quarta-feira, 13 de junho de 2012

CADÊ O MILHO VERDE?


CADÊ O MILHO VERDE?
             Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2012.

No Sertão, área que abrange Santana do Ipanema, e mais alguns municípios, Santo Antônio ficou apenas dentro das igrejas, ao que parece. Acho que até o próprio santo deve ter ficado muito triste por aqui.  Vamos recebendo notícias de bastante chuva em Maceió, Arapiraca e mais alguns territórios da Mata e mesmo do Sertão, mas em Santana e vizinhança, a seca persiste deixando o campo tristonho e receptor apenas da frieza da noite que chega sem as chuvas. As nuvens se formam deixando o que o sertanejo chama de “bonito para chover”, porém, os olhos maus espantam as nuvens que são tangidas para outros lugares mais aquinhoados. Os animais vão tentando puxar a babugem trazida pelo sereno no engano visual da seca verde. Seja como for, seca verde, seca marrom, seca de fogo, deixam tristonhos os campos inconformados. E quando se anda pelas trilhas poeirentas do sertão, vamos notando certo vazio, como se o povo tivesse abandonado tudo. Vai ficando cada vez mais raro aquele tipo de convite que o citadino recebia para “comer uma galinha” na roça, “devorar uma buchada”, “passar o cacete num borrego”. Quando muito, um convite ainda tímido para se “tomar uma”, o que significa emborcar uma dose de cachaça limpa sem tira-gosto nenhum.
Na cidade, nada de grandes festas. Apenas alguns casais driblando a crise, pelos restaurantes ou barzinhos teimosos. Espocar de foguetes poucos e espaçados, algumas bombinhas chatas e sem forças, aqui ou acolá. Santo Antônio não veio para brincadeiras. A tradição da fogueira levou um golpe colossal, as quadrilhas sumiram e o milho nem sequer chegou por perto. Bolos de milho, canjica, pamonha e outros “venham cá”, ficaram ao longe, na lembrança dos bons invernos que movimentam a economia. Quem fez suas experiências para casamentos, fez escondido com tanto desânimo visto por essas bandas. Também logo cedo as ruas da cidade ficaram desertas num bocão de dormir cedo pela ausência de diversões e também do realzinho no bolso da bunda dos namorados. As escolas funcionaram a meio pau como bandeira de repartição. Alunos com uma ou duas aulas, lanches rápidos e pernas ligeiras para algum lugar menos esquisito.
Esse ano, nem o produto principal de junho, vindo da irrigação, salvou o abençoado forró. Quem pode se aproveitar sem ele, ainda bem que foi mordendo o pescoço alheio no chamado tudo pode, pois, se já podia, completa-se por ser data de Santo Antônio, santo cabra bom danado, um tanto por fora nesses 12 e 13. Beba se quiser, dance se puder, mas, por favor, amigo velho, não pergunte por aqui CADÊ O MILHO VERDE?

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terça-feira, 12 de junho de 2012

TUDO É ONÇA


TUDO É ONÇA
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de 2012.

No momento em que o nosso país vai sediar uma conferência ecológica, abre os seus trabalhos atropelando uma onça parda ou suçuarana em suas rodovias. Fica agora o maior felino brasileiro posando para a foto como astro da Internet e da imprensa em geral, com as patas traseiras a reboque. Apesar de ter feito um esforço extraordinário em favor do ambiente, muito ainda resta fazer para uma vida de qualidade, tanto para o homem quanto para os bichos. No Brasil, sabemos que se os defeitos de construções não forem feitos na hora, dificilmente ou quase nunca são consertados. Temos como exemplos os erros propositais dos engenheiros nas construções de estradas, deixando curvas perigosas unicamente para não desagradar o proprietário poderoso das terras com seus apadrinhamentos políticos. Esses aleijões de estradas que envergonham qualquer bom profissional do ramo são apelidados pelo povo de “curvas da morte”. Ali o perigo vai ceifando centenas de vítimas todos os anos entrando nas estatísticas sombrias porque os consertos como já foi dito, jamais acontecem. No caso onde a fauna ainda é bastante densa, raramente são construídos túneis simples de passagens de um lado a outro das rodovias. Os estudos esbarram no emperramento de sempre, fazendo com que motoristas matem dezenas e dezenas desses animais que transitam pelas imediações, muitos até em extinção como a onça mesmo, o tamanduá, a anta e outros de grande porte.
Quando se fala na proteção da flora, as ações são dirigidas primeiramente para a floresta amazônica ou floresta equatorial e só depois para mata atlântica ou floresta tropical, invadida em muitos lugares pelo plantio da cana-de-açúcar. Os capões de mato não conseguem com dignidade à vida animal. Corredores de mata de um capão a outro são formados em alguns lugares, mas ainda são poucos assinalando apenas a morte da fauna litorânea. Pior ainda ficam outros biomas brasileiros que permanecem esquecidos ou com ações apenas no intencional que não leva a nada. Assim a caatinga vai se extinguindo cada vez mais com a extração de lenha para fornos de carvão, padarias, cercas e outros tipos de uso, num crime corriqueiro, esquecido e perdoado. Muitos lugares do sertão nordestino só têm a oferecer insetos e nem sequer cobras e passarinhos.
É nessa situação de acertos e erros que o Brasil vai sediar esses importantíssimos debates com os países do mundo. A “onçona” está em tratamento. Grande bonita e gorda, arrastando as patas traseiras, representando a valentia dos sertões. E história de onça é o que mais existe no Brasil. Se não é pintada, a suçuarana serve, TUDO É ONÇA.

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