domingo, 8 de março de 2015

ELES NOS TOMAM TUDO



ELES NOS TOMAM TUDO
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de março de 2015
Crônica Nº 1.382

Foto: (blogloyola)
Numa rua sem calçamento, poeirenta ou enlameada, onde automóvel era raridade, brincávamos de ximbra, pinhão e bola. Pegar bigu em carro de boi fazia parte da via animada, repleta de meninos, da Cadeia Velha à Rua de São Pedro. Uma espiadinha na fábrica de colchão de junco de Júlio Pisunha ou uma presença anual no pau de sebo ajudavam na criação da meninada.
Quanta falta de benefícios para ruas e bairros da minha terra! Quanta falta de oferta do poder público às crianças que ornavam os caminhos de Santana!
Certa feita, o prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, resolveu caçar os meninos brincalhões das ruas. Os mesmos meninos que não tinham parques, praças, quadras, jardins, campo e nenhum espaço público de lazer. E lá vem o senhor Aloísio Firmo, travestido de juiz de menor, unha e carne com o prefeito (já abordamos esse assunto) montado numa burra, seguido pelo soldado Genésio, rua acima, rua abaixo dando carreira em garotos para lhes tomar ximbras, bolas e pinhões.
Menino da minha cidade preferia ver o cão ao senhor Aloísio Firmo e ao soldado Genésio, dois homens de bem, mas abusados do chapéu à burra, do quepe ao coturno.

Nos tempos de hoje não podemos mais confiar nos três poderes que formam o nosso país. Os escândalos se sucedem desde que o combate à corrupção foi iniciado com a primeira vitória: a prisão de um juiz, coisa nunca visto antes. Como a corrupção se estabeleceu de mala e cadeado, as avalanchas de escândalos vão se multiplicando. Ladrões e ladrões sem conta vão roubando o dinheiro público, diretamente dos poderes ou indiretamente nos hospitais, escolas, construções civis e muito mais. Vão sucateando o estado brasileiro e fazendo da gatunagem coisa rotineira como se tivessem (e têm) a maior autoridade e direito de assim proceder. Muitos estão agindo como traficantes de drogas que não têm mais medo de nada e não respeitam a ninguém.
No Japão, o descoberto, se suicida de vergonha. No Brasil o surpreendido debocha do denunciante. Não bastassem os casos lava-jato, Petrobrás, guabirus, taturanas e tantos outros, o jornal Extra de Alagoas empurra mais pedras ladeira abaixo sobre o Judiciário com figuras bastante conhecidas nesse estado pequeno, fora o caso fantasma da Assembleia.
60 anos depois de tomarem nossas ximbras, bolas e pinhões, tomam nosso dinheiro, chafurdam-se na lama e arrastam o país para o caminho da crise, da bancarrota e das armas. 
NÃO PERCAM QUINTA E SEXTA-FEIRA, "POLÍTICA SANTANENSE, O QUE SE FALA NAS RUAS PARA A PRÓXIMA ELEIÇÃO".


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quinta-feira, 5 de março de 2015

CABOCLO VELHO NO CONGRESSO



            CABOCLO VELHO NO CONGRESSO
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de março de 2015
Crônica Nº 1.381

Guilhotina. Foto (Wikipédia).
O senhor Marinho Rodrigues, possuía armazém de secos e molhados, em Santana do Ipanema. Negociava no chamado prédio do meio da rua. Homem muito correto viera morar na cidade, depois de uma investida cangaceira em sua residência na zona rural. Foi o pai do primeiro médico formado por Santana, Clodolfo Rodrigues de Melo, a quem o grande hospital homenageia em seu título.
Seu Marinho despachava no balcão; passava troco, sempre reparando se havia alguma nota colada à outra, pelo tato e através da luz diurna, erguendo a nota, perscrutando-a.
José Malta, outro decente cidadão e contador de casos, boêmio nas horas vagas, comprou uma carteira de cigarros no armazém. Seu Marinho, que tinha o agradável hábito de tratar os homens como “caboclo velho”, falou: “Está aqui o seu troco, caboclo velho”. José Malta pegou algumas notas e, sem contar, coloco-as no bolso e saiu abrindo a carteira de cigarros. Lá adiante, porém, lembrou-se de contá-las: “Eita! Seu Marinho me deu dinheiro a mais, vou devolver o que passou”.
Ao retornar ao armazém, foi dizendo ao comerciante que o troco estava errado. Seu Marinho adiantou-se, não deixando o cliente continuar a conversa, afirmando com ênfase: “Aqui não se erra troco, caboclo velho”. Zé Malta rebateu: “Está certo, seu Marinho, muito obrigado”, e embolsou o que passava. Fato contado pelo próprio José Malta, aos seus amigos.

Lembrei-me da passagem acima, ao constatar que no Congresso, apesar da alta temperatura explosiva que se desenha, todos parecem ter conhecido Seu Marinho. No momento em que está para ser revelada a relação dos “santos”, alguns já perderam as estribeiras, exibindo o nervosismo da tacada no cocuruto que vem por aí rachando em baixo, a sola do sapato.
Lembra, compadre, aquele comediante que batia no bumbo e dizia: “É bonito isso!”?
Antes mesmo da explosão, tem muitos nobres se dizendo inocente.
Não afirmam a população que fizeram como Zé Malta, mas também asseguram que ali não se passa troco errado.
Enquanto isso, vem chegando a guilhotina, CABOCLO VELHO.



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