quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

ROMANCE DO AMOR
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de fevereiro de 2012.

 Resolvemos brindar o leitor amigo, com alguns versos do II Congresso Nacional de Violeiros, ocorrido em Campina Grande, Paraíba, entre 22 a 24 de agosto de 1975. Na ocasião eu fazia parte da mesa julgadora. Cantava a dupla Clodomiro Paes, de João Pessoa e Francisco Joel (Cotinha) também de João Pessoa, quando foi sorteado o mote: “No encontro soberbo dos olhares, aparece o romance do amor”. Das oito estrofes improvisadas escolhemos quatro:

No olhar está realmente a atração
Com que chama a atenção desses viventes
Porque as pessoas atraentes
Dominam em verdade o coração
O olhar é verdade é a visão
De trazer tudo isto com valor
Realmente isto aí é um fator
Que conquista um desses exemplares
No encontro soberbo dos olhares
Se encontra o romance do amor


Igualmente uma índia apaixonada
Como foi a famosa Iracema
Que tomando do vinho da jurema
O guerreiro avistou de madrugada
Sendo isto na terra da jangada
Que o índio lhe dava mais valor
Ela disse “Eu sou a tua flor”
Lá na terra dos grandes verdes mares
No encontro soberbo dos olhares
Se encontra o romance do amor


Eu recordo Isabel uma princesa
Que um dia olhando pra Gastão
Ela teve no peito a sensação
Do seu gesto bonito com beleza
O amor lhe entrando de surpresa
Por um homem que foi superior
Ele disse: “serei o teu valor
De uma vez se nunca desprezares”
No encontro soberbo dos olhares
Se encontra o romance do amor

Numa reflexão do meu passado
Não sei se merece esse decoro
Mas tenho que lembrar certo namoro
De uma deusa que viveu sempre ao meu lado
Ao primeiro encontro está provado
Que senti o perfume e o sabor
Foi dizendo: “se queres meu calor
Está na sujeição de mais me amares”
No encontro soberbo dos olhares
Se encontra o romance do amor.



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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

CAMONGE APRENDENDO

CAMONGE APRENDENDO
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de fevereiro de 2012.

         Gosto de conversar com indivíduos inteligentes e também com pessoas humildes, gente do povo. Nessa escola da vida, vale muito o enxergar que é diferente do ver. Assim, aprendemos proveitosas lições fortemente úteis para todos os momentos da existência, ditadas pelos simples. Quando falo em inteligentes, quero me referir, aos que muito estudaram e trazem na bagagem esse conhecimento. Tive a satisfação de receber uma visita que trazia as duas coisas juntas, humildade e conhecimento. Conversamos bastante sobre todos os campos, eu ouvindo muito mais do que falando. A visita descrevia as coisas e de vez em quando me fazia uma pergunta. Como sua queda é para o misticismo, ensinamentos religiosos dominavam a sua linguagem. Entramos no catolicismo, passamos pelos ensinamentos orientais, resvalamos na rosa-cruz e demos de frente com o kardecismo. Foi aí que entramos pela tenda dos milagres, pois a cidade de Santana do Ipanema, nas últimas semanas, tem soltado tantos foguetes que deve estar enricando os fogueteiros. O visitante, então, falou sobre o padre Cícero Romão Batista, afirmando que enviara quinze milagres a ele atribuídos, à comissão que estuda o assunto para elevá-lo à santidade.
          Duas situações diferentes foram me reveladas sobre o padre Bulhões e o padre Cirilo, ambos, párocos de Santana em época passada. Sobre o padre Bulhões, religioso que dominou à cidade por quase três décadas, o cidadão falou que o sacerdote estava enciumado com a ida do povo ao Juazeiro. Recebendo um devoto com essa intenção dissera: “Você deveria pagar sua promessa por aqui. O padre Cícero é um homem igual a mim”.  Mesmo assim o romeiro viajou e contou a Cícero à conversa com Bulhões. Romão apenas respondeu: “E foi? Diga a ele que vá cuidar da pingueira que está caindo na cabeça do Coração de Jesus”. Na volta, o romeiro foi à casa do padre Bulhões e  passou-lhe o recado. Bulhões levantou-se da poltrona, sem acreditar e foi olhar o quadro na parede. Estava ali a pingueira, exatamente sobre o cocuruto de Jesus. Acho que daquele dia em diante, o conceito deve ter mudado. Quanto ao cônego Luís Cirilo, segundo o visitante, também não costumava falar bem sobre Cícero Romão. Certo dia, ao fazer a barba, notou um nódulo no pescoço. Aperreou-se, foi ao Recife. Os médicos disseram que aquilo era uma questão de cirurgia e o risco grande. Cirilo fez uma promessa com o próprio padre Cícero Romão Batista, cujo agradecimento seria todo ano rezar missa em Juazeiro. No outro dia, ao passar a mão pelo pescoço, o nódulo havia desaparecido. O cônego cumpriu a promessa, todo o ano ia ao Juazeiro celebrar u’a missa.
          Sei não. O povo mistura Camões da Literatura portuguesa com tal “Camonge”, um sábio safado do imaginário que fazia suas loucas presepadas e teria morrido aprendendo mais uma lição antes do último suspiro. Um popular teria improvisado uma brasa a guisa de vela e, ele teria dito: “É Camonge morrendo, é Camonge aprendendo”.




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