domingo, 5 de agosto de 2012

OS OSSOS DE LONDRES


OS OSSOS DE LONDRES
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de agosto de 2012.
Crônica Nº 835
Nem Marta salvou à Patria. (Fonte: smn). 
O entusiasmo dos brasileiros pelas Olimpíadas, nem tem razão de ser. A verdade é que não temos a tradição de jogos amadores contra os países que trabalham para isso, desde antes mesmo da II Grande Guerra. O Brasil nunca levou a sério o esporte amador e nem a Educação, como quer bons resultados milagrosos? Ficamos apenas em cima da exacerbada paixão pelo futebol profissional e que até hoje continua como antes. Caso o futebol masculino traga a medalha de ouro e todas as outras modalidades nada tragam, consideramos uma grande vitória dessa nação brasileira. Acontecendo o contrário, todas com o ouro menos o futebol, perdemos tudo. É assim que funciona por aqui essa monocultura cafeeira. O entusiasmo tem início com a chegada da delegação brasileira ao destino, depois a tristeza, seguida de mais quatro anos de desprezo ou de apatia do governo e das empresas particulares pelo esporte amador, que parece não existir. Como combater no Front com as inúmeras modalidades sem pai e mãe? Está aí, mesmo o futebol feminino que vai ficando vovó, sem renovação. Até a Marta já cansou e não tem substituta, enquanto o futebol feminino cresce no mundo com outros países.
Os frutos de um trabalho árduo aparecem em longo prazo. Nunca sai um diagnóstico oficial e confiável do que está acontecendo no amadorismo brasileiro. Quando se aproximam as olimpíadas, se junta o que tem se empurra a tropa misturada para a guerra e espera-se um misericordioso “seja o que Deus quiser”, ainda na ilusão tremenda de que o Pai é brasileiro.  Caso continue assim, ninguém aguarde melhora nenhuma nem mesmo em terras cabralinas. Eles virão banhar-se em nossas belas praias, degustar nossos petiscos, apreciar as nossas cores e levar os discos de ouro como sempre os levaram. Estamos vendo pela televisão a tristeza dos nossos atletas, sem patrocínios, que vão se encobrindo como podem com vergonha das derrotas diante de milhares de pessoas. Se quisermos parar com esse drama que bate forte no peito do Brasil, temos que mudar essa política no esporte amador para começar a colher os seus frutos na próxima década, de 20.  Sem saber como agir no momento, parece que só existe uma solução que é juntar os cacos das derrotas, colocá-los no saco do desânimo e voltar ao Brasil, enxugando as lágrimas.
O desenrolar das Olimpíadas vai deixando eufóricas nações como Estados Unidos, China e França que plantaram cedo e apenas colhem com dignidade os frutos merecidos. Fazer o quê, se somente trouxermos na bagagem OS OSSOS DE LONDRES!.




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quinta-feira, 2 de agosto de 2012


LAMPIÃO E O CHIQUEIRO VÉIO
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de agosto de 2012.
Crônica Nº 834
(Para Archimedes Marques e José Mendes Pereira)

Bornal à cangaceira.
Muito ainda se especula sobre a fortuna do bandido Virgolino Ferreira da Silva. É de fato impressionante o puxa-puxa dos que se dedicam à causa lampionesca, na tentativa adivinhatória documentada do paradeiro monetário virgoliniônico. O grande mistério e desencanto para os pesquisadores, é que uma pessoa muita maldosa cortou a língua do dinheiro. Com o bichinho mudo, ficou mais difícil saber qual era o real poder de fogo dos embornais microbianos do chefão. Quanto tinha de fato no papo-de-ema que Lampião conduzia na cintura? E nos bornais? E nos bolsos? Qual o valor em joias e dinheiro que havia nas mãos dos seus coiteiros-bancários de confiança? Caso fosse de fato descoberto cem por cento esse enigma, outra interrogação ocuparia com muito mais força o lugar da primeira. Uma pergunta, sem dúvida, desdobrada em miríades. Teria sido mesmo Bezerra, o sortudo ganhador do papo-de-ema, dos bornais e bolsos do comandante cangaceiro? E o tanto de joias que daria uma bacia de rosto, correu para onde? As inúmeras fazendas compradas por Ferreira escolheram quais herdeiros? Quem se denomina “pesquisador de cangaço” e outros títulos, corram para investigar e nos dizer com a certeza dos cartórios, pois o leitor exigente quer saber.
Em 1938 ─ quando as cabeças dos cabras trucidados em Angicos viajaram a Maceió ─ houve questionamento. Após a exposição em Palmeira dos Índios, cidadãos do núcleo, nas praças, barbearias, bares e portas de igrejas, indagavam uns aos outros, onde estaria a verba deixada por Virgolino. No bate e rebate das discussões, segundo o escritor Valdemar de Souza Lima, saltou um velhote da cadeira de barbeiro e falou. Disse que após a carreira de Mossoró, destroçado, via Pernambuco, Virgolino foi bater no povoado ribeirinho Entremontes, do São Francisco. Ali em Alagoas, com a pressa da passagem, arrumou uma canoa para atravessar o rio, ele e seu reduzido grupo. Numa bodega miserável apresentou-se, deixando sem fala momentaneamente a dona da espelunca. Pelo mutismo da mulher, ele mesmo escolheu a mercadoria e indagou a conta, feita por ela, que importou em cerca de trezentos mil réis. Lampião passou-lhe uma nota de quinhentos, a dona alegou que não tinha troco e mandou o bandido levar tudo como oferta da casa. O homem, estando tremendamente mal-humorado, rosnou que “não queria favor, não!”. A dona da bodega, com um medo triste, perguntou como ficaria, pois troco não tinha. Foi aí que Lampião, num gesto brusco da peste, empurrou a nota para cima da mulher e falou com orgulho, soberba e grosseria do mundo todo: “Pois fique com toda essa porcaria pra você, que eu tenho mais dinheiro de que bosta de cabra em chiqueiro véio!”.
Os entendidos calculem, então, com auxílio de um matemático, a quantidade de rolinhos pretos, como quixabas, em chiqueiro velho de caprinos, por metro quadrado. Talvez aí tenha início à solução do mistério de quanto era em contos de réis, a fortuna de Ferreira. Ê... Cabra macho sabido, medite aí sobre LAMPIÃO E O CHIQUEIRO VÉIO.

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