domingo, 16 de agosto de 2015

FAZENDO SABÃO



FAZENDO SABÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de agosto de 2015
Crônica Nº 1.473

Imagem (Wikipédia).
Em Santana do Ipanema, Alagoas, a primeira rua da cidade, após a formação do quadro comercial, foi apelidada: Rua do Sebo. A denominação antiga sugeria uma fábrica de sabão, cuja matéria-prima teria sido o sebo de boi que ficava exposto por ali.
Entretanto, uma expressão chula vogava na metade do século passado. Falava-se em “fazer sabão”, no sentido de xumbregar, namorar no escuro, apalpar as partes íntimas. Da mesma maneira, falava-se da “peniqueira”, também nome deseducado, de baixo calão, ao se referir à empregada doméstica. O termo vem desde os tempos de Dom João VI no Brasil. De fato, referia-se às domésticas encarregadas de levar e jogar os penicos cheios, da realeza, nos monturos. Ainda na metade do século passado, essa função amplamente existia, pois, muitas residências, nem fossas possuíam. Tudo era jogado no monturo, no amplo quintal da casa repleto de mato de todos os tipos. A peniqueira também funcionava como uma espécie de prostituta doméstica, conquistada pelos patrões, filhos dos patrões e rapazes da rua. Diferente das prostitutas, dificilmente cobrava pela safadeza.

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Fábricas continuam sendo atraídas pelo governo estadual. Elas vão ficando pelo litoral na dobradinha: Maceió, Marechal Deodoro ou Murici e Arapiraca: cimento, material elétrico, plástico, azulejos, biscoitos e várias outras, ainda. Ao sertão são entregues bodes, cabras, semente e risos. Interessante, não existe determinação para desenvolver o semiárido, nem de cima, nem dos “coronéis” da própria terra que insistem em manter o povo analfabeto, para não perderem a força do cabresto.
Até o leite de cabra que poderia abastecer os hospitais para pacientes sensíveis, vai ser transformado em sabão. Está aí o grande progresso conformista dos coronéis. Uma Sucupira novelesca digna de uma caprichada sertaneja. O sertão abandonado pelos próprios gestores só presta pra fazer sabão. Que coisa, meu Deus!



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terça-feira, 11 de agosto de 2015

RABO DE CAVALO




Por motivo de viagem adiantamos três crônicas: Nosso Dendê, comendo rapadura, rabo de cavalo. Ficam também armazenadas ao lado: Veja ali: O nosso dendê


RABO DE CAVALO
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de agosto de 2015
Crônica Nº 1.472

Foto: (Divulgação)
Relembrando a sede implacável pelo poder, dos parlamentares, foi intensa a movimentação em época passadas, visando à criação de novos municípios. Meros povoados sem condições nenhuma, além do umbigo, alvoroçaram-se com a possibilidade real de emancipação. Época de governo e leis fracas, parlamentares tornaram-se reis da noite para o dia. Visando os votos daqueles habitantes e a cadeira de prefeito para si ou para seus paus-mandados, projetos e mais projetos municipalizaram territórios.
Com esse modismo desencadeado intensamente, surgiram de fatos alguns municípios novos que adquiriram certo progresso. Muitos, entretanto, malgrado verbas estaduais e federais injetadas nas veias novas, ainda hoje não tem o que mostrar à sociedade, salvo o abandono, a pobreza e o encolhimento. Junto a eles, inúmeras sedes de antigos municípios, acompanham o que se chama oficialmente de decadência. Citar nomes desses municípios é perda de tempo e modo de humilhação.
Estagnados como poças d’água em rios temporários, ficam os cidadãos vivendo como o início do século XX, onde o tempo só passa na televisão. Em vários desses municípios, Brasil e Nordeste afora, a única coisa que cresce é a casa do prefeito, sede do feudo moderno onde, projeto e curso feito pelos funcionários, são empregados em suas fazendas. Recentemente, um munícipe revoltado e esclarecido nos falava disso, coisa que acontece no município onde nasceu. Para se construir uma estrada até um povoado próximo, o gestor alega que jamais, pois o povoado poderia se transformar em local de prostituição.
É assim com essa mentalidade medieval e podre, que centenas de municípios são dirigidos, onde os olhos do governo não conseguem chegar.
Ainda no final desta semana estarei, com certeza pesquisando em um desses feudos, em Alagoas. É preciso ter muita fé para se dizer que Deus não abandona o seu povo. Povo esse que só possui o único modo de crescer com a direção desses infelizes: para baixo, igual a rabo de cavalo.




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