quarta-feira, 9 de abril de 2014

PANEMA CHEIO, DÁDIVA CELESTE




PANEMA CHEIO, DÁDIVA CELESTE
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de abril de 2014.
Crônica Nº 1164

INÍCIO DE CHEIA NO RIO IPANEMA. Foto: Sérgio Campos.
O regougar dos trovões na madrugada da última terça, trouxe constrangimentos e esperanças. Todo mundo tem medo do trovão assustador que traz consigo os perigos de raios matadores. As pessoas se metem debaixo da cama e os cachorros da rua, sabiamente, disparam para casa. E lá vai o ritual do povo esclarecido, desligando tomadas e se afastando de metais. A energia vai embora e volta várias vezes deixando assanhado o repouso noturno. João corre atrás da caixa de fósforos e Maria procura as velas no escuro. O calor abafado clama pelo ar refrigerado e, a muriçoca vinga-se das investidas humanas, atacando no breu. O sertanejo passa uma noite mal dormida e apela para o antigo abano de palha do tempo da vovó. Lá fora os sucessivos clarões no céu, mostram, entretanto, que as chuvas não estão muito perto, pelo menos em Santana do Ipanema que tanto precisa de boa chuvarada. A noite tortuosa finalmente vai embora e somente a “rebarba” do aguaceiro chega por aqui. Uma frustração. Mas as notícias aos poucos vão chegando de municípios vizinhos que receberam as cargas d´água em toda plenitude.
Ontem correu o boato de cheia no rio Ipanema com águas vindas de Pernambuco. Há muitos anos o rio sertanejo temporário não vem com uma grande massa d’água. De fato as águas barrentas foram chegando e tomando a largura da barragem, correndo pelas sete bocas da ponte firmada na BR-316, dentro da cidade, porém, não foi a cheia aguardada de tempos passados. A profecia do sertão diz claramente que quando o Panema bota cheia nessa época o inverno é bom. Pelo menos essa esperança permanece no coração do homem do campo que espera o final de mais um ciclo de seca em Alagoas.
O pessoal da Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA esteve no Panema à jusante da barragem, enfrentando a fedentina insuportável do matadouro, filmando e fotografando a pequena cheia.
Todos os habitantes do sertão sabem como as chuvas são importantes para a lavoura, para o criatório, e o tema é uma constante da tradição interiorana. Fora o vaticínio das cheias do Ipanema para ser ano de bom inverno, também existem várias outras experiências que o povo sem rádio, sem televisão, sem Internet, aprendeu e ainda hoje repassa para a juventude sequiosa de conhecimentos. Com muita ou com pouca água é assim: PANEMA CHEIO, DÁDIVA CELESTE.


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2 comentários:

  1. Será que esta pequena cheia vai dar para lavar o leito poluído do nosso Ipanema?
    Ivan Braga(caju)

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  2. Mesmo distante o meu coração festeja com a notícia de que o meu sofrido torrão sente passar sobre suas costas o líquido precioso; mesmo esporádicas, as águas do Rio Ipanema. Faz-me recordar os tempos de antanho quando me "lambuzava" em suas poucas águas. Agora. E agora?! Agora só me resta aquela saudade.

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