FAZENDO
SABÃO
Clerisvaldo B.
Chagas, 17 de agosto de 2015
Crônica Nº 1.473
Imagem (Wikipédia). |
Em Santana do
Ipanema, Alagoas, a primeira rua da cidade, após a formação do quadro
comercial, foi apelidada: Rua do Sebo. A denominação antiga sugeria uma fábrica
de sabão, cuja matéria-prima teria sido o sebo de boi que ficava exposto por
ali.
Entretanto, uma
expressão chula vogava na metade do século passado. Falava-se em “fazer sabão”,
no sentido de xumbregar, namorar no escuro, apalpar as partes íntimas. Da mesma
maneira, falava-se da “peniqueira”, também nome deseducado, de baixo calão, ao
se referir à empregada doméstica. O termo vem desde os tempos de Dom João VI no
Brasil. De fato, referia-se às domésticas encarregadas de levar e jogar os
penicos cheios, da realeza, nos monturos. Ainda na metade do século passado,
essa função amplamente existia, pois, muitas residências, nem fossas
possuíam. Tudo era jogado no monturo, no amplo quintal da casa repleto de mato
de todos os tipos. A peniqueira também funcionava como uma espécie de prostituta
doméstica, conquistada pelos patrões, filhos dos patrões e rapazes da rua.
Diferente das prostitutas, dificilmente cobrava pela safadeza.
xxx
Fábricas continuam
sendo atraídas pelo governo estadual. Elas vão ficando pelo litoral na
dobradinha: Maceió, Marechal Deodoro ou Murici e Arapiraca: cimento, material
elétrico, plástico, azulejos, biscoitos e várias outras, ainda. Ao sertão são
entregues bodes, cabras, semente e risos. Interessante, não existe determinação
para desenvolver o semiárido, nem de cima, nem dos “coronéis” da própria terra
que insistem em manter o povo analfabeto, para não perderem a força do
cabresto.
Até o leite de cabra
que poderia abastecer os hospitais para pacientes sensíveis, vai ser
transformado em sabão. Está aí o grande progresso conformista dos coronéis. Uma
Sucupira novelesca digna de uma caprichada sertaneja. O sertão abandonado pelos
próprios gestores só presta pra fazer sabão. Que coisa, meu Deus!
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