segunda-feira, 25 de julho de 2011

LAMPIÃO, ACHADO E MORTO

LAMPIÃO, ACHADO E MORTO
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de julho de 2011
Série cangaço Nº 02

 Não existe uma divisão concreta na vida e ações de Virgulino Ferreira da Silva. Entretanto, estudando sua trajetória, podemos localizá-lo de acordo com o ponto de vista do interessado. Baseado nisso, vamos, então, enquadrá-lo, grosso modo, em três períodos e os períodos em fases, apenas para situar o leigo, didaticamente, antes de penetrar no miolo das ações.
          Período primeiro:
         A – Fase de adolescência (região de morada, em Pernambuco);
         B – Fase de confusões e lutas com vizinhos e nazarenos (Pernambuco);
          C – Fase de trabalho em Alagoas.
          Período segundo:
         A – Fase entre trabalho e arruaças (Alagoas);
         B – Fase entre o trabalho e cabra do bando dos Porcino. Cangaceiro manso;
         C – Fase como cangaceiro profissional no bando de Sinhô Pereira.
          Período terceiro. (Chefe de bando):
         A – Fase em Pernambuco (com ações fronteiriças em Paraíba/Alagoas);
         B – Fase curta da Epopeia Mossoró. (Paraíba, Rio Grande e Ceará);
         C – Fase na Bahia;
         D – Fase Bahia/Sergipe;
         E – Fase Alagoas/Sergipe.
         Os seus antigos chefes, os Porcino e Sinhô Pereira, não tiveram a disposição nômade nem a energia necessária para acompanharem Lampião. Não possuíam espírito cigano, dando preferência as lutas em torno das regiões onde moravam (os Porcino no oeste de Alagoas, Água Branca/Mata Grande; Sinhô na região do Pajeú, Pernambuco). Virgulino já saiu do bando de Sinhô com o apelido que o engrandeceu, quando atirava com muita rapidez no escuro e o clarão do seu rifle foi comparado a um lampião. Virgulino deixou as vizinhanças do arruado Nazaré, pressionado pelos nazarenos que se tornaram seus maiores perseguidores e tinham nas veias o mesmo sangue. Gradativamente, com o gosto pelas andanças, foi atuando cada vez mais longe, chegando a percorrer e assombrar partes de sete estados nordestinos. Quase todos os estados não tinham estrutura de combate ao banditismo naquela forma, situação em que Ferreira ocupou esse imenso mundo de caatinga e por longo tempo se deu bem.
        A partir da organização do sistema de forças volantes, suas logísticas e aperfeiçoamento, Virgulino que reinava absoluto, começou a apertar-se, chegando o seu bando de mais de cem homens, a ser destroçado na volta de Mossoró e ficar reduzido a oito cangaceiros quando conseguiu escapar com vida e fugir para a Bahia. Após certo período de mansidão, voltou às atividades criminosas naquele estado. Com a reorganização das volantes, teve início o seu declínio. Foi ele quem introduziu o cangaço organizado na Bahia, Sergipe e Alagoas. Seus grandes perseguidores mais famosos foram os nazarenos (verdadeiros heróis) com os irmãos Flor e Manoel Neto; e Zé Rufino na Bahia. Virgulino desencarnou com mais 10 companheiros em Angicos, Sergipe, em 28 de julho de 1938. Lá na frente, Samateu, irmão de Sila, Mergulhão, Marinheiro e Novo Tempo, disse a um repórter: “Quando o governo quis achar Lampião, achou”. Falou certo: LAMPIÃO, ACHADO E MORTO. * Continua.

Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2011/07/lampiao-achado-e-morto.html

domingo, 24 de julho de 2011

LAMPIÃO, O DIABO E O BONZINHO

LAMPIÃO, O DIABO E O BONZINHO
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de julho de 2011
Série cangaço Nº 01

 O fenômeno cangaço que marcou definitivamente o Nordeste, não tem como não fazer parte da História do Brasil. Vários grupos de cangaceiros abalaram o social do semiárido, sucessiva ou paralelamente, mas o auge desse movimento nômade foi alcançado por Virgulino Ferreira da Silva que se tornou chefe de bando em 1922 e morreu em 1938. Não se pode entender Lampião apenas por pequenas informações. Talvez tenhamos mais de mil títulos sobre o assunto, somando livros, revistas, jornais, artigos, crônicas, ensaios, teses, cordel e outros informativos. Alguns, sem compromisso com nada, escritos apenas pela atração do assunto. Assim, o leitor que procura de verdade saber sobre Lampião, existem vários livros de autores sérios e até chamados de “cangaceirólogos”. São autores que se apaixonaram pelas histórias de Lampião. Alguns passaram mais de quarenta anos pesquisando, procurando sobreviventes do cangaço no Brasil inteiro. Escreveram e ainda escrevem baseados em depoimentos vivos e documentos os mais diversos como registros em delegacias, cartórios, jornais de época, relatórios de tropas, bilhetes guardados e outras fontes abalizadas. A situação chegou a ponto de haver atualmente organizações somente para tratar do assunto, encontros anuais, premiações e várias outras coisas que alimentam a alma dos apaixonados.
         Como em todas as coisas, há uma ciumeira danada mesmo entre os autores sérios, percebida por nós, os leitores comuns. A briga educada entre autores, sobre Lampião, é como pessoas disputando os últimos refugos de um garimpo. Quando um autor, por exemplo, diz que o cangaceiro fulano cortou a orelha direita de beltrano, existe uma vibração quando o outro autor descobre que não foi a orelha direita que foi cortada, mas sim a esquerda. Esses detalhes disputados depois que tudo já foi dito sobre Lampião, geraram essa concorrência (mesmo que se diga não) por maior fama, maior espaço no mundo do cangaço, embora bordada de humildade no vestido, mas cheia de volúpia na calcinha.
         Alguns autores sérios, não conseguem esconder a admiração por Virgulino, citando os fatos os mais próximos possíveis da realidade, porém, deixando escapar constantemente elogios ao chefe do bando, atribuindo a ele vários títulos de grandeza. Outros fazem o extremo. Mas, devido ao renome adquirido, qualquer criatura passa de bandido a herói e todos os seus absurdos são esquecidos em nome unicamente da fama. Escrever a respeito de criatura notória, passa a ser bom negócio para se ganhar dinheiro ou para aparecer também, levando o escrevente para o profissionalismo.  
        Para aquele que nutria amizade com Lampião, dele usufruía e nada sofreu da sua parte “o capitão era um homem bom, quase santo”. Quem teve pessoas da família estupradas por ele e mais 25 cabras de uma só vez, como na Paraíba; Quem já teve pai, irmão arrancado o couro, vivo; Quem soube quase presenciando a mãe estuprada durante uma noite inteira, amarrada à coxa de Lampião; Quem teve o pai, tio, avô, esquartejado vivo a facão e as bandas jogadas nas cercas de arame da caatinga; quem teve a mãe nua no meio de todos (sob gargalhadas geral) tendo sua vagina entupida por terra e socada a cabo de punhal (tudo registrada por pesquisadores sérios) só podem ter ido em vida ao inferno e visto as ações do próprio Satanás. Quer saber mesmo, leitor, quem foi Virgulino. Leia autores recomendados para poder tomar partido entre LAMPIÃO, O DIABO E O BONZINHO. (* continua).









Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2011/07/lampiao-o-diabo-e-o-bonzinho.html