentes algumas poucas “ovelhas negras”, com um comerciozinho de maconha aguardando à porta, a chegada relâmpago do usuário. A rapidez de mãos treinadas capta o dinheiro no leste e solta a folha seca pelo oeste na Geografia singular dos dedos. A contínua ação dessa atividade proscrita parece não incomodar muito à sociedade que jamais pensou na evolução que se seguiu. Despreparada, juntamente com a ineficácia estatal, a aglomeração humana vai apenas de mãos atadas, contemplando essas ações com o fermento eficiente do crescimento. As ilhas insignificantes viraram arquipélago em mar tenebroso de ressacas.
          Nessa cidade sertaneja ─ a mais importante do Médio, Alto Sertão e parte do Sertão do São Francisco ─ tinha como ilhas as localidades Lajeiro Grande, Rua das Pedrinhas, Lagoa do Junco, Artur Morais, Rua da Praia e Cajarana. O isolamento local, entretanto, deu origem a uma rede marginal que interliga a cidade no seu todo. Seus tentáculos ganham os campos com essa evolução do submundo. A droga mínima agora é a cachaça pura que diante da valentia das novas drogas, virou água. Com as disputas dos rapazes em questão, O Bairro Artur Morais, em pleno centro comercial, parece ter conseguido a liderança sobre os outros. Está sempre na mídia com seus tiroteios permanentes a qualquer hora do dia ou da noite. Perambular por ali agora, somente com boas pernas, daquelas que superam com facilidade as carreiras dos jogadores Lucas e Ramires.
        Semana passada, durante certa reunião social e política, um cidadão presente recebeu um telefonema. A reunião foi interrompida para facilitar as coisas em relação ao receptor. Ao desligar seu diálogo inesperado, o pacífico indivíduo falou com a tranquilidade de sempre: “Não era nada; apenas um novo tiroteio que estar havendo no Bairro Artur Morais. Também, faltando teatro, praça, cinema e futebol, os coitadinhos não têm como brincar. Toquem a reunião e deixemos os bichinhos divertirem-se trocando figurinhas com música de besouro quente”.
          Ê cabra velho! Vamos sim, prosseguir a reunião. São apenas balas cruzando os ares, insetos pelados desprovidos de membros emplumados, e seus divertidos roncos de BESOURO QUENTE.


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segunda-feira, 4 de julho de 2011

A ZEBRA DO HOMEM FEIO

A ZEBRA DO HOMEM FEIO
              Clerisvaldo B. Chagas, 05 de julho de 2011



Lembro que em minha época como pesquisador do IBGE, fomos a um treinamento em Maceió. No alojamento estavam reunidos colegas de várias cidades do interior. Histórias e piadas iam amenizando a dureza da hospedagem. No meio desses pesquisadores, havia um cabra bom danado, das bandas de Igreja Nova, alto como um coqueiro, feio igual à castanha e, brincalhão tal Costinha. No para-brisa traseiro do carro, havia um adesivo daquela zebra da televisão, dos jogos lotéricos. Entra conversa e sai conversa e o feioso revela que estava ameaçado de morte, porque um dos candidatos a prefeito da sua cidade havia perdido a eleição. Quando a rural surgiu com o adesivo da simpática zebrinha, o ex-candidato ficou brabo e iniciou com as suas ameaças. Mesmo assim o homem feio estava tranquilo a contar anedotas sem parar. Um sujeito da Viçosa, da boca escura, não parava os risos com as presepadas do castanha.  Quanto à política, era impressionante como um simples animalzinho pintado provocara tanta ira no coitado perdedor.
           As denominações de lugares nas cidades e nos campos puxam muito pelos vegetais. No caso dos humanos, os jogadores de futebol levam a preferência nos apelidos dos chamados bichos brutos. Alagoas mesmo tinha os jogadores Aranha e Catenga. No Flamengo antigo havia o Pavão, no Ipanema, Carneiro. Na seleção brasileira feminina temos a Formiga e, lá nos outros pedestais, surgem os famosos do momento que formam a dupla do terreiro da roça, o Pato e o Ganso. Para orientar os outros, sacaram de campo o Leão e a ele deram o comando do timaço. Além disso, ainda tem o time do Peixe, o do Urubu e a Seleção Canarinho que representa o nosso país na Libertadores. Com o reino animal em alta, poderíamos até dizer que temos uma seleção pai-d’égua. Vamos, então, sonhando como os viciados fazem às vésperas do jogo do bicho. Assim muita gente do ramo deve ter apostado no Cachorro no dia seguinte à partida Brasil e Venezuela, ante o profético passeio daquele Cão pelo gramado. Não sei se cachorro é da sorte ou do azar, mas os tradicionais falam que significa dinheiro para você, ao vê-lo defecando a sua frente. Nem sei também se o dinheiro que falam é real de verdade ou aquilo mesmo que o cachorro está depositando adiante, em linguagem figurada.
           Quando, nós brasileiros víamos a estreia da seleção, mesmo ressabiados, ainda havia um pouco de esperança nos animais Pato e Ganso. Sendo uma seleção, teria que voar por ser canarinho e, ser forte como um touro por ser brasileira. À medida que o tempo passava e a Venezuela fechava portas e janelas, diminuía em nós a esperança de um jogo de bicho envolvente, dono de todas as apostas da torcida para quebrar a banca; no mínimo, o jogo de Marta e da Formiga. No final de tudo, além da tristeza, volta a decepção sobre os bichos e banqueiro, ao deixarmos o estádio com cara de “maria”. Nem leão, nem “trigue”, nem “alufante”. Somente o cenho medonho, zangado, ameaçador de quem viu A ZEBRA DO HOMEM FEIO.

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