terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

PENSAR EM DEUS

PENSAR EM DEUS
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de fevereiro de 2012.
          Perdem-se à distância os sons da folia na madrugada. Ganha espaço no tule da memória um romantismo secreto nos longos estertores da segunda. Surgem no céu da melancolia estrelas, Lua, nebulosas que acompanham o cantarolar do banheiro, o balançar da cadeira, um chorar esconso de violões. Derramam-se devaneios em idílios ilusórios de boca rósea, beijos apaixonantes e cândidos aconchegos. Voa sutiã jogado, cai à camisola seda, sufoca perfume-veneno, enigmáticos da hora. Mulher que pode ser (fantasia ou não) resíduos sutis de melancolia:

“Eu amanheço
Pensando em ti
Eu anoiteço
Pensando em ti
Eu não te esqueço
É dia e noite
Pensando em ti
Eu veja a vida
Através dos olhos teus
Me deixa ao menos
Por favor pensar em Deus (...)”

 “Todo poeta é sistemático, professor! O senhor também?” Queima-me a indagação do vate-repentista. O que é ser sistemático? A lágrima atrevida tenta romper trançados e corrompidos cílios. E a radiola, a eletrola, a “mataola” aperta a fonte sentimental do sonhador tocado. Um vozeirão inconfundível e inexistente decreta e elimina com dardo amoroso e manso:

“(...) Nos cigarros que eu fumo
Te vejo nas espirais
Nos livros que eu tento ler
Em cada página tu estás
Nas orações que eu faço
Eu falo no nome teu
Me deixa ao menos
Por favor pensar em Deus”.

Tisnam-se os horizontes da aurora. Morro ou vivo um pouco lembrando você. Melodias dão sobrevida à paixão não domada, ao roliço pescoço para beijos quentes. Voltam os violões, o acordeom, o perfume agreste dos seus cabelos. É um sensível procurando a vida e confessando o que antes deixou de ser confessado. “Alô, alô, vai para a deusa da blusa branca; assina, você já sabe”. Deixa-me ao menos, por favor, PENSAR EM DEUS.  



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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

FLORIANO E SILVÂNIA

FLORIANO E SILVÂNIA
Clerisvaldo B. Chagas,  20 de fevereiro de 2012.
Crônica Nº 722

          Quando morre pessoa conhecida nossa, ficamos desconcertados, pois, apesar da certeza, nunca estamos preparados para a passagem, nem a nossa nem a dos amigos e parentes. Quando a despedida é violenta, mais desconcertos ainda e, na tragédia dupla, ficamos, além de assustados, sem acreditar que o fato tenha mesmo acontecido. O caso de Floriano Salgueiro Silva, filho do industrial Domício Silva (compadre de meu pai, Manoel Chagas) e da professora Iracema Salgueiro, colega da minha mãe Helena Braga das Chagas, deixa a sociedade santanense perplexa e enlutada com a fatalidade da BR-316. Pessoa de nível social elevado, entretanto, Floriano levava uma vida simples, desde o nosso coleguismo nos bancos escolares do Ginásio Santana. Estava sempre contribuindo com inúmeras formas para o melhoramento do nosso município, mantendo um relacionamento pacato, decente e dinâmico em todas as esferas de Santana. Como gostava do tema “cangaço”, convidou-me por cerca de três vezes para à sua fazenda à margem do São Francisco para dali visitarmos a Grota de Angicos, onde se deu a hecatombe conhecida mundialmente. A ele, meses atrás, havia dedicado uma das minhas crônicas sobre o assunto.
         Silvânia Maria Lima Silva, sua esposa, ministrava suas aulas de Literatura na Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva. Mestra em fazer amizades, possuía energia positiva contagiante, sendo querida no trabalho ou em qualquer lugar aonde chegasse com o seu astral. Foi a nossa Vice-gestora durante uma campanha para a direção da Escola Estadual Mileno Ferreira. A tão amada pelos alunos, colegas e funcionários, Silvânia Maria, transferiu-se para outro plano ao lado daquele a quem amava, num fatídico sábado do Rei Momo, dia escolhido por Deus para uma conversa a sós com o ilustre casal para Santana do Ipanema e para ELE, o Pai que tudo sabe. E lá se vão uma nobre ex-colega e um amigo que ministravam exemplos de vida diariamente na “Rainha do Sertão”.
          Santana recebe golpe duplo no desfalque difícil do preenchimento em curto prazo. Ultimamente estávamos com a ideia de, justamente, com Floriano e outro ex-colega que atualmente vive em Maceió, promovermos um encontro com os que estudaram conosco no Ginásio, cerca de cinquenta, para um encontro de um dia em lugar aprazível do município. Difícil agora pensar no mesmo assunto novamente. Para Santana enlutada, ficou a saudade dorida e as ótimas lembranças de um casal encantador: FLORIANO E SILVÂNIA.


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