sexta-feira, 11 de abril de 2014

GOVERNO CASACA DE COURO



GOVERNO CASACA DE COURO
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de abril de 2014
Crônica Nº 1165

Refletindo sobre Alagoas, analfabetismo, violência e massacre salarial, terminamos nos deparando com duas vertentes que descem por lados opostos. Vejamos, individualmente, a indicação abaixo, de consolo à alma, autoria de André Luiz através do médium Chico Xavier:
“Se você acredita no valor da preguiça, olhe a água parada.
Seja qual seja o seu problema o seu problema, o trabalho será sempre a sua base de solução.
Não existe processo de angústia que não se desfaça ao toque do trabalho.
Diante de qualquer sofrimento, o trabalho é o nosso melhor caminho de libertação.
O segredo da paz íntima é agir um tanto mais além de nossas supostas possibilidades na construção do bem.
Não se aborreça se alguns companheiros lhe abandonaram a estrada, continue em seu próprio dever e o trabalho lhe trará outros.
O que você faz é aquilo que você tem.
A força está com a razão, mas a razão está do lado de quem trabalha.
Todos os medicamentos são valiosos na farmácia da vida, mas o trabalho é o remédio que oferece complemento a todos eles.
O sucesso quase sempre se forma com uma parte de ideal e noventa e nove partes de suor na ação que o realiza”.
Por outro lado, coletivamente, o servidor alagoano que segue a filosofia do trabalho, vai encontrando a insensibilidade governamental e se angustiando sem nenhuma expectativa de melhora. Salvo Justiça e Fazenda, elites que estão acima do bem e do mal, servidores públicos estaduais gemem sob a força tradicional do engenho. Ao olhar para o confuso Palmares, surge o ninho sertanejo do pássaro chamado casaca de couro:
Seu ninho é feito de gravetos e espinhos, mas também inclui outros materiais de origem domestica, como plásticos, embalagens vazias de creme-dental, pedaços de lata, etc. O ninho tem a forma de forno, comum a família, e é composto por um túnel de entrada, este túnel tem tamanho variando entre 30 e 50 cm, e a câmara oológica ao final, com altura variando entre 11 e 15 cm, Esta câmara tem sua base forrada por pequenos gravetos, cascas e fibras vegetais. Externamente estes ninhos têm, em media, 1m de comprimento por 60 cm de altura. Os ovos são de cor branca”.
Quem canta com mestria à casaca de couro do sertão é Jackson do Pandeiro, coisa que bem poderia ser adaptada para a situação de engenho vivida em Alagoas:

“Em riba do pé de turco
Tem um ninho de graveto
Tem garrancho de jurema
Tem pau branco, tem pau preto
Tem lenha que dá pra facho
Tem vara que dá espeto”.




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quarta-feira, 9 de abril de 2014

PANEMA CHEIO, DÁDIVA CELESTE




PANEMA CHEIO, DÁDIVA CELESTE
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de abril de 2014.
Crônica Nº 1164

INÍCIO DE CHEIA NO RIO IPANEMA. Foto: Sérgio Campos.
O regougar dos trovões na madrugada da última terça, trouxe constrangimentos e esperanças. Todo mundo tem medo do trovão assustador que traz consigo os perigos de raios matadores. As pessoas se metem debaixo da cama e os cachorros da rua, sabiamente, disparam para casa. E lá vai o ritual do povo esclarecido, desligando tomadas e se afastando de metais. A energia vai embora e volta várias vezes deixando assanhado o repouso noturno. João corre atrás da caixa de fósforos e Maria procura as velas no escuro. O calor abafado clama pelo ar refrigerado e, a muriçoca vinga-se das investidas humanas, atacando no breu. O sertanejo passa uma noite mal dormida e apela para o antigo abano de palha do tempo da vovó. Lá fora os sucessivos clarões no céu, mostram, entretanto, que as chuvas não estão muito perto, pelo menos em Santana do Ipanema que tanto precisa de boa chuvarada. A noite tortuosa finalmente vai embora e somente a “rebarba” do aguaceiro chega por aqui. Uma frustração. Mas as notícias aos poucos vão chegando de municípios vizinhos que receberam as cargas d´água em toda plenitude.
Ontem correu o boato de cheia no rio Ipanema com águas vindas de Pernambuco. Há muitos anos o rio sertanejo temporário não vem com uma grande massa d’água. De fato as águas barrentas foram chegando e tomando a largura da barragem, correndo pelas sete bocas da ponte firmada na BR-316, dentro da cidade, porém, não foi a cheia aguardada de tempos passados. A profecia do sertão diz claramente que quando o Panema bota cheia nessa época o inverno é bom. Pelo menos essa esperança permanece no coração do homem do campo que espera o final de mais um ciclo de seca em Alagoas.
O pessoal da Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA esteve no Panema à jusante da barragem, enfrentando a fedentina insuportável do matadouro, filmando e fotografando a pequena cheia.
Todos os habitantes do sertão sabem como as chuvas são importantes para a lavoura, para o criatório, e o tema é uma constante da tradição interiorana. Fora o vaticínio das cheias do Ipanema para ser ano de bom inverno, também existem várias outras experiências que o povo sem rádio, sem televisão, sem Internet, aprendeu e ainda hoje repassa para a juventude sequiosa de conhecimentos. Com muita ou com pouca água é assim: PANEMA CHEIO, DÁDIVA CELESTE.


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