quarta-feira, 7 de novembro de 2012

UM ENJOO CULTURAL



UM ENJOO CULTURAL
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de novembro de 2012.
Crônica Nº 902

Não sei o que procuro, mas sei que procuro alguma coisa. Com certeza não são as obras de Ésquilo, não são os clássicos de Sófocles e nem as comédias de Aristófones. Nem mesmo Eurípedes eu quero, e suas famosas produções. Jogo tudo ali, ali só tem ouro que para mim não brilha. Vai Heródoto de Helicarnasso, vai Xenofonte, vai Tucídides. A cultura se agiganta e forma um monte... Um monte “A”, um monte “B”, um monte “C” da Geografia. Será que eu estou em busca de algum acidente geográfico; uma velha montanha da Grécia, do Brasil, da China, para me dá suporte nessa noite longa? Ou será mesmo um morro sertanejo do sertão de Canudos? A História Geral que fique longe de mim; as conversas fiadas dos líderes mundiais também aborrecem tanto quanto os desfiles das letras magras desses livros chatos. A noite prossegue silenciosa e triste sem Escolas Socrática, Pitagórica... Sofista. Sabe, meu amigo, um chute bem grande numa latinha talvez indicasse o que procuro. Mas ao invés da latinha surge uma xícara. Será que seu impacto na parede fará o mesmo efeito?
O telefone toca insistente. Quem será que se atreve a falar comigo nessa hora? Deve ser alguém dos presídios, para aplicar, ou outros espertalhões do Brasil. Hã! Adivinha! Um amigo que está bebendo em um dos bares da cidade e quer me contar a última da política da minha terra. Pede mil desculpas pela hora, a língua vai enrolando com seu assunto interessante para o dia e termina falando sozinho. Mas onde era que eu estava? Sabe, parece-me chegar àquela frase da Lei do Transito que diz: “Na dúvida, não ultrapasse”. Vou desligando o velho amigo computador, arrasto a cadeira e fico longo tempo espiando para a máquina. “Na dúvida não ultrapasse”. Passo água no rosto bebo um café pequeno e vou olhar pela última vez na noite, a posição da lua. De repente entendo o que está acontecendo. E se não chuto a latinha para acordar gatos e cachorros, dou pelo menos um bicudo na orelha dos filósofos. Levo o corpo para a cama e me transporto para os braços de Morfeu. Ainda bem que não tenho relógio cuco para me atanazar.
Quatro e meia da madrugada os pardais fazem folia pelos arredores, anunciando à luz. Abro os olhos com dificuldade e me pergunto se aquilo era sono de verdade ou apenas um reles ENJOO CULTURAL.

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terça-feira, 6 de novembro de 2012

CALANGO MATOU UM BOI



CALANGO MATOU UM BOI
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de novembro de 2012.
Crônica Nº 9001

Lá ia eu pelos aceiros da fazenda, puxando fio de ouro, tirando melãozinho das cercas, fazendo flautas de talos de abóboras. Lá ia eu caçando rolinhas, sentindo o cheiro do gado, descascando laranjas com as unhas. Lá ia eu vendo flutuando o brilhante algodão, caminhando pela poeira das estradas, camisa aberta ao peito, ritmando com os indicadores no peito:

“Calango matou um boi
Retaiou botou na teia
Lagartixa foi bulir
Calango largou-lhe a peia
Lagartixa foi dar parte
Calango foi pra cadeia...”

O pensamento fugaz desaparece, mas não pretende fugir do Sertão, mesmo no meio desse trânsito maluco da capital, do ruge-ruge urbano que não consegue esconder o romper de lembranças rurais.
E como apreciadores do inusitado, do incomum, vamos também registrando cenas de fotógrafos de artes. Pena ter deixado a máquina numa gaveta qualquer, pois o homem de barba longa está esperando alguma coisa na esquina. Ali, bem pertinho, sob um antigo poste de ferro de lampião de gás, o lixo amontoado estar sendo movido por um velho anão que jamais para o seu serviço. Usa um pau curto e, seu bigode parece rir do que faz. Adiante, somente a cabeça do moreno por trás do carrinho de mão, fazendo suas necessidades em plena avenida. Ao lado, no automóvel, uma madama se ajeita no espelho do carro como se não houvesse ninguém em seu redor. Um motorista grita a palavra “barbeira”, colocando a cabeça para fora do veículo. A mulher ofendida se volta e espeta o dedo maior de todos em direção ao gritador. Volto a pensar no sertãozinho de todos os dias, no sol quente de rachar do interior. Maceió diz arreda, que ninguém aguenta. Fico preocupado em escrever a crônica do dia seis e de repente desperto nos seus braços. Sei não camarada, deixe-me viver mais um pouco entre o sonho e a realidade. Droga!

“Calango matou um boi
Retaiou botou na teia
Lagartixa foi bulir
Calango largou-lhe a peia...

Ah! Pise fundo motorista, CALANGO ACABA DE MATAR UM BOI...




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