terça-feira, 18 de agosto de 2015

TEMA DO CANTADOR




TEMA DO CANTADOR
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de agosto de 2015
Crônica Nº 1.475
(Para João Nepomuceno, Fábio Campos, Marcello Fausto e Ferreirinha).
AMANHECER NA SERRA DO ORORUBÁ. (Livro: Ipanem, um rio macho).
















Deixei tudo tudinho pra morrer
Num lugar sem cores sem poesia

Meu velho sertão robustecido
Os odores profundos dos frutais
Peixeira alongada nos bornais
Um cachorro vermelho e atrevido
O touro da fazenda enraivecido
Os beijos da moça que eu queria
O cochilo na rede ao meio-dia
Ou a barra do sol que vai nascer
Deixei tudo tudinho pra morrer
Num lugar sem cores sem poesia.

A torre da capela na tardinha
O gado deixando os seus currais
Bem-te-vi engrossando os madrigais
Os odores gostosos da cozinha
Uma arma de fogo que eu tinha
O café, o cuscuz que mãe fazia
A estrela que era a minha guia
Nunca mais pude vê-la renascer
Deixei tudo tudinho pra morrer
Num lugar sem cores sem poesia

Onde está meu cavalo das ribeiras
Minha sela de prata, meus arreios
Tempos invernosos, rios cheios
Garranchos das brutas quixabeiras
As balas que deixei nas cartucheiras
O quadro na parede, de Maria
O aboio que eu mesmo produzia
Quando à vida de gado pude ter
Deixei tudo, tudinho pra morrer
Num lugar sem cores sem poesia

Perdi o forró de pé de serra
A corrida de pega com a ema
O perfume mais doce da jurema
O mel de fabrico papa-terra
Deixei o sossego pela guerra
Nada é como quis e pretendia
Se lá fora a estrela reluzia
Aqui dentro não posso perceber
Deixei tudo, tudinho pra morrer
Num lugar sem cores sem poesia.









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